Introdução
A assistência ao trabalho de parto (TP) e ao parto, atualmente institucionalizada e conduzida por profissionais de obstetrícia, segue diretrizes e protocolos que visam assegurar uma assistência segura, humanizada e livre de danos ao binômio mãe-bebê. No entanto, ao longo dos anos, a autonomia da mulher e sua participação ativa no parto têm sido reduzidas, com menos liberdade de escolha sobre seu corpo e o processo de parto. 1
O acesso a uma assistência humanizada e a um parto seguro pode não estar disponível para todas as gestantes, sendo influenciado por fatores socioculturais, econômicos ou por serviços que priorizam institucionalmente a cesariana. 2 Em 2019, a taxa de cesáreas no Brasil atingiu 56 % dos nascimentos. No setor privado de saúde, esse número chegou a 88 %.3 Embora existam indicações clínicas e obstétricas, o número de cesáreas é desproporcional tanto no sistema público quanto, especialmente, no privado, incluindo o agendamento de cesáreas a pedido da gestante. 3
Nas últimas três décadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem proposto estratégias que são consideradas boas práticas para a atenção ao parto e nascimento. Essas estratégias buscam reduzir intervenções desnecessárias e aumentar a participação da mulher no processo. 4 Um exemplo é o plano de parto, um documento legal e incentivado pela OMS, no qual a gestante expressa suas preferências e expectativas para os cuidados durante o TP e o parto, como a escolha por métodos não farmacológicos, liberdade de movimento, preferências por certas posições e o desejo de ser informada previamente sobre procedimentos e intervenções invasivas, entre outros. (5
A educação contínua dos profissionais de saúde é essencial para garantir a implementação dessas boas práticas, incluindo a inserção de estratégias não farmacológicas que promovam maior participação das gestantes. Estratégias como exercícios de mobilidade pélvica e práticas integrativas em obstetrícia podem influenciar positivamente os desfechos do parto e aumentar a satisfação das mulheres. 6,7
Os profissionais que acompanham as gestantes durante o pré-natal são responsáveis pela preparação para o parto, podendo sugerir exercícios para a articulação da região pélvica, como deambulação, agachamentos, dança, exercícios de avanço e afundo, além de atividades com bola suíça ou bola feijão, exercícios para fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico e massagem perineal.8,9 Alguns estudos indicam que esses exercícios aumentam a tolerância à dor durante o TP, melhoram a dinâmica do parto e otimizam as contrações, dilatação cervical e descida do bebê, resultando em menor tempo de TP. 9
Entre os exercícios aplicados durante o TP, está o método Spinning Babies®, que inclui técnicas como a inversão inclinada para frente, para alongamento dos ligamentos uterinos, e a liberação deitada de lado, que relaxa o assoalho pélvico e alivia a dor. 10 Essas práticas já fazem parte da rotina de alguns serviços de obstetrícia e têm como objetivo facilitar a rotação e a descida do bebê na pelve materna sem necessidade de manipulação direta, promovendo uma evolução mais tranquila do TP e maior participação da gestante. No entanto, há pouca evidência na literatura sobre a eficácia e a efetividade dessas técnicas.10,11
Uma busca preliminar realizada em junho de 2023, nas bases de dados Cochrane Library, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed) e na plataforma Open Science Framework (OSF), não encontrou revisões sistemáticas ou de escopo que abordassem esses exercícios e posicionamentos no TP. Considerando a necessidade de preencher essa lacuna e analisar os estudos existentes, a presente revisão tem como objetivo mapear e caracterizar o uso de exercícios de mobilidade pélvica na assistência ao TP e ao parto.
Metodologia
Este estudo seguiu a metodologia proposta pelo Instituto Joanna Briggs (JBI) 12 para revisão de escopo e o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses - Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR). A revisão foi realizada em cinco etapas: 1) definição da pergunta de revisão; 2) identificação de estudos relevantes que viabilizassem a abrangência e o propósito da revisão; 3) seleção dos estudos com base em critérios predefinidos; 4) mapeamento dos dados; 5) comparação, resumo e relato dos resultados. 13 O protocolo desta revisão foi registrado na plataforma Open Science Framework (OSF) sob o DOI: 10.17605/OSF.IO/WM5JA.
