Introdução

O câncer é uma neoplasia desencadeada por uma disfunção dos mecanismos regulatórios normais da multiplicação celular, resultando em células que começam a crescer e se dividir de maneira desordenada e sem que haja necessidade, sendo estas insensíveis aos mecanismos normais celulares de regulação. O câncer de mama, sabidamente, afeta de forma mais significativa as mulheres, mas também pode se desenvolver na população masculina¹.

A neoplasia mamária, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), apresenta aproximadamente 60 mil novos casos por ano no Brasil, sendo o tipo de câncer mais incidente em mulheres. A neoplasia mamária masculina é uma doença rara, representando aproximadamente 1% do total de cânceres de mama. Quando se consideram todos os cânceres que atingem a população masculina, a incidência do câncer de mama é ainda menor, representando menos de 1% do total². Com etiologia desconhecida, existem fatores de risco associados ao seu desenvolvimento, que podem ser similares ou distintos aos fatores que levam ao câncer de mama em mulheres²⁾⁽³.

Dentre estes fatores, estão a predisposição genética, fatores ambientais como exposição a gasolina, à altas temperaturas, manipulação de certos produtos químicos, fumo e radiações ionizantes, elevados níveis de estrogênio, como acontece em certas doenças (criptorquidia e orquites), problemas hepáticos, obesidade e síndrome de Klinefelter². Com relação ao número de óbitos pela doença, os dados mais recentes no Brasil são do ano de 2020, disponibilizados pelo INCA, registrando um total de 207 óbitos⁴.

No decorrer das últimas décadas, a incidência da neoplasia mamária em homens apresentou aumento significativo, de 0,86 para 1,06 por 100.000 homens, cujas maiores taxas são observadas na América do Norte e Europa. A média de diagnóstico é de 5 anos a mais do que as mulheres, com média de idade do diagnóstico de 67 anos. Conforme estudos que investigaram as diferenças étnicas e raciais relacionadas à doença, foi encontrado que a sobrevida apresenta uma taxa de 66% para homens brancos, 57% para homens negros e 75% para demais etnias. Ainda, a incidência aumenta conforme a progressão da idade, escalando até atingir o patamar dos 80 anos¹.

Com relação às discussões realizadas publicamente sobre o câncer de mama, muito se fala e se divulga acerca da neoplasia mamárias em mulheres, para as quais existem políticas de saúde que fornecem as devidas informações e assistência voltadas para a prevenção e tratamento da doença¹.

Entretanto, por conta de sua baixa incidência, o câncer de mama masculino não é amplamente divulgado e, a partir disso, é necessário e relevante discutir tal temática, para que dessa forma seja despertado o interesse da população masculina e este grupo seja conscientizado do risco de desenvolvimento da doença, seus sinais, consequências e importância da identificação e diagnóstico precoces.

A descoberta do câncer de mama se relaciona a um enorme impacto psicológico, levando a conflitos mentais no homem acometido pela doença, seus familiares e amigos. O próprio câncer em si já é uma doença interpretada, na maioria das vezes, como uma sentença de morte, permeado por muitos estigmas, e o tratamento costuma afetar significativamente a vida de uma pessoa, causando limitações, dores, cansaço e diferentes sintomas psicológicos, vivenciados de forma diferente por cada indivíduo.

Os profissionais de enfermagem figuram como agentes fundamentais na promoção à saúde e prevenção de doenças e agravos, dentre os quais o câncer de mama. Em suas atribuições, o enfermeiro atua diretamente em meio à população, promovendo a educação em saúde, a disseminação de conhecimentos e identificando os grupos de risco. Por terem contato mais próximo com a população, estes exercem influência através de sua assistência e cuidar, sendo importantes para reduzir os riscos modificáveis relacionados à doença e monitorar os riscos não modificáveis.

