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Lingüística

versión On-line ISSN 2079-312X

Lingüística vol.35 no.1 Montevideo jun. 2019  Epub 01-Jun-2019

https://doi.org/10.5935/2079-312x.20190010 

ARTÍCULOS

O SÂNDI EXTERNO EM PORTUGUÊS BRASILEIRO E ESPANHOL

EXTERNAL SANDHI IN BRAZILIAN PORTUGUESE AND SPANISH

Taíse Simioni1 
http://orcid.org/0000-0002-9778-7393

Juliana Escalier Ludwig Gayer2 
http://orcid.org/0000-0002-1176-8627

Eduardo de Oliveira Dutra3 
http://orcid.org/0000-0003-1612-1395

1Universidade Federal do Pampa, taisesimioni@gmail.com

2Universidade Federal da Bahia, julianaludwig@yahoo.com.br

3Universidade Federal do Pampa, edualeunipampa@gmail.com


Resumo:

Nesse trabalho, discutimos o sândi externo, enquanto fenômeno variável, em português brasileiro e espanhol. Nossos objetivos são (i) apresentar uma descrição do sândi em PB e espanhol, (ii) fazer um exercício de análise que explique o funcionamento da degeminação nas duas línguas e (iii) desenhar uma proposta de intervenção, levando em conta o contexto de ensino de espanhol como língua estrangeira para falantes de PB, mais especificamente para professores de espanhol em formação inicial. Quanto ao aspecto descritivo, foi possível observar semelhanças e diferenças do sândi externo nas duas línguas.

No que se refere ao caráter explicativo do trabalho, observamos que, em termos de atuação do acento, há mais semelhanças do que diferenças entre as línguas. No que diz respeito ao ensino, propomos uma intervenção instrucional que pressupõe a relevância da análise e discussão de fenômenos linguísticos no contexto de formação de professores de línguas.

Palavras-chave: sândi externo; português brasileiro; espanhol; variação; ensino

Abstract:

In this work, we discuss the external sandhi, as a variable phenomenon, in Brazilian Portuguese and Spanish. Our objectives are (i) to present a description of sandhi in PB and Spanish, (ii) to analyze the functioning of the degemination in both languages, and (iii) to draw up an intervention proposal, taking into account the context of Spanish teaching as a foreign language to BP speakers, more specifically to Spanish teachers in initial formation. In the descriptive aspect, it was possible to observe similarities and differences of the external sandhi in both languages.

In the explanatory aspect of the work, we observed that, in terms of stress actuation, there are more similarities than differences between the languages. In relation to teaching, we propose an instructional intervention that presupposes the relevance of the analysis and discussion of linguistic phenomena in the context of language teacher training.

Keywords: external sandhi; Brazilian Portuguese; Spanish; variation; teaching

1. Introdução

O fenômeno de sândi ocorre quando temos uma “modificação fonológica de formas gramaticais que ficaram justapostas” (Crystal 1988: 231). No sândi vocálico externo, por exemplo, foco deste artigo, há a modificação de sequências VV, de forma a afetar uma ou as duas vogais, acompanhada de um processo de ressilabação da sequência resultante.

Collischonn (2012b) destaca o caráter fonológico dos processos de sândi. Segundo a autora, “é evidente que existem fenômenos de coarticulação bastante similares aos fenômenos de sândi. Entretanto, acreditamos que, no caso do português brasileiro, a exemplo das demais línguas românicas, se trata de processos fonológicos” (Collischonn 2012b: 43). Como argumentos favoráveis à defesa do caráter fonológico do sândi, Collischonn (2012b) cita os fatos de que (i) cada língua tem regras particulares para a atuação do sândi e (ii) os processos de sândi são tradicionalmente reconhecidos na contagem das sílabas métricas na poesia, o que evidencia que não se trata apenas de um fenômeno de coarticulação.

A partir de uma concepção do sândi como um processo fonológico, o presente trabalho pretende analisá-lo em duas línguas românicas: o português brasileiro (PB) e o espanhol, nas quais o sândi se apresenta como um fenômeno variável.

No caso do espanhol, serão consideradas diferentes variedades, uma vez que a literatura que serviu de base para nossa descrição não se ocupa, de maneira geral, de apenas uma variedade dessa língua.

