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InterCambios. Dilemas y transiciones de la Educación Superior

Print version ISSN 2301-0118On-line version ISSN 2301-0126

InterCambios vol.8 no.1 Montevideo June 2021  Epub June 01, 2021

https://doi.org/10.29156/inter.8.1.9 

Investigaciones y experiencias

Procesos motivacionales de los estudiantes del curso de Pedagogía y sus relaciones para la permanencia en la universidad

Processos motivacionais de estudantes do curso de Pedagogia e suas relações para a permanência na universidadei

Motivational processes of Pedagogy course students and their relationships for the stay at the university

Lorena Machado do Nascimento1 
http://orcid.org/0000-0001-6276-9075

Bettina Steren dos Santos1 
http://orcid.org/0000-0002-5595-232X

1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Brasil. Contacto: lorena.nascimento@edu.pucrs.br


Resumen

Los procesos de ajuste y transformación de la educación superior se han estructurado a través de la expansión, el acceso y las políticas en Brasil. Dado que dichas políticas fomentan el ingreso de personas de segmentos sociales desfavorecidos, las instituciones enfrentan grandes desafíos para atender a estos estudiantes. Por tanto, es necesario analizar las condiciones de permanencia de los estudiantes, en el contexto en el que se insertan, a partir de los factores de motivación, pues según Huertas (2001), la motivación es siempre el resultado de una interacción entre la persona y el medio ambiente y puede ser generada por necesidades e intereses, o por procesos externos. Para ello, el estudio aquí propuesto buscó identificar qué aspectos del proceso motivacional de los estudiantes, en el curso de Pedagogía, están relacionados con su permanencia en la educación superior, a través de una investigación cuanti-cuali, que utilizó un instrumento compuesto por dos cuestionarios (sociodemográficos y cuestiones de permanencia) y la Escala de Motivación Académica (EMA) (Vallerand et. al, 1992, escala lickert), con 90 estudiantes en el curso de Pedagogía en una institución comunitaria en el sur de Brasil. El análisis encontró que los procesos motivacionales de los estudiantes están involucrados por aspectos intrínsecos. Los principales factores que influyeron en la permanencia fueron la relación con la formación profesional y las expectativas sobre la valorización de la profesión elegida. Cabe destacar la presencia muy fuerte de estudiantes trabajadores, familias con poca educación, mujeres, personas de bajos ingresos y jefes de familia que caracterizan a esta muestra, así como la no participación de los estudiantes en la vida académica y su integración universitaria. Este estudio inicia una reflexión sobre las políticas institucionales que pueden subsidiar la asistencia de los estudiantes con el fin de contribuir a la permanencia y equidad en la educación superior. Además de estimular el desarrollo de estrategias institucionales en relación con la reducción de la deserción, con especial atención a la heterogeneidad de los perfiles de acceso de los estudiantes universitarios.

Palabras clave: procesos motivacionales; educación superior; permanencia; estudiantes

Resumo

Processos de ajustes e de transformação da educação superior têm se estruturado através da expansão, do acesso e políticas no Brasil. Tendo em vista que tais políticas estimulam o ingresso de pessoas de segmentos sociais desfavorecidos, as instituições se encontram diante de grandes desafios no atendimento desses estudantes. Portanto, se faz necessário analisar as condições de permanência dos estudantes, em todo o contexto que estão inseridos, a partir dos fatores da motivação, pois segundo Huertas (2001), a motivação é sempre fruto de uma interação entre a pessoa e o ambiente e pode ser gerada por necessidades e interesses, ou por processos externos. Para tanto, o estudo aqui proposto buscou identificar quais aspectos do processo motivacional dos estudantes do curso de Pedagogia tem relação com a sua permanência na educação superior, através de uma pesquisa quanti-quali, que utilizou um instrumento composto de dois questionários (sócio demográfico e questões sobre permanência) e a Escala de Motivação Acadêmica (EMA) (Vallerand et. al, 1992, escala do tipo lickert), com 90 estudantes do curso de Pedagogia de uma instituição comunitária no sul do Brasil. A análise constatou que os processos motivacionais dos estudantes estão envolvidos por aspectos intrínsecos. Foram identificadas como principais fatores de influência na permanência as relações com a formação profissional e expectativa com relação à valorização da profissão escolhida. Destaca-se a presença muito forte de estudantes trabalhadores, de famílias com pouca escolaridade, de mulheres, de baixa renda e chefes de família que caracterizam essa amostra, bem como a não participação dos estudantes na vida acadêmica e sua integração universitária. Esse estudo inicia uma reflexão sobre as políticas institucionais que podem subsidiar a assistência aos estudantes, de modo a contribuir para a permanência e a equidade na educação superior. Além de estimular o desenvolvimento, de estratégias institucionais em relação à redução do abandono, com especial atenção para a heterogeneidade dos perfis de acesso do estudante universitário.