Esse trabalho foi estruturado da seguinte forma: primeiramente, introduziu-se a temática neste tópico, através de uma pesquisa bibliográfica, a qual forneceu as bases teóricas para a reflexão e discussão dos conteúdos. Após, apresentou-se a metodologia do estudo. Em seguida, a temática foi desenvolvida e discutida no tópico de resultados e discussões. Por fim, apresentaram-se as considerações finais.

Objetivo Geral

Discutir reflexivamente sobre as contribuições do enfermeiro no que se refere às estratégias assistenciais e de cuidado para homens com câncer de mama.

Metodologia

Este estudo se configurou como teórico-reflexivo, tendo sido realizado a partir da leitura crítica de materiais científicos atuais que abordam a atuação do enfermeiro naquilo que tangencia as estratégias de assistência e cuidado da enfermagem voltadas para pacientes com câncer de mama masculino. A construção teórica adotou uma abordagem qualitativa, considerando a interpretação e a análise dos conteúdos teóricos que foram obtidos através da pesquisa bibliográfica.

Uma pesquisa bibliográfica envolve a pesquisa e a discussão teórica e conceitual de diferentes autores sobre o tema proposto. Esse método de pesquisa permite uma análise ampla da literatura, possibilitando, ainda, discutir métodos e resultados das publicações. A pesquisa bibliográfica consiste em um processo em que se estabelecem as bases teóricas, as quais orientam a pesquisa científica. A revisão da literatura é a parte da construção do trabalho que permitirá ao autor extrapolar os conhecimentos empíricos para adentrar nos pressupostos teóricos que sustentarão ou não suas ideias⁵.

Tendo isso em vista, a confecção do trabalho seguiu aos pressupostos da revisão de literatura, entendida como um processo em que as informações sobre uma determinada temática serão sistematizadas para formar um conhecimento robusto, que deverá ser avaliado e sumarizado. O percurso metodológico, a princípio, envolveu o levantamento bibliográfico, cuja pesquisa exploratória foi realizada de forma digital no mecanismo de busca Google Scholar, bem como em bases de dados, incluindo a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e ScientificElectronic Library Online (Scielo).

A busca, que foi realizada entre os meses de novembro e dezembro de 2022, também incluiu outras fontes de informação, como trabalhos acadêmicos, livros e documentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde (MS) brasileiro. A estratégia de busca consistiu no cruzamento dos descritores “Assistência”, “Câncer de mama”, “Enfermagem”, “Homens” e "Neoplasia mamária”, com auxílio dos termos booleanos AND e OR.

Os critérios de inclusão foram materiais relevantes e consonantes com a temática, disponíveis para leitura na íntegra, dentro do recorte temporal dos últimos dez anos (2012 - 2022), de acesso aberto e nas línguas portuguesa e inglesa. Os critérios de exclusão foram materiais que não contribuíam fortemente com a temática, que não estivessem disponíveis para leitura na íntegra, fora do recorte temporal estabelecido e nos demais idiomas que não o português e inglês.

A seleção dos estudos que foram incluídos neste trabalho foi realizada primeiramente pela triagem dos títulos, identificando os artigos que possuíam maior consonância com o tema. Após essa primeira etapa, foram analisados os resumos dos artigos selecionados para refinar e excluir aqueles que não obedeciam aos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos, bem como não equivaliam ao objetivo do estudo.

Dessa forma, essa reflexão teórica foi construída a partir da leitura cuidadosa de 27 materiais, viabilizada pelas etapas de fichamento, estruturação preliminar do trabalho, resumo das informações mais relevantes, estruturação lógica do artigo, revisão e leitura cuidadosa de todos os conteúdos e, finalmente, as categorias foram elaboradas, dentro das quais realizou-se a contribuição autoral reflexiva.

Neoplasia mamária masculina: Aspectos gerais

Pesquisadores⁶ referem o câncer como “a proliferação celular anormal com perda de inibição de contato, escapando da morte celular programada, evitando a senescência celular, metástase invasiva, neoangiogênese, metabolismo autossuficiente e aquisição de tolerância imunológica”. Estes mesmos autores mencionam que os aspectos que envolvem o desenvolvimento tumoral tornaram-se uma das áreas mais pesquisas e financiadas, devido ao enorme impacto dessas doenças para a Saúde Pública e para a expectativa de vida da população.