Nossos objetivos nesse trabalho são (i) apresentar uma descrição do sândi em PB e espanhol, (ii) fazer um exercício de análise que explique o funcionamento da degeminação nas duas línguas e (iii) desenhar uma proposta de intervenção, levando em conta o contexto de ensino de espanhol como língua estrangeira para falantes de PB, mais especificamente para professores de espanhol em formação inicial. Assim, buscaremos contemplar três aspectos que nos parecem essenciais em um estudo que observe fenômenos linguísticos: a descrição, a explicação e a reflexão sobre sua relevância para o ensino.

Quanto à descrição dos fenômenos de sândi, de que nos ocuparemos na seção 2, buscamos caracterizar os processos de elisão, degeminação e ditongação, destacando, principalmente, os aspectos segmentais envolvidos nas duas línguas sob análise. Ainda no que diz respeito à descrição, a seção 3 se dedica a mostrar a atuação da variável acento no sândi em PB e espanhol.

Nessa descrição, feita a partir de trabalhos que se dedicaram à análise do sândi em português e espanhol, será possível observar os aspectos variáveis do fenômeno nas duas línguas. No que se refere à busca por um caráter explicativo para o trabalho, na seção 4, apresentamos um exercício de análise sobre a degeminação, tomando como pressuposto teórico o Serialismo Harmônico (McCarthy 2008). No que diz respeito à proposta de intervenção, apresentada na seção 5, ela se destina ao ensino de casos de ditongação e de degeminação, no espanhol, e envolveu descrição linguística, feedback corretivo, práticas de identificação e distinção e também incluiu práticas controladas. Por fim, as considerações finais são apresentadas na seção 6.

2. Descrição geral dos processos de sândi: elisão, degeminação e ditongação

Bisol (2002a: 231) argumenta que um dos pressupostos básicos para o estudo do fenômeno é que “o sândi externo é um processo de ressilabação motivada pelo choque de núcleos silábicos de palavras diferentes”. Ou seja, o sândi ocorre quando as fronteiras vocálicas de duas palavras “se ligam” e compõem uma só sílaba, evitando a formação de hiatos.

Essa “ligação” pode se dar de três formas: elisão, degeminação ou ditongação. Esses três processos têm em comum o fato de reduzir uma sequência de duas sílabas a apenas uma. Vejamos cada um deles. Antes, contudo, é importante esclarecer que a manutenção do hiato é também uma possibilidade em PB e espanhol quando há o contato entre duas vogais em fronteiras vocabulares, principalmente em estilos mais monitorados.

2.1. Elisão em PB e espanhol

Em PB, a elisão ocorre quando há o apagamento da vogal átona final da primeira palavra da sequência em que ocorre o hiato.

Normalmente o processo afeta a vogal baixa /a/, como vemos em uma infância > um(ĩ)nfância e botava uma > botav(ũ)ma (Silva e Gayer 2016: 28), embora elisões de outras vogais também ocorram na língua, conforme Brescancini e Barbosa (2005: 43) apontam, como em sempre arrumando > sempr(a)rrumando e teve a crise > tev(a) crise. No caso do processo da elisão, como há o apagamento da primeira vogal da sequência, uma sílaba é desfeita com a perda do núcleo, fazendo com que seja necessário o reajustamento silábico dos elementos que permanecem. Em minha irmã, por exemplo, com o apagamento do /a/ final átono, a sílaba (ɲa) se desfaz e o segmento (ɲ) forma o ataque da próxima sílaba, tendo como resultado (ɲiɾ)σ.

Em espanhol, segundo Salcedo (2010), na sua variedade chicana, a elisão afetará apenas a primeira vogal da sequência e ocorrerá obrigatoriamente se a primeira vogal for /a/, como em lleva ochenta > lev(o)chenta, mas ela poderá também ocorrer se as vogais da sequência tiverem o mesmo valor para o traço (posterior) e forem de sonoridade decrescente1, como mostram os exemplos porque Italia > porqu(i)talia e compró uvas > compr(ú)vas2. Em nota de rodapé, a autora esclarece que a elisão de /a/ é um fenômeno característico do espanhol falado nas Américas, embora ela também possa ocorrer em algumas variedades do espanhol peninsular.

2.2. Degeminação em PB e espanhol

O processo de degeminação no PB é descrito como fusão de vogais idênticas ou semelhantes. Nesse caso, segundo Bisol (2002a), temos a justaposição dessas vogais, resultando em uma vogal longa, que, por sua vez, será encurtada por degeminação. Alguns exemplos desse processo são grande escola > grand(i)scola, na adolescência > n(a)dolescência e vejo um > vej(ũ)m (Gayer e Dias 2017: 193). No caso da degeminação, também há a desassociação de um nó silábico, visto que, em um primeiro momento, a vogal longa se associa à segunda sílaba da sequência para, em um segundo momento, acontecer a fusão ou o encurtamento dessa vogal (Bisol 2002a: 234).