Palavras-chave: processos motivacionais; educação superior; permanência; discentes

Abstract

Higher education adjustment and transformation processes have been structured through expansion, access and policies in Brazil. In view of the fact that such policies encourage the entry of people from disadvantaged social segments, the institutions are facing great challenges in serving these students. Therefore, it is necessary to analyze the conditions of permanence of the students, in the entire context that they are inserted, from the motivation factors, because according to Huertas (2001) motivation is always the result of an interaction between the person and the environment and it can be generated by needs and interests, or by external processes. To this end, the study proposed here sought to identify which aspects of the motivational process of students in the Pedagogy course are related to their permanence in higher education, through a quanti-quali research, which used an instrument composed of two questionnaires (socio-demographic and questions about permanence) and the Academic Motivation Scale (EMA) (Vallerand et.al, 1992, lickert scale), with 90 students in the Pedagogy course at a community institution in southern Brazil. The analysis found that the motivational processes of students are involved by intrinsic aspects. The main factors influencing permanence were the relationship with professional training and expectations regarding the valorization of the chosen profession. It is worth noting the very strong presence of working students, families with little education, women, low income and heads of family that characterize this sample, as well as the non-participation of students in academic life and their university integration. This study initiates a reflection on the institutional policies that can subsidize the assistance to students, in order to contribute to the permanence and equity in higher education. In addition to stimulating the development of institutional strategies in relation to reducing dropout, with special attention to the heterogeneity of university student access profiles.

Keywords: motivational processes; higher education; permanence; students

Introdução

O compromisso para a qualidade da educação superior envolve atores institucionais e suas implicações, como os professores, estudantes, as unidades acadêmicas, mas principalmente os gestores. Todos devem ser considerados com igualdade nesse processo, mas é importante ressaltar que as instituições que obtém maiores resultados na promoção da qualidade do ensino são as instituições que conseguem aliar ações de permanência com equidade.

A reconfiguração das universidades, a partir das características dos estudantes em contextos emergentes, necessita ser tema constante de diversas pesquisas e estudos na pós graduação no Brasil, por se tratar de um tema relevante e de um campo onde ocorrem muitas mudanças, não só pelas proposições de políticas públicas favorecendo o ingresso no tão sonhado curso superior, como também por uma maior valorização, por parte da população até então excluída, com a possibilidade de dar continuidade aos estudos e da necessidade de uma formação mais especializada.

Alguns estudos (Castejón, Ruiz e Arriaga, 2015; Davoglio, Lettnin, Santos e Nascimento, 2015; (Guerrero, 2014; Santos, Morosini e Cofer, 2014) apontam os principais fatores para a permanência na educação superior e que têm relação direta com o esforço pessoal do estudante, características sociais e demográficas, bem como sobre a adaptação à vida acadêmica, visando o aumento da possibilidade de concluir a graduação. Desta forma, esses estudos citam, como principais fatores: a) socioeconômicos; b) pessoais; c) culturais; d) acadêmicos, e e) institucionais. Sendo que o fator acadêmico, presente na maioria dos estudos, apresenta “subfatores” que interferem na permanência do estudante, como metodologias /estratégias pedagógicas, dificuldades de aprendizagem, currículo do curso, satisfação com as notas e relação com professores.