A pergunta de revisão que guiou o estudo foi: “Quais são as evidências disponíveis sobre os exercícios de mobilidade pélvica no trabalho de parto e parto?”.
Os critérios de inclusão foram: artigos científicos de diferentes metodologias e desenhos (ensaios clínicos randomizados, ensaios clínicos não randomizados, estudos transversais, estudos de caso e relatos de experiências), editoriais, notas de pesquisa, dissertações e teses, sem restrição de idioma ou limite de tempo, publicados até 28 de agosto de 2024. As publicações foram selecionadas com base na estratégia mnemônica PCC (Participante: gestantes ou parturientes, Conceito: tipos de exercícios de mobilidade da pelve aplicados por profissionais de saúde no TP e parto). O contexto foi omitido para evitar limitações geográficas ou institucionais. Foram excluídos textos não disponíveis na íntegra, estudos que não respondiam à pergunta de revisão e protocolos de pesquisa.
A busca inicial foi realizada nas bases de dados MEDLINE (PubMed) e CINAHL para identificar artigos relacionados ao tema e seus descritores do Medical Subject Headings (MeSH), com auxílio de uma bibliotecária acadêmica. Os descritores identificados foram: “labor, obstetric”; “labor stage, first”; “parturition”; “labor pain”; “delivery, obstetric”; “natural childbirth”; “cesarean section”; “exercise movement techniques”; “exercise therapy”; “exercises”; “physical therapy modalities”; “patient positioning”; “pelvic floor”.
A estratégia de busca, incluindo todos os descritores do MeSH e palavras chaves relacionadas, foi adaptada para cada base de dados (Tabela 1 .), sendo elas: PubMed, PubMed Central, CINAHL, Web of Science, PeDro, Scopus, BVS e Embase. A revisão também incluiu literatura não convencional (literatura cinzenta) dos repositórios ProQuest Dissertations and Thesis Global.
Após a busca, todos os trabalhos recuperados foram coletados e exportados para o aplicativo web Rayyan, onde as duplicatas foram removidas. O cegamento no Rayyan foi ativado, e dois revisores realizaram, de forma independente, a análise e seleção dos estudos por meio dos títulos e resumos, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Ao final desta etapa, um terceiro revisor foi chamado para mediar eventuais conflitos, quando o cegamento foi removido.
Os estudos selecionados seguiram para uma segunda etapa de triagem e leitura completa, sendo analisados de acordo com os critérios de elegibilidade. Após a leitura, as discordâncias foram resolvidas por meio de discussão e consenso entre os três revisores.
A amostra final foi codificada, e as informações extraídas foram registradas em uma planilha no Microsoft® Word 2019, contendo: número de ordem, base de dados, tipo de publicação, título, autores, ano de publicação, objetivo, desenho do estudo, país de origem, características da amostra, descrição dos exercícios de mobilidade pélvica avaliados no TP e parto, profissionais que realizaram as avaliações e os resultados descritos.
Para a análise dos dados, foi considerada a frequência e o foco de interesse de cada publicação, com uma abordagem descritiva, à luz dos conceitos-chave da presente revisão sobre os exercícios de mobilidade pélvica na assistência ao TP e parto.
Resultados
Foram identificados 2.341 estudos, dos quais 1.051 eram duplicados. Dos 1.290 restantes, 1.243 foram excluídos por não atenderem aos critérios de elegibilidade. Assim, após a leitura integral de 47 estudos, 11 foram selecionados por atenderem aos critérios estabelecidos e responderem à questão de pesquisa. Além disso, uma publicação adicional foi incluída, extraída das referências dos textos primários. Portanto, a amostra final desta revisão foi composta por 12 estudos. O processo de seleção das publicações está ilustrado no fluxograma abaixo (Figura 1).