O câncer é considerado uma doença crônico-degenerativa caracterizada pelo crescimento desordenado de células, e existem diferentes tipos de neoplasias ditas malignas. Dentre estas, está o câncer de mama, resultante de uma multiplicação anormal de células na região da mama com formação de tumor que apresenta potencial de invadir outros órgãos, cuja incidência cresce a cada ano. Devido sua relevância, este tipo de câncer se tornou o foco de vários estudos, sendo amplamente discutido quando se trata de seu desenvolvimento em mulheres que, sabidamente, apresentam as maiores taxas de incidência⁷.

O efeito cancerígeno, segundo evidenciado na literatura⁸, pode aparecer quando dois principais genes supressores como o BRCA1 e BRCA2 têm sua função perdida nos dois alelos, devido à mutações na linhagem germinativa. Estes genes, ditos supressores tumorais, se relacionam a aspectos fundamentais do metabolismo das células, como a reparação de danos ao ácido desoxirribonucleico (DNA), regulação da expressão de genes e controle do ciclo das células.

O câncer de mama pode afetar também os homens e, embora seja considerado uma doença rara quando se desenvolve no sexo masculino, também tem apresentado aumento em sua incidência²⁾⁽³ e mortalidade⁹ e, conforme a idade progride, a incidência aumenta, atingindo um patamar na idade de 80 anos¹⁰. Costuma manifestar-se entre 5 e 10 anos mais tarde do que nas mulheres, e a idade média de idade para o desenvolvimento da doença é 66 anos, também maior do que nas mulheres (61 anos)¹⁰.

Pesquisadores¹⁰, destacam que o Brasil acompanha a tendência mundial de aumento no número de óbitos pela neoplasia mamária masculina, sendo as maiores taxas apresentadas pelas regiões Sudeste e Norte do país, tendo como principais motivos as desigualdades sociais, econômicas e a ampla diversidade, o que aponta para a necessidade de implementar estratégias para a promoção e prevenção dessa doença nos territórios nacionais. Ainda, segundo os mesmos autores, existe uma baixa cobertura à neoplasia mamária masculina e alto tempo de diagnóstico, e o perfil socioeconômico dos homens acometidos são indivíduos de baixa renda e nível de escolaridade, negros e idade entre 60 e 69 anos¹⁰.

Por conta de os homens se exporem mais a alguns fatores de risco, como tabaco e álcool, bem como se cuidarem menos que as mulheres, estes podem estar sujeitos a diversos agravos, tendo como consequência, por exemplo, maiores taxas dos indicadores de morbimortalidade quando comparadas às das mulheres. Assim, apesar de ser raro em homens, o câncer de mama masculino tende a ser diagnosticado em estágios mais avançados, o que o torna altamente agressivo, e a detecção tardia se associa à uma menor possibilidade de cura¹¹.

A neoplasia se dá a partir do tecido adiposo e fibroso, sem apresentar muitos elementos lobulares. Em indivíduos mais velhos, a redução nos níveis androgênicos pode contribuir para a proliferação ductal da mama. Do total de neoplasias mamárias masculinas, aproximadamente 90% consistem em carcinomas invasivos, sendo o restante carcinomas não invasivos. Por conta de sua raridade, o câncer de mama masculino ainda não está muito bem descrito¹¹.

Os principais fatores relacionados ao desenvolvimento da neoplasia mamária são a idade avançada, histórico pessoal e familiar, hábitos alimentares/de vida e fatores ambientais, e o controle da doença procede com a sua detecção precoce, a qual favorece o melhor prognóstico e a qualidade de vida. As principais formas de detecção envolvem os exames clínicos da mama, exames ultrassonográficos de mama bilateral e mamografia².