Nesse contexto, é importante também salientar, que a integração institucional é um fator que se mostrou presente em muitos estudos e que, conforme (Martinez e Blanco, 2015), a deserção temporária tem forte relação com a instituição e com situações que o estudante não consegue resolver sozinho. Destaca-se, portanto, relevância da adaptação e integração do estudante com o ambiente social e acadêmico, como fator de contribuição para a permanência na universidade, o que vem sendo apontado por Tinto (1975) com a teoria de integração social e acadêmica. Compreendendo, nessa perspectiva, a importância da participação dos estudantes nas atividades extracurriculares (palestras, oficinas, teatros, música, aulas abertas, entre outras) como importante fator de influência na integração e, consequentemente, na permanência estudantil.

Percebe-se, nesse espectro, a necessidade de pesquisadores investirem nesta área, não só com a perspectiva de desenvolverem estudos, como contribuir, significativamente, para que todas essas reflexões tenham suas respostas, bem como para que políticas públicas, desenvolvidas nos últimos anos, venham se concretizar em ações reais de acesso, permanência e equidade. Esse artigo visa contribuir com a reflexão sobre as condições dos estudantes de um curso de pedagogia em contextos emergentes, a partir da análise das características destes estudantes, apresentando um recorte dos dados de uma pesquisa de mestrado de uma das autoras.

Compreendendo os processos motivacionais e a permanência na educação superior

A motivação humana entende-se como um processo de ativação e orientação da ação humana e, como tal, deve conter uma série de estados e fases de caráter cíclico que estão em contínuo fluxo, em crescimento ou declive, e que intervém na sua atuação. Se incluem nesse processo motivacional todos aqueles fatores cognitivos e afetivos que influenciam a eleição, direção, magnitude e qualidade de uma ação (Huertas, 2001).

Motivação relaciona-se com o desejo de exercer altos níveis de esforço em direção a determinados objetivos, condicionados pela capacidade de satisfazer algumas necessidades individuais. Podemos dizer que as principais características básicas da motivação são que ela é um fenômeno individual, ou seja, somos únicos e devemos ser tratados com tal; que a motivação é multifacetada depende tanto do estímulo como da escolha do comportamento empregado. Outra característica encontrada é que não podemos medir a motivação diretamente, medimos o comportamento motivado, ação e forças internas e externas que influenciam na escolha de ação, pois a motivação não é passível de observação.

Nessa perspectiva, compreende-se a complexidade das relações nos processos motivacionais de cada sujeito, pois como afirmam Santos, Antunes e Schmitt (2010):

O simples fato de considerar a motivação enquanto processo já remete à teoria da complexidade, visto que não há como compreender o “processo” sem considerar uma vasta rede de inter-relações pessoais, em que múltiplos fatores, entendidos como partes, interferem no todo. (p. 23)

Sendo assim, os motivos que orientam as ações de cada sujeito são influenciados e se estabelecem nas diferentes circunstâncias sociais em que ele está inserido, pois da mesma forma que ele altera o meio com sua ação, motivada ou não, ele é constantemente influenciado por ele.

Dentre as concepções teóricas de motivação, uma das principais é a teoria da autodeterminação (TAD) (Self Determination Theory (SDT)), elaborada por Deci e Ryan na década de 1970 e divulgada em muitos estudos, desses autores, a partir da década de 80, que tem como base o estudo dos componentes de motivação intrínseca e de motivação extrínseca.

Ela é entendida como uma macro teoria da motivação humana e aborda questões básicas como o desenvolvimento da personalidade, auto-regulação, necessidades psicológicas universais, objetivos de vida e aspirações, energia e vitalidade, processos inconscientes, as relações de cultura para motivação e o impacto de ambientes sociais sobre a motivação, afeto, comportamento e bem-estar (Deci e Ryan, 2008). Seu foco de análise reside na orientação dos motivos que dirigem os comportamentos, estabelecendo para esses diferentes lócus de causalidade: o interno e o externo, ou seja, orientações motivacionais que se referem à forma como as pessoas orientam suas ações e comportamentos, com vistas à satisfação das necessidades básicas (Deci e Ryan, 2008). Desse binômio surgem as duas principais orientações motivacionais que fundamentam a teoria - a motivação intrínseca e a extrínseca.