Figura 1: Fluxograma de seleção conforme os critérios do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses - Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR). Fonte: Elaborado pelos autores, baseado no PRISMA-ScR.
Entre os estudos incluídos, sete foram publicados nos últimos cinco anos (2019 a 2024), 8,9,14,15,17,20,21 dois entre 2014 e 2018, 19,23 e os demais entre 1997 e 2013. 16,18,22) Os estudos foram publicados em inglês, 8,14,15,16,17,18,19,21,22,23 português (9 e espanhol, (20 sendo seis provenientes do Brasil, (8,9,14,15,18,23 dois dos Estados Unidos (21,22 e os demais do Canadá,16 Noruega, 17) Índia (19 e El Salvador. 20
Embora não sejam categorizações recomendadas para revisão de escopo, verificaram-se os riscos de viés e o nível de evidência dos estudos. Para análise da qualidade metodológica e o risco de viés foram utilizadas as ferramentas JBI Appraisal Tools. 24 Os instrumentos JBI Appraisal Tools permitiram identificar baixos riscos de vieses nos estudos selecionados, sendo nove 8,9,14,15,17,18,19,21,23) considerados com qualidade elevada, dois 16,22 qualidade moderada e um 20) de qualidade baixa. Para identificação do nível de evidência foram utilizados os critérios da Agency for Healthcare Research and Quality, sendo três estudos (5, 17, 23) classificados como nível de evidência II, um 19 como nível III, outro (9 como nível V e sete 8,14,16,18,20,21,22) como nível VI.
A população total dos estudos incluídos foi de 936 participantes. Três estudos de revisão da literatura (18,21,25 não discriminaram a amostra dos estudos avaliados, e dois (21,22 estudos foram baseados em opiniões de especialistas. As amostras dos estudos foram selecionadas com base nos seguintes critérios de inclusão: gestantes de baixo risco,(15,18,19,23 nulíparas/primigestas (17,18,23 e praticantes de yoga. (14 Um estudo estabeleceu como critério a dilatação cervical entre 3 e 8 cm, (15 enquanto outro considerou a dilatação entre 4 e 5 cm. (23
Entre os profissionais que realizaram as avaliações, quatro estudos envolveram enfermeiros, (9,15,19,22 um contou com um enfermeiro obstetra, 8 outro com obstetriz, (14 dois com fisioterapeutas, (18,23 e os demais não identificaram os profissionais. (16,17,20,21 Os outros dados e a síntese dos estudos incluídos estão descritos na Tabela 2 . .

Nota: TP: trabalho de parto; EMP: exercícios de mobilidade pélvica; AP: assoalho pélvico; DP: desvio padrão; GE: grupo experimental; GC: grupo controle; PPP: programa de preparação para o parto; N/A: não se aplica; EVA: escala visual analógica, graduada de 0 a 100 mm (milímetros); MD: diferença média; IC: intervalo de confiança.
A partir da estratégia de busca estabelecida, foram selecionadas e avaliadas as seguintes práticas: exercícios pélvicos com bola suíça, 9,15,18,20,23 exercícios aeróbicos, 17 deambulação, (8,18 agachamento, (8 liberdades de movimento e posições verticalizadas, (16 yoga, (14 dança, 21 exercícios de treinamento da musculatura abdominal (22 e exercícios de treinamento da musculatura do assoalho pélvico. (9,18,19,22) Em seis estudos (Tabela 3),8,9,15,20,21,23)os exercícios foram caracterizados. Alguns mencionaram a intervenção realizada, mas não deram detalhes sobre o exercício. 14,16,17,18,19,22
Discussão
Esta revisão de escopo teve como objetivo mapear as evidências publicadas sobre os exercícios de mobilidade pélvica na assistência ao TP e parto, que ajudam a otimizar a rotação e a descida do bebê na pelve materna, além de proporcionar maior liberdade de movimento para a mulher.