Em agosto de 2008, foi criada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Tem como objetivo geral promover a melhora da condição de saúde dos homens, contribuindo, assim, para a redução dos índices de morbimortalidade masculinos, além de buscar facilitar o acesso dessa população aos serviços de atendimento integral à saúde na atenção primária¹².

Porém, é evidente que os homens não costumam buscar os serviços de atenção primária à saúde, conforme mostra o MS. Essa resistência que os homens apresentam em buscar os serviços de saúde, faz com que seja aumentado o sofrimento físico e emocional dele e das pessoas a sua volta, a explicação para tal fato pode ser devido às variáveis culturais, entre outros fatores¹¹.

Os estereótipos atribuídos aos homens, presentes há séculos na sociedade, dão potencialidade a práticas que se baseiam em crenças e valores de masculinidade. Sendo assim, o MS deixa em evidência que as doenças tendem a ser consideradas um sinal de fragilidade, os quais os homens não reconhecem como inerentes à sua própria condição biológica. Em resumo, parte dos homens se julgam invulneráveis, dessa forma, acaba contribuindo para que ele preste menos cuidados a si mesmo¹¹

Neoplasia mamária masculina: Aspectos subjetivos para o cuidado

Os estudos voltados para o câncer de mama masculino não são tão expressivos quanto aos que investigam a doença em mulheres, e isso aponta para uma necessidade de novos estudos direcionados à essa temática, especialmente porque se percebe que a doença ainda é considerada um tabu entre os homens.

O diagnóstico do câncer de mama masculino, na Atenção Primária à Saúde, é baseado principalmente no exame físico, sendo o primeiro sinal da doença descoberto geralmente pelo próprio paciente, comumente pela presença de nódulos mamários e/ou ginecomastia¹¹, revelando similaridade com os sinais e sintomas do câncer de mama feminino, o que pode dificultar, em partes, a sua detecção precoce, pois a neoplasia é associada, no imaginário masculino, à doença feminina.

No Brasil, o próprio Ministério da Saúde evidencia que doenças sinalizam fragilidades, informação que não tende a ser bem recebida pelos homens que, devido às inúmeras variáveis culturais, estereótipos conferidos aos homens, crenças e valores que permeiam nossa sociedade, não reconhecem tais fragilidades como próprias da condição biológica¹¹. Assim, a crença de invulnerabilidade, presente em parcela deste grupo, paradoxalmente parece contribuir para o aumento de sua vulnerabilidade à doenças e agravos, por conta do reduzido cuidado com sua saúde.

Outra crença, citada por muitos pesquisadores¹¹, que pode ser responsável pelo diagnóstico tardio da doença em homens e, consequentemente, à sua alta gravidade nestes, é a de que o homem possui o papel de provedor, o que entra em conflito com o atendimento na rede de atenção primária à saúde, geralmente no horário de trabalho destes indivíduos. Estes, não desejando perder um dia de trabalho, acabam colocando em segundo plano os cuidados com a própria saúde.

Foi evidenciado em estudos¹, que os homens procuram muito pouco os serviços de saúde e, com isso, estes acabam ficando mais vulneráveis a doenças, atrasando o tratamento delas e interferindo em sua qualidade de vida. Quando se trata do câncer de mama em homens, se evidencia o mesmo fenômeno, cujo atraso no diagnóstico implica na descoberta da doença em estágios mais avançados.

Diante disso, promover uma comunicação clara e objetiva, pautada nos preceitos da ciência, amplificando a divulgação de informação sobre incidência, diagnóstico precoce e tratamento é fundamental para orientar a população acerca dessa doença, o que pode contribuir para uma ruptura de preconceitos e estimular a busca pelo diagnóstico pela população masculina.

Enfermagem: Contributos para o câncer de mama masculino

Diante de todo contexto apresentado, é importante entender qual o papel da enfermagem diante do câncer de mama masculino, desvelando suas contribuições no que tange o cuidar e a assistência, especialmente porque a enfermagem brasileira possui a condição de ser a maior força de trabalho no âmbito da saúde, estando presente na maior parte da rede de prestação de serviços e ações em saúde¹⁰.