A motivação extrínseca, ou controlada, consiste na regulação externa, em que o comportamento do indivíduo é em função de contingências externas, de recompensa ou punição. Nesse caso, também experimentam a pressão do pensar, sentir ou agir de determinada maneira, ou seja, é regulada por um motivo de aprovação, evitar a vergonha ou fatores de autoestima (Deci e Ryan, 2008). Inicialmente, Deci e Ryan (2008) teorizaram a motivação intrínseca em um único constructo e a motivação extrínseca em quatro tipos de motivação, a saber: regulação externa, introjetada, identificada e integrada. Ou seja, ordenados de uma regulação menos autônoma, unicamente por consequências externas, recompensas ou punições, para uma mais autônoma, que visa alcançar um objetivo intrínseco, mas ainda não inerente, como a motivação intrínseca.

A motivação intrínseca corresponde a um comportamento tipicamente autodeterminado, no qual o interesse por uma atividade está pautado pela livre escolha, pela espontaneidade e pela curiosidade, também chamada de motivação autônoma. As pessoas se identificam com o valor de uma atividade e teriam a integrado em seu sentido. O empenho dedicado para a realização de uma atividade não está vinculado com as contingências externas e com recompensas, mas sim, com as características inerentes à própria atividade, a vontade e satisfação na realização das ações (Deci e Ryan, 2008). Ela estimula o sujeito a fazer algo que seja prazeroso ou agradável, através de uma ação espontânea, permitindo assim um nível alto da satisfação de suas necessidades psicológicas básicas.

Com relação à permanência na educação superior, o abandono foi um dos problemas mais abordados nas instituições de educação superior em toda a América Latina e de outros países (Cabrera, Nora e Castañeda, 1992; Castejón, Ruiz e Arriaga, 2015; Davoglio, Lettnin, Santos e Nascimento, 2015; Santos, Morosini e Cofer, 2014; Schmitt, 2015). Através desses estudos e investigações, percebe-se um número significativo de estudantes que não conseguem terminar faculdade, com consequências sociais importantes associadas a este fenômeno. Muitos desses estudos abordam a perspectiva do abandono estudantil, outros se detêm na perspectiva da retenção, como permanência do estudante até completar a graduação. Schimtt (2015) aponta que as diferentes tradições de pesquisa, nos diferentes contextos geográficos, geram dualidade na abordagem desse fenômeno. Ele diferencia:

… conceito de evasão, que se associa à busca por compreender as causas das perdas estudantis, seja a partir do conceito de permanência, que se direciona para os aspectos positivos relacionados aos motivos que levam os estudantes a permanecer em suas instituições e/ou cursos de origem. (Schmitt, 2015, p. 12)

O autor ainda esclarece que nos Estados Unidos, por exemplo, os estudos focam na necessidade de estimular a permanência (persistência) e o sucesso acadêmico, apesar de que “as teorias e modelos explicativos estiveram focadas, sobretudo, na capacidade das instituições em reter a maior parcela possível de seus estudantes (student retention)” (Schimtt, 2015, p. 13). Já no contexto latino-americano, há predominância de detectar as causas da “deserción ou abandono, bem como, no desenvolvimento de estratégias de minimização e combate ao abandono estudantil” (ibíd.) e que dessa mesma forma foi percebida no Brasil durante algum tempo. Hoje, a maior parte das pesquisas, objetiva em analisar os fatores, bem como desenvolver estratégias para minimizar as consequências do abandono estudantil, dando maior ênfase nos aspectos da permanência visando aumentar os índices de conclusão na .