Os resultados dos estudos avaliados indicaram que os principais desfechos incluem a redução do tempo de TP, devido ao aumento das contrações uterinas e aceleração da dilatação cervical, 9,17,20,21,22,23 diminuição da dor e ansiedade. 9,14,15,19,20,21,22,23 Um ensaio clínico com exercícios aeróbicos 17 mostrou redução de 186 minutos e outro com exercícios sob a bola suíça 23 de 72 minutos do tempo do primeiro período e 18 minutos do segundo período (expulsivo), os demais não quantificaram o tempo de TP. 8,9,14,15,16,18,19,20,21,22
Três estudos relacionaram os exercícios de mobilidade pélvica (aeróbicos ou movimentos sob a bola suíça) ao aumento de partos vaginais, um estudo, 17 a taxa de parto vagin0al foi de 85,7 % versus 62,3 % de mulheres sem a prática de exercícios (p = 0,051), outro estudo, 23 a taxa foi de 80 % versus 65 % (RR 1.23, IC 95 % 0.93 a 1.62), e outro 9 não deixou esta informação clara. Nenhum estudo relatou complicações ou efeitos indesejados em suas amostras.
Os exercícios com o uso da bola suíça foram os mais avaliados nos estudos selecionados, os quais possuem variações que trabalham as articulações pélvicas, favorecendo a evolução do TP. Algumas variações incluem a mulher sentada com a bola apoiada ao lado do corpo, o que proporciona relaxamento e alongamento; sentada sobre a bola apoiada em uma barra frontal, realizando movimentos para frente e para trás, movimentos laterais para a direita e esquerda, e/ou movimentos de propulsão e rotação; em pé, apoiada na bola sobre uma superfície dura ao nível do tronco; ou em posição de quatro apoios com o tronco apoiado na bola. (20
O uso de diferentes posições e movimentos com a bola suíça durante o TP contribui para o encaixe, a descida e a rotação da cabeça fetal. Quando associada a posições verticalizadas, a bola pode ajudar a alinhar o corpo da mãe e do bebê, corrigir a apresentação fetal, reduzir o tempo do TP e melhorar o controle da dor, evitando procedimentos invasivos.9,15,20,23 Em um estudo, 15 as parturientes foram orientadas a realizar movimentos de propulsão e rotação sobre a bola suíça, com ou sem o uso de banho quente. Em ambos os cenários, observou-se uma aceleração da dilatação cervical e uma redução do tempo da fase ativa do TP.
As posições verticalizadas, os exercícios com bola suíça e o banho de chuveiro foram consideradas estratégias não farmacológicas de baixo custo nos estudos avaliados, promovendo relaxamento da musculatura do assoalho pélvico, conforto e maior controle da dor para as parturientes. 9,15 Outros autores (25 também descreveram que as posições verticalizadas, deambulação e o banho de chuveiro resultaram em redução da dor e foram associados ao aumento do número de partos vaginais. 9
A combinação de exercícios com bola suíça, massagem lombossacral e técnicas respiratórias foi identificada como uma estratégia importante para reduzir a dor, o medo e a ansiedade das parturientes. (9,23 No entanto, o uso isolado da massagem lombossacral,23,25,26 ou combinado com técnicas respiratórias e relaxamento da musculatura do assoalho pélvico, também se mostrou eficaz na redução dos níveis de dor.(9,19 Essas estratégias são frequentemente usadas na assistência ao TP e consideradas altamente eficazes para reduzir o uso de analgésicos e evitar a analgesia precoce. (23
Em um estudo, (8 enfermeiros obstetras relataram incentivar a liberdade de movimento, promovendo exercícios de articulação pélvica, tipo bamboleio do quadril com noção da pelve livre, demonstrando movimentos circulares para a esquerda e para a direita, para a frente e para trás, e lateral (pedir para parturiente imaginar como o mover de uma peneira), deambulação, agachamentos, balanço pélvico (tipo cavalinho) e a posição de quatro apoios durante o período expulsivo, descritos por promover a autonomia da mulher e assegurar uma assistência segura e respeitosa. Todavia, uma revisão 16 recomendou cautela no uso de banquetas de parto em posições verticalizadas, devido ao risco aumentado de edema perineal.