Cabe frisar que nas unidades primárias de saúde são escassas as ações de conscientização com relação ao câncer de mama em homens, pois o foco destas ações costuma ser o público feminino¹¹. Isso é um grande problema, considerando que o câncer de mama masculino, embora raro, costuma ser mais agressivo por conta dos fatores que levam ao seu diagnóstico tardio.

O diagnóstico precoce da neoplasia mamária masculina é fundamental para seu controle, especialmente considerando as altas taxas de morbimortalidade relacionadas à detecção tardia. As ações da enfermagem são primordiais para a detecção precoce da doença, seja para a implementação do tratamento ou reabilitação¹⁰.

A enfermagem é de suma relevância para a implantação de políticas de saúde do homem, sobretudo porque este grupo de indivíduos demonstra baixo interesse sobre assuntos de saúde, sendo fundamental que o enfermeiro atua nas diferentes dimensões, tais como conscientização, promoção da saúde e prevenção de agravos, contribuindo com a minimização de danos relacionados à doença ou a sua descoberta tardia.

Estudos¹¹ pontuam que acolher os homens e fortalecer os vínculos com esse público é de suma relevância para que estes sintam-se seguros e que suas necessidades estão sendo atendidas. Este acolhimento e uma postura ativa dos profissionais de enfermagem podem contribuir para transformar o comportamento vigente dos homens com relação ao autocuidado e a busca pelos serviços de saúde.

Assim, apreende-se que duas necessidades se destacam no que se refere às estratégias voltadas para a neoplasia mamária masculina, sendo elas o aumento de oferta das ações direcionadas aos homens e a sensibilização da população masculina acerca do autocuidado. Ao ser evidenciado que as ações dos serviços de saúde ainda são mais elevadas e voltadas para as demandas do público feminino, surge a necessidade de enfocar os cuidados relacionados ao público masculino, tornando-os também prioritários.

A enfermagem tem papel fundamental no processo educativo, fornecendo informações importantes para a prevenção do câncer¹⁰. Os enfermeiros, no que se refere a atenção ao homem, possibilitam o desenvolvimento de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, respondendo as dúvidas e contribuindo para que estes se engajem com oautocuidado¹¹.

Dentre as atribuições da enfermagem relacionadas ao câncer na atenção primária à saúde estão as consultas de enfermagem, focalizando aspectos preventivos, orientações sobre autoexame mamário e acompanhamento de pacientes com a doença já instalada, através das visitas domiciliares¹¹.

Foi evidenciado em alguns estudos¹⁰que o enfermeiro possui responsabilidade no cuidado direto ao paciente, sendo necessário que este esteja a par de todas as evidências que se relacionam às ações preventivas, agindo na atenção primária à saúde, e cientistas brasileiros¹³ corroboram que suas atribuições envolvem a realização das consultas, o exame e avaliação dos sinais e sintomas da neoplasia, solicitação de exames, além de encaminhar e acompanhar nos serviços de referência para o diagnóstico e/ou tratamento e as atividades educacionais.

Pesquisadores¹⁰ ressaltam que o enfermeiro, quando diante de casos de câncer de mama masculino, deve focar na promoção de ações que auxiliem a detecção precoce da doença na Unidade Básica de Saúde (UBS), comparando a efetividade e conformidade dessas ações com aquelas recomendadas pelo MS, verificando a disponibilidade de documentação e analisando a relação das situações variáveis relacionadas à doença, tais como a predisposição genética, utilização de hormônios, obesidade, uso de tabaco, álcool e/ou outras drogas.