Conforme Salcedo (2010), em espanhol, também poderá ocorrer a degeminação, como em te espero > t(e)espero. Morris (1998) explica que, em espanhol, assim como em PB, ocorre um encurtamento da vogal após a fusão.

2.3. Ditongação em PB e espanhol

Já a ditongação entre palavras no PB ocorre com a formação de um ditongo com as vogais que compõem a fronteira.

Nesse caso, uma das vogais se torna glide, podendo resultar tanto em um ditongo crescente, quanto em um ditongo decrescente, dependendo da posição da vogal alta com potencial para se tornar glide. Com a aplicação do processo, uma das sílabas é desfeita, visto que a vogal que era núcleo se torna glide e se associa à sílaba adjacente.

Casos de ditongo crescente são livro assim > livr(wa)ssim, bastante alegre > bastant(ja)legre e quarto incluído > quart(wĩ)ncluído (Silva e Gayer 2017b: 256-257), e casos de ditongo decrescente são mesma escova > mesm(aj)scova e igreja universal < igrej(aw)niversal (Silva e Gayer 2017a: 94-95).

Segundo Salcedo (2010), o ditongo também se forma entre palavras em espanhol, como mostra o exemplo mi amiga > m(ja)miga. Ainda conforme Salcedo, (i) se houver diferença na altura das vogais, a mais alta se tornará glide (mi amigo > m(ja)migo)3; (ii) se não houver diferença de altura, e uma vogal for acentuada e a outra desacentuada, a desacentuada se tornará glide (de otra > d(e̯o)tra); e (iii) se não houver diferença na altura, tampouco na presença do acento, a primeira vogal se tornará glide (tu inocencia > t(wi)nocência). A terceira condição é consequência do fato de que o espanhol parece preferir ditongos crescentes a ditongos decrescentes, como aponta Morris (1998).

Hualde et al. (2008), analisando dados do espanhol peninsular, encontraram evidências acústicas tanto para a ocorrência de um glide médio (gente amable > gent(e̯a)mable), quanto para a elevação da vogal média, realizada como glide alto (gente amable > gent(ja)mable). Segundo os autores, isto ocorre mesmo que, no interior de palavra (poesía > p(we)sía), a elevação da vogal média seja altamente estigmatizada. Nas pesquisas sobre o PB as quais tivemos acesso, não há menção à ocorrência de um glide médio. Em PB, a elevação das vogais médias átonas finais atinge altos índices (Vieira 2002), o que, por si só, retiraria contexto para que a primeira vogal de uma sequência se tornasse glide médio.

Ainda assim, haveria, em princípio, em PB, a possibilidade de ocorrência de glide médio como realização da segunda vogal em sequência, tendo em vista que, em posição inicial de palavra, a elevação da vogal média átona está sujeita a uma maior variabilidade, com exceção dos contextos em que a vogal e é seguida por n ou s, uma vez que, em tais contextos, a elevação é praticamente categórica (Schwindt 2002). Apesar do que descrevemos brevemente aqui, o que talvez, de fato, explique a ausência de glides médios no PB seja a raridade translinguística de glides não altos, apontada por Hualde et al. (2008).

2.4. Síntese das características gerais do sândi externo em PB e espanhol

A Tabela 1 mostra uma síntese das semelhanças e diferenças dos três processos de sândi externo - elisão, degeminação e ditongação - em PB e espanhol.

Tabela 1: Síntese das características gerais do sândi externo em PB e espanhol 

3. O sândi externo e o acento em <PB e Espanhol

Em relação à variável acento, estudada na maioria das pesquisas sobre o sândi externo, tanto em PB quanto em espanhol, pode-se constatar que, em PB, a elisão é controlada por uma restrição que impede sua aplicação se a primeira sílaba portar acento; isto é, preferencialmente as duas vogais devem ser átonas. Vários autores (Bisol 2002a, 2002b; Gayer 2008; Vianna 2009; Silva e Gayer 2016) encontraram a atonicidade máxima como o domínio preferencial de aplicação do processo da elisão.