Outro estudo 18 implementou um programa de preparação para o parto, incluindo exercícios de alongamento, exercícios com bola suíça, caminhada, treinamento da musculatura do assoalho pélvico, técnicas de respiração e relaxamento. Este estudo (18 mostrou que as gestantes tiveram maior controle e confiança no uso dessas estratégias à medida que o TP progredia. O programa de preparação para o parto, (18 que integrou exercícios de mobilidade pélvica e a prática da dança (21 (uma combinação de movimentos pélvicos e corporais), associou essas atividades à redução da dor e do medo, além de aumentar a satisfação das mulheres durante o TP e o parto. (18,21 A prática da dança durante a gestação é recomendada por fortalecer a musculatura do assoalho pélvico, o que pode reduzir complicações puerperais, como incontinência urinária e prolapso de órgãos. (21
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) do Brasil recomendam a liberdade de movimento e posições verticalizadas durante o TP e parto, assim como a adoção de métodos não farmacológicos para o alívio da dor, pois proporcionam conforto, humanizam a assistência ao parto e reduzem intervenções desnecessárias. (27
Um estudo realizado por especialistas 22 descreveu o treinamento da musculatura abdominal e do assoalho pélvico, com exercícios que combinam a contração do músculo transverso abdominal e o relaxamento do assoalho pélvico, além de respiração com glote aberta para facilitar o TP. Essa estratégia, ao utilizar a expiração com glote aberta, leva ao levantamento do músculo diafragmático, à contração abdominal e ao relaxamento do assoalho pélvico, o que promove o relaxamento dos tecidos moles e dos ligamentos uterinos, ajudando na descida do bebê. O treinamento da musculatura abdominal também está associado à prevenção de dores lombares e da diástase abdominal. (22,28
A prática de yoga foi avaliada em um estudo, (14 cujos autores relataram diversos benefícios para as gestantes durante o TP e parto, como o controle da respiração, a redução da ansiedade, do estresse e da dor, além do fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico. Algumas posturas de yoga atuam nas articulações, ligamentos e tecidos moles da região do quadril, (29 aumentando os diâmetros pélvicos, o que pode favorecer a evolução do TP e reduzir fatores estressantes para a parturiente, além de evitar intervenções desnecessárias. (14
Dois estudos (9,16 avaliaram outra estratégia: a massagem perineal para a prevenção de lacerações no parto e a redução da episiotomia. Um dos estudos mostrou menor incidência de lacerações, (18 enquanto o outro não encontrou resultados significativos, (16 embora tenha recomendado a prática para mulheres que desejarem e a realização de episiotomia oportuna. A episiotomia é uma incisão cirúrgica feita na região vulvoperineal para ampliar a abertura no momento da passagem da cabeça do bebê. No entanto, o uso rotineiro da episiotomia não reduz o risco de trauma perineal grave, nem o risco de incontinência urinária de esforço, além de aumentar a perda sanguínea. (30 Outra recomendação para a redução do trauma perineal é manter o puxo fisiológico com a glote aberta durante o expulsivo, uma prática que também evita a prolongação dessa fase. (16
A mulher em TP precisa de cuidados adequados e um manejo apropriado dos fatores ambientais, a fim de atender suas necessidades e proporcionar uma melhor experiência de parto. Profissionais de obstetrícia podem utilizar estratégias menos invasivas e não farmacológicas para reduzir o tempo da fase ativa do TP ou do período expulsivo, proporcionar maior controle da dor, medo e ansiedade, e favorecer o parto vaginal. Os estudos incluídos nesta revisão destacam essas práticas e podem estimular discussões sobre a assistência prestada nos centros obstétricos, além de sugerir boas práticas que podem ser implementadas.