Vicent Tinto, professor em Educação e Sociologia da Universidade de Chicago, foi um dos pioneiros nesses estudos, onde analisou diferentes aspectos relacionados à permanência de estudantes e no impacto das comunidades de aprendizagem sobre o crescimento e a realização dos alunos. O autor argumenta que quando as pesquisas sobre esse tema iniciaram, a responsabilidade era apontada sobre o estudante, reflexo apenas das condições do indivíduo: falta de capacidade, de disposição, de motivação (Tinto, 2006). O abandono era visto como se o estudante tivesse falhado, não a instituição. O ponto de vista sobre a permanência do estudante começou a mudar a partir da década de 70, ele foi o primeiro a estabelecer um modelo longitudinal (Tinto, 1993) com conexões entre meio ambiente social e acadêmico, o indivíduo em suas relações com esses, ao longo de diferentes períodos de tempo, especialmente, durante o primeiro ano da faculdade.

Em 1975, Tinto publicou seu modelo de persistência de estudantes universitários. Este modelo inclui os objetivos do aluno a prosseguir os estudos e compromissos institucionais, e sugere que o estudante carrega uma série de atributos antes de entrar na graduação e assim que o estudante é admitido, um número de fatores (sistema social, professores e grupo de pares) afetará o seu desenvolvimento intelectual.

Tinto (1975) argumenta que, infelizmente, a maioria das instituições ainda não foi capaz de traduzir para ações concretas o que já se sabe sobre a permanência dos estudantes e afirma:

… uma coisa é entender porque os alunos saem, outra coisa é saber o que as instituições podem fazer para ajudar os alunos a ficar e ter sucesso. Saída não é imagem espelhada de ficar. Saber por que os alunos saem não nos faz dizer, pelo menos não diretamente, porque os estudantes persistem. (Tinto, 1975, p. 06) (Tradução livre).

Por isso é de suma importância que além dos estudos teóricos sobre a permanência se possa também subsidiar as instituições no que elas podem (e devem) fazer para ajudar os estudantes a terem sucesso acadêmico. Pois segundo o autor, no mundo real o que importa de verdade, não são apenas as teorias, mas como elas ajudam a mudar a realidade em questões práticas, sobre a permanência na educação superior.

Análise e discussão dos dados

Esse estudo foi realizado com 90 estudantes de um curso de Pedagogia noturno de uma instituição comunitária, de uma população de 128 estudantes matriculados. As informações sociodemográficas levantadas foram analisadas, através de análise descritiva de frequência com auxílio do SPSS, e organizados graficamente alguns dados que caracterizam os sujeitos dessa pesquisa. Quanto ao sexo, dos 90 estudantes universitários que participaram do estudo, apresenta predomínio de mulheres com 92,8% e apenas 7,2% homens. Esses resultados corroboram com os dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2016), os quais apontam que as vagas são, majoritariamente, preenchidas por mulheres nos cursos de licenciaturas que ocupam 71,1% dessas vagas.

Quanto à faixa etária a maioria dos estudantes tem até 25 anos (60,2%), sendo a idade média da amostra feminina de 28 anos e masculina de 22 anos. Mas, não se pode ignorar, os dados com relação a estudantes acima dos 30 (23,3%), o que nos mostra que existe uma parcela da população que está procurando a universidade, ou retomando os estudos, depois da faixa etária considerada adequada, após o término do ensino médio.

Duas características que chamam a atenção e apontam uma relação com os dados sobre o sexo dos sujeitos, são o estado civil 73,5% solteiros e 71,1% tem filhos. Visto que 92% são mulheres, podemos inferir que os estudantes desse curso são compostos de mulheres, solteiras com filhos. Outro dado que, comparado com os dados do Censo Demográfico (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010), apontam relação, pois no Brasil o número de famílias monoparentais femininas (com ou sem parentes) cresceu para 17,4% nas áreas urbanas, enquanto o de masculinas foi para 2,4% no levantamento do último censo (Figura 1).

Figura 1: Caracterização da amostra com dados sociais. 

