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Introdução:
A hérnia muscular das extremidades é rara e frequentemente diagnosticada erroneamente como um tumor de partes moles.1 Geralmente ocorre como defeitos fasciais adquiridos (pós-operatórios, traumáticos ou congênitos). (1
Os pacientes geralmente apresentam uma massa palpável de tecidos moles que se torna mais firme e proeminente após a contração do membro afetado. (1 A maioria das massas é indolor e assintomática. (2 Contudo, as hérnias podem se tornar dolorosas após exercícios prolongados devido ao aprisionamento muscular focal e a isquemia resultante. (1,2
Nosso objetivo é relatar um caso hérnia muscular, doença que pode não ser diagnosticada devido à falta de conhecimento entre os médicos, ocasionando a
encaminhamentos e investigações desnecessárias, como radiografias, cintilografias ósseas e eletroneuromiografias, prejudicando o paciente, pois seu diagnóstico e tratamento seriam tardios. (2
Relato do Caso:
Homem de 18 anos refere abaulamento na perna esquerda há três meses que aumenta após atividade física - musculação. Nega cirurgias anteriores, doenças prévias e o uso de medicações.
Ao exame físico apresenta abaulamento na região ântero-lateral da perna esquerda, sem alteração da coloração da pele e indolor a palpação (Figura 1).
Figura 1: Inspeção da perna esquerda de paciente com 18 anos demonstrando abaulamento na região ântero-lateral da perna (seta branca).
A ultrassonografia detectou falha da fáscia muscular do extensor longo dos dedos na região referida medindo cerca de 0,3 cm, com herniação muscular em cerca de 0,4 x 0,2 cm (Figura 2).
Figura 2: Ultrassonografia da perna esquerda demonstrando falha da fáscia muscular com herniação do músculo extensor longo dos dedos com sua contração em A (seta branca) e demonstrando em B, com o músculo relaxado, a herniação muscular menos evidente (seta preta).
O paciente foi encaminhado para o ortopedista que iniciou o tratamento conservador, visto que o paciente não apresenta algia referente a hérnia muscular, mesmo durante a atividade física.
Discussão:
As hérnias musculares são herniações focais do tecido muscular através de um defeito em sua bainha fascial e são mais comumente encontrados nos membros inferiores.3 São lesões subdiagnosticadas ou erroneamente diagnosticadas como hematomas musculares e varicosidades. (3) Existem cerca de 200 casos de hérnias musculares descrito na literatura. (3
O exame físico destes pacientes pode revelar se há presença de sinal de Tinel positivo na região do referida. (1,2 O ultrassonografista, sem exercer pressão significativa com o transdutor, pode escanear dinamicamente para determinar a presença de um defeito fascial durante a contração muscular e manipulação posicional. (1 A ultrassonografia é vantajosa, pois é realizada em tempo real, sendo a hérnia muscular detectada durante o exame dinâmico e a natureza da lesão pode ser demonstrada ao paciente, o que ajuda em sua segurança no diagnóstico e posterior tratamento. (1
Tanto a ultrassonografia quanto a ressonância magnética (RM) podem demonstrar interrupção da fáscia profunda com herniação de um componente muscular periférico em continuidade com o restante das fibras musculares, mostrando a mesma ecogenicidade ou intensidade de sinal do próprio músculo. (1 Esses recursos podem ajudar a diferenciar as hérnias musculares de outras lesões, tais como hematomas, cistos epidermóides, malformações arteriovenosas, schwannomas, roturas musculares e lipomas. (1
O ultrassonografista deve estar atento à possibilidade da hérnia muscular, reduzindo os riscos de complicações e diagnósticos equivocados. (3 Existe a vantagem da avaliação dinâmica da ultrassonografia sobre os demais exames, possibilitando a averiguação da herniação com a contração e repouso muscular. A ultrassonografia apresenta ótimo custo-benefício devido a sua boa sensibilidade, acessibilidade e custo, reduzindo gastos maiores com exames mais complexos, tais como a ressonância magnética, para exclusão de outras doenças. (3
O tratamento conservador é realizado em hérnias musculares assintomáticas. (2 O encaminhamento cirúrgico ocorre em casos sintomáticos moderados e graves - devem ser analisados caso a caso, pois não há consenso da técnica a ser realizada, variando desde a desde fasciotomia até o reparo anatômico do defeito fascial. (2,4
Conclusão:
Este relato apresenta uma lesão pouco pesquisada - hérnia muscular - com diagnóstico pela ultrassonografia, demonstrando não ser imperativo a realização da RM. A ultrassonografia pode ser o exame de escolha para sua suspeita diagnóstica visto seu ótimo custo-benefício e a possibilidade de avaliação dinâmica com a contração e repouso muscular.