O parto vaginal está associado a melhores indicadores de segurança em comparação com a cesariana, como a redução de complicações no pós-parto, fortalecimento do vínculo mãe-bebê, menor risco de infecções, contribuição para a estabilização cardíaca e respiratória do bebê e maior participação da mulher no processo de parturição. (31 No entanto, é fundamental que os profissionais assegurem parâmetros de segurança materna e fetal durante a assistência, ao mesmo tempo em que valorizem os desejos e anseios da mulher em relação ao seu parto, promovendo uma assistência humanizada e evitando intervenções desnecessárias, especialmente a prática indiscriminada de cesárea.
As limitações desta revisão podem estar relacionadas à heterogeneidade dos estudos incluídos, por diferentes exercícios de mobilidade pélvica e desenhos de estudo, o que dificultou a síntese dos resultados. Outra limitação foi o pequeno número de publicações com exercícios de mobilidade pélvica aplicados e com desfechos no TP e parto, assim, maior parte dos estudos selecionados nas bases de dados apresentaram somente resultados de exercícios de preparação do parto na assistência pré-natal, não sendo elegíveis para esta revisão de escopo.
Embora não seja uma norma geral para revisões de escopo, a prevalência de estudos classificados com níveis de evidência entre III e VI, conforme o sistema GRADE,32é considerada uma baixa recomendação para a prática assistencial. No entanto, a maioria dos estudos avaliados (75%) 8,9,14,15,17,18,19,21,23) foi considerada de qualidade elevada pelo JBI Appraisal Tools, portanto, com baixo risco de viés. Os exercícios também demonstraram ser uma forma segura de assistência ao parto, uma vez que não interferiram negativamente nos parâmetros maternos e perinatais.
Este estudo mapeou diferentes exercícios de mobilidade pélvica indicados para o TP e parto. Essas estratégias são amplamente utilizadas em centros obstétricos e casas de parto, especialmente por enfermeiros obstetras, obstetrizes e fisioterapeutas, o que torna a discussão relevante para prática clínica e obstétrica. Contudo, este trabalho também evidencia lacunas na literatura sobre práticas assistenciais, como o conjunto de exercícios denominado Spinning Babies® (10,11 ou o Método De Gasquet®, (33 desenvolvido pela médica e professora de yoga Dr. Bernadette de Gasquet, que propõe uma abordagem holística envolvendo diferentes posições associadas à respiração para gestação, TP e parto. Portanto, há uma necessidade de ensaios clínicos randomizados de alta qualidade e/ou novas investigações na literatura para que essas estratégias possam ser incluídas em protocolos institucionais.
Considerações finais
Os exercícios de mobilidade pélvica são fundamentais para proporcionar a participação ativa da mulher no TP e parto, além de contribuírem para a redução de procedimentos invasivos, farmacológicos e aumentar satisfação da mulher. Entre os exercícios identificados nesta revisão de escopo estão: exercícios pélvicos com bola suíça, exercícios aeróbicos, deambulação, agachamento, liberdade de movimento e posições verticalizadas, yoga, dança, e treinamento da musculatura abdominal e do assoalho pélvico. Essas práticas mostraram relação com a redução do tempo de TP e do período expulsivo, além de promoverem maior controle da dor, ansiedade e medo. Exercícios pélvicos sob a bola suíça e exercícios aeróbicos foram associados ao aumento da taxa de parto vaginal.
Os resultados demonstraram a potencialidade de diferentes estratégias, sem causar danos adversos à assistência ao parto. Contudo, ainda há uma lacuna em relação a alguns exercícios e posicionamentos utilizados na rotina de centros obstétricos no Brasil e em outros países, que não foram encontrados nesta revisão. Isso pode estar relacionado às bases de dados utilizadas ou à ausência de estudos publicados a respeito dessas estratégias, indicando a necessidade de futuras investigações na literatura.










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