O homem com câncer de mama pode apresentar possibilidades distintas após a detecção da doença, sendo que algumas destas incluem a radioterapia, quimioterapia e ressecção tumoral cirúrgica⁷. A avaliação e o manejo de enfermagem são primordiais durante a admissão do paciente para cirurgia. Durante o pré-operatório, por exemplo, é importante que a avaliação de enfermagem inclua um histórico abrangente, observações, altura e peso, e uma anotação de medicamentos e alergias. A equipe de enfermagem também é responsável por garantir que os medicamentos sejam administrados conforme prescrito, e também durante a quimioterapia e radioterapia de doenças progressivas ou recorrentes, os enfermeiros têm um papel importante.

Uma responsabilidade relevante para os enfermeiros é a avaliação das necessidades do paciente e da família. Essa avaliação deve considerar as necessidades imediatas e planejar situações que possam surgir no futuro, que por sua vez podem melhorar a qualidade de vida do paciente. Ao fazer uma avaliação eficaz, o enfermeiro pode influenciar o bem-estar do paciente e de sua família¹¹.

Os enfermeiros têm um papel importante no envolvimento dos pacientes e de seus familiares nas decisões de tratamento na fase terminal da doença, se esta vier a ocorrer. Estes poderão aprender estratégias para manter a esperança e garantir o conforto do paciente neste momento. A comunicação e o fornecimento de informações são essenciais para um cuidado eficaz. As informações adequadas permitem que os pacientes e seus familiares se adaptem à doença e lidem com o tratamento com mais facilidade, ajudando a aliviar sua ansiedade e angústia¹³.

É importante que os enfermeiros forneçam informações precisas e honestas sobre a condição do paciente e o tratamento proposto. Os enfermeiros também devem estar cientes de fontes alternativas de informação e aconselhamento¹⁴. Por exemplo, os pacientes e suas famílias podem ser informados sobre grupos de apoio e instituições de caridade que podem ajudá-los a se adaptar ao estresse psicológico causado pela doença.

É possível inferir que não somente nas neoplasias mamárias, mas em todas as doenças oncológicas, a assistência da enfermagem é feita tendo em consideração as manifestações do paciente, adotando sempre uma compreensão holística e individualizada de cada pessoa. Cada paciente apresenta um grau de dependência com relação aos cuidados, e disso dependerá a definição de atuação do enfermeiro em cada caso.

O enfermeiro, em seu papel na educação em saúde, pode contribuir para modificar o pensamento social e, através de informações claras, pode acompanhar os pacientes com câncer de mama masculino de forma segura, sempre respaldando-se nos conhecimentos técnicos-científicos. A eficácia dessas ações em educação se dá, sobretudo, pela proximidade do enfermeiro com os pacientes, o que os coloca como grandes responsáveis pela divulgação dessa temática.

Uma estratégia interessante, descrita em algumas pesquisas¹, e ligada às ações educativas em saúde que pode fazer parte das estratégias da enfermagem, é fomentar na população masculina o reconhecimento da mama como uma parte importante de seu corpo, o que poderá ajudar na conscientização dos homens com relação ao autoexame, na quebra de paradigmas e preconceitos relacionados à doença. Os mesmos autores propõem fortalecer a divulgação da doença através de informativos, que poderão levar conhecimento rápido e de fácil entendimento para a população.

Essa conscientização, bem como o estímulo ao autoexame, são estratégias relevantes para favorecer um diagnóstico precoce, o que reafirma a necessidade de os enfermeiros realizarem tais ações educativas. Como um dos pontos que mais sobressaíram neste estudo foi a dificuldade apresentada pelo público masculino em procurar auxílio nas redes de atenção básica, entende-se que as ações em educação desenvolvidas pela enfermagem são de extrema relevância, devendo ser revertidas em uma melhor assistência.

O melhor conhecimento da doença pelos homens, proporcionado pelas ações educativas, pode favorecer a velocidade com que estes procuram ajuda médica, o que auxiliaria no diagnóstico precoce e, consequentemente, nas taxas de sobrevida e melhor prognóstico¹⁵.

Considera-se ampla a atuação do enfermeiro frente ao paciente homem com câncer de mama, cujas ações assistências englobam o esclarecimento ao paciente com relação à doença, sobre as possibilidades de tratamento, promover o autocuidado, oferecer apoio emocional, aliviar a dor, tratar as complicações e até mesmo fornecer incentivo para que o paciente consiga lidar com o câncer de mama e suas várias consequências.