Outras características, atentam para a mudança no perfil do estudante da educação superior, que vem sendo alterado significativamente, após a implementação de políticas e ações afirmativas, principalmente na configuração das instituições privadas e comunitárias. O estudante de escola pública (66,3%), com a possibilidade de acesso via Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) (42,9%), vem cada vez mais tendo acesso à universidade e configurando a primeira geração familiar (43,5%) a concluir uma graduação.

Nessa perspectiva, o grau de escolaridade dos pais dos estudantes, que apontam que 26,4% das mães têm superior completo e 15,4 dos pais. Outros estudos (Felicetti, Cabrera e Morosini, 2014) apontaram para a relevância de serem, muitos dos estudantes, o primeiro membro da família a ingressar na educação superior, bem como o estímulo e importância dada pela família ao membro que consegue fazer uma graduação.

Revela-se a convergência com esses estudos, pois dos estudantes analisados, mais de 70% dos pais não chegou a cursar uma graduação, sendo que, em torno, de 30% nem conclui o ensino fundamental. Dessa forma confirmam-se as análises apontadas por Felicetti, Cabrera e Morosini (2014) e Gatti (2010). No primeiro constataram que “56,0% dos pais e mães dos egressos tinham escolaridade correspondendo ao ensino fundamental incompleto e que os pais dos respondentes têm menor escolaridade do que as mães nos três níveis de estudo” (p. 28), no segundo estudo perceberam que “pais e mães dos estudantes de Pedagogia são sistematicamente menos escolarizados que os dos demais cursos” (p. 1364).

Com relação aos dados econômicos dos pesquisados, outra característica importante apontada nesse estudo diz respeito à renda familiar desses estudantes, pois observa-se que a renda familiar é bem inferior, em alguns casos, pois dos estudantes analisados 41,8% tem a renda familiar de até três salários-mínimos, 30,8% com até cinco, 9,9% com até sete e 16,5 com renda familiar acima de nove salários mínimos. Dados estes que, conforme Gatti (2010) são característicos dos alunos de cursos de licenciatura, pois seus estudos revelaram que:

Entre os estudantes dos cursos de nível superior para a docência observa-se uma clara inflexão em direção à faixa de renda mais baixa. É muito expressivo o percentual de alunos com renda familiar de até três salários mínimos (39,2%) e escassa a frequência de sujeitos nas faixas de renda acima de dez salários mínimos. (p. 1363)

Evidenciando, dessa forma, outra característica preponderante aos alunos dos cursos noturnos, a necessidade de exercer atividade remunerada. Pois dos estudantes pesquisados 81,3% trabalham, sendo que 74,7% com até seis horas diárias trabalhadas.

Outra informação dos estudantes pesquisados se destaca em sua relevância para identificar aspectos que podem influenciar na permanência desses, o tempo decorrido do curso e o tempo decorrido do ingresso na universidade. Dos estudantes pesquisados, 30% não estão cursando o semestre acadêmico de acordo com o tempo decorrido de ingresso no curso, ou seja, existe uma defasagem que pode ser por não conseguirem cursar todas as disciplinas no semestre, de trancamentos ou reprovação em disciplinas. Essa defasagem apontou uma média de três semestres de atraso, sendo que foi identificado estudantes com mais de cinco semestres de atraso.

Com relação aos aspectos relevantes para a permanência na instituição, os estudantes apontaram em primeiro lugar os professores, em segundo lugar, o apoio familiar e ocupando o terceiro lugar aparecem a infraestrutura do campus e o currículo do curso. Infere-se que os estudantes parecem permanecer na IES porque esta atende suas expectativas em relação à formação, tanto no que diz respeito à formação profissional quanto na preparação adequada para atuar no mercado de trabalho, visto que valorizaram tanto a infraestrutura quanto o currículo do curso. Destaca-se a relevância apontada pelos estudantes com relação aos professores e apoio familiar, o que denota a importância dos vínculos afetivos para estes estudantes como influência na sua permanência. Tinto (2006) afirma que saber sobre o papel do contexto familiar pode ajudar as instituições, de forma mais eficaz, a configurar seus programas de apoios a diferentes situações do estudante em sua vida acadêmica. Da mesma forma que o autor destaca a importância da atenção do corpo docente no envolvimento e na retenção do estudante, visto que muitas das ações docentes e suas múltiplas conexões podem melhorar não só a aprendizagem, mas a formação como um todo e, consequentemente, ao sucesso acadêmico (Figura 2).