Pesquisadores¹⁰ afirmam com essa ampla atuação da enfermagem em diferentes etapas relacionadas à doença, acrescentando ainda que os enfermeiros podem realizar um acompanhamento próximo dos pacientes desde a atenção primária, diagnóstico e na reabilitação, participando das discussões multidisciplinares e na tomada de decisão.

Estes mesmos autores afirmam que os profissionais de enfermagem devem oferecer uma assistência humanizada, adequada e eficaz, que possa minimizar o sofrimento dos pacientes que, em suas concepções, associam o câncer à “dor, morte e sofrimento” ¹⁴. Assim, amparados pelas resoluções do conselho federal de Enfermagem (358/2009, 210/1998 e 211/1998), é de responsabilidade da enfermagem estabelecer estratégias multidisciplinares para o enfrentamento da doença, desde a prevenção, diagnóstico e recuperação.

Conforme foi possível apreender a partir dos autores, o papel do enfermeiro na dinâmica da assistência ao paciente é fundamental, pois esses profissionais estão em condições de cuidar dos pacientes de forma ativa e individualizada e auxiliá-los a atingir independência, autonomia e aceitação do tratamento e reabilitação. Através da educação, este profissional pode discutir importantes questões de saúde tanto com sua equipe quanto com o paciente e seus familiares, responder dúvidas, desenvolver ações de prevenção e promoção da saúde e reabilitação funcionando como um verdadeiro canal de conscientização da equipe, paciente e familiares sobre as peculiaridades da doença.

Considerações finais

O trabalho teve por objetivo discutir reflexivamente sobre as contribuições do enfermeiro no que se refere às estratégias assistenciais e de cuidado para o paciente do sexo masculino com câncer de mama. Verificou-se que a neoplasia mamária masculina é uma doença rara em homens, mas de grande gravidade. Por ser uma doença comum às mulheres, o público masculino não se atenta para seu desenvolvimento, o que com frequência resulta em diagnóstico tardio, assim levando a um pior prognóstico.

A questão da epidemiologia do câncer de mama masculino, bem como o baixo comparecimento deste público nas redes de atenção primária à saúde tornam essa temática de grande relevância, assim precisando ser discutida mais profundamente pelos profissionais, sobretudo os de enfermagem, que fazem parte da linha direta de cuidados para estes pacientes.

Observou-se que os fatores culturais e sociais, que incluem crenças e valores, têm influência significativa na forma que os homens encaram o autocuidado, doenças e, principalmente, o câncer de mama, uma doença tipicamente feminina, e isso aumenta a resistência destes indivíduos em procurarem os cuidados de saúde necessários, deflagrando consequências para o diagnóstico da neoplasia mamária masculina e acentuando sua gravidade, diante da detecção em estágios mais avançados. Por isso, ressalta-se a importância das ações de conscientização que busquem sensibilizar essa parcela da população a respeito de medidas preventivas, diagnósticas e de tratamento.

Neste cenário, o enfermeiro desempenha papel crucial, pois pode implementar estratégias de educação em saúde direcionadas aos homens, contribuindo para a prevenção da doença. Os profissionais de enfermagem possuem maior proximidade com os pacientes, e isso evidencia a sua importância nas redes de atenção primária.

Como fator limitante do estudo, destaca-se o baixo número de pesquisas específicas que abordassem os cuidados e estratégias de enfermagem voltadas para esta doença no sexo masculino, desvelando o quanto este tema ainda possui lacunas a serem exploradas e preenchidas. Somente o estudo científico poderá dar respaldo para uma atuação eficaz e efetiva dos profissionais de saúde e, portanto, sugere-se novas pesquisas sobre essa temática, sobretudo no que tange às estratégias assistenciais e de cuidado da enfermagem específicas para o câncer de mama masculino.