Figura 2: Aspectos relevantes para permanência na instituição apontados pelos estudantes. 

No que diz respeito a análise da motivação dos estudantes, pode-se constatar um equilíbrio entre a motivação intrínseca e extrínseca nos estudantes. Quando analisado as médias dos tipos de motivação, a motivação intrínseca (M = 5,21) apresenta maior média com uma pequena diferença da motivação extrínseca (M = 5,15). Mas ao analisar os itens da escala, individualmente, constata-se que os três itens com maiores escores estão inseridos no constructo da motivação extrínseca (M = 6,14) e dizem respeito a formação profissional e a capacitação para o mercado de trabalho.

Ao se compreender a motivação como um processo, percebe-se que os estudantes analisados se encontram no desenvolvimento de sua auto-regulação, onde os fatores externos ainda se destacam, mas os aspectos valorativos da ação já se fazem presentes com uma identificação pessoal e interiorizada no sujeito. Ou seja, dirigem suas ações a partir de uma regulação externa, comportamento regido por contingências externas, aqui no caso a formação profissional com qualidade que lhes dará melhores oportunidades, mas com um certo nível de autonomia, pois não são dirigidas apenas por punição ou recompensa e sim por uma satisfação pessoal (Deci e Ryan, 1985).

Considerações

A reconfiguração das universidades, a partir das características dos estudantes em contextos emergentes, necessita ser tema constante de diversas pesquisas e estudos na pós graduação no Brasil, por se tratar de um tema relevante e de um campo onde ocorrem muitas mudanças, não só pelas proposições de políticas públicas favorecendo o ingresso no tão sonhado curso superior, como também por uma maior valorização, por parte da população até então excluída, com a possibilidade de dar continuidade aos estudos e da necessidade de uma formação mais especializada.

Alguns aspectos apontados neste estudo alertam para uma maior atenção no que diz respeito às condições dos estudantes de licenciaturas no desenvolvimento da graduação, pois muitos destes desenvolvem atividade remunerada com uma carga de trabalho diária de seis horas, o que pode interferir no desempenho e participação acadêmica dos mesmos. Também não há como não refletir sobre as condições socioeconômicas do estudante de Pedagogia, uma realidade que aponta para sujeitos oriundos de uma classe historicamente excluída.

Mas com certeza, a educação, principalmente a educação superior, se torna, cada vez mais, fator estratégico e oportunidade de desenvolvimento e crescimento do país e dos indivíduos, bem como redução das desigualdades sociais. Pois o aumento da escolaridade associada a oportunidades de melhoria de renda pode contribuir para ascensão social dos jovens brasileiros.

Estudar as questões que envolvem a permanência e a integração acadêmica, para entender as transformações e as demandas nas práticas universitárias assim como o perfil dos estudantes em geral deve ser uma preocupação da educação e das políticas educacionais. Bem como, demais pesquisas e estudos que façam um acompanhamento contínuo desses grupos, pois o perfil do estudante “tradicional” vem se modificando a cada ano diante de novos contextos e políticas educacionais.

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Nota: Contribución de autoría: 1. Concepción y diseño del estudio 2. Adquisición de datos 3. Análisis de datos 4. Discusión de los resultados 5. Redacción del manuscrito 6. Aprobación de la versión final del manuscrito Lorena Machado do Nascimento: 1,2,3,4,5,6 Bettina Steren dos Santos: 1,3,4,6. .

Nota: El artículo há sido aprobado por el Equipo Editor (Carolina Cabrera y Nancy Peré).

Recibido: 13 de Abril de 2021; Aprobado: 26 de Abril de 2021

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