Quando a segunda vogal da sequência for acentuada, Bisol (2002a) afirma que a elisão se faz pouco frequente, principalmente se a vogal carregar também o acento principal da frase. Segundo Abaurre (1996), a informação sobre o acento principal precisa ser preservada por trazer informações entonacionais e sintáticas.

Em outras palavras, o acento da segunda vogal desfavorece ainda mais os processos de sândi quando também incidir sobre ele o acento frasal (ou principal).

No exemplo cantava ópera,1a , o acento frasal incide na vogal tônica de ópera, desfavorecendo a elisão. Já em cantava ópera italiana,1b , o acento frasal incide sobre a vogal tônica de italiana e não sobre a de ópera, criando, dessa forma, contexto para a aplicação da regra.

A elisão, em PB, não se aplica se a primeira vogal for tônica, pois há um fator condicionante geral que não permite que a vogal portadora do acento primário seja afetada.

Nesse contexto, a degeminação não é bloqueada. Na perspectiva de Bisol (2002a), essa diferença de comportamento se explica uma vez que a vogal não é apagada, mas fundida com a vogal seguinte.

Ou seja, a resistência da vogal portadora de acento só ocorre com relação ao apagamento, mas não com relação à fusão com outra vogal, como vemos em 2 .

Apesar de ter um comportamento diferente em relação à tonicidade da primeira vogal, a degeminação, assim como a elisão, é desfavorecida se a segunda vogal for tônica, e essa baixa frequência de aplicação também é mais evidente se essa vogal portar o acento principal ou frasal. Além disso, a degeminação também parece ser mais frequente no contexto de atonicidade máxima, conforme os resultados de Bisol (2002a, 2002b), Gayer (2008), Vianna (2009) e Gayer e Dias (2017).

Ao contrário dos dois processos vistos anteriormente, a ditongação preserva todos os segmentos, ou seja, nenhuma das duas vogais é apagada ou fundida com a outra vogal.

Como vimos, nesse processo ocorre a formação de um ditongo com as vogais que compõem a fronteira das duas palavras, e, para que o ditongo seja formado, duas restrições precisam ser respeitadas:

a) Restrição segmental: uma das vogais da sequência deve ser alta4;

b) Restrição rítmica: uma das vogais da sequência deve ser átona.

Dessa forma, a ditongação pode ocorrer no contexto de atonicidade máxima ou de uma das vogais tônicas, sendo que a outra vogal deve necessariamente respeitar as duas restrições listadas. Alguns trabalhos indicaram a preferência da ditongação no contexto de atonicidade máxima, como Bisol (2002b), Vianna (2009), Brambila (2015) e Silva e Gayer (2017a). E, em relação aos contextos com uma das vogais tônicas, temos resultados diferentes: Gayer (2008) e Silva e Gayer (2017b) encontraram esses contextos como favorecedores à ditongação, sendo que o último estudo se refere à análise específica da ditongação crescente; já Brambila (2015) e Vianna (2009) encontraram resultados desfavorecedores para esses casos. Neste trabalho, consideraremos para os casos de ditongação apenas um contexto favorecedor: o de atonicidade máxima.

Retomando a questão do sândi e acento em PB, vimos que os processos de sândi externo têm aplicação menos frequente quando uma das vogais é acentuada ou quando ambas recebem acento. A elisão, por exemplo, ocorre preferencialmente se as duas vogais forem átonas, o que impede a produção *sof(u)sado, de sofá usado, e torna menos frequente a produção *toc(ɔ)rgão, de toca órgão. No caso da degeminação, a regra parece ser também desfavorecida quando a segunda vogal (V2) portar o acento primário, como em filho único > filh(u)nico.

O processo de ditongação também é influenciado por uma restrição rítmica, pois essa regra só ocorre se a vogal alta, com potencial para se tornar glide, for átona5. Essa restrição impede sua aplicação na sequência bambu alto > *bamb(wa)lto, já que ambas as vogais são tônicas e, consequentemente, não podem se tornar glides; mas também na sequência peru assado, pois, mesmo que o ‘a’ inicial de “assado” não seja tônico, não tem potencial de tornar-se glide. Como se percebe, o acento é, sem dúvida, um fator condicionante da aplicação ou não das regras de sândi externo no PB.

Da mesma forma como ocorre em PB, em espanhol o acento também tem um papel importante na ocorrência ou não dos processos de sândi. Em um primeiro momento, oporemos a resolução à manutenção do hiato, de maneira a não diferenciar os três processos de sândi, em função de que este é o procedimento adotado por alguns dos autores mencionados na sequência. Logo após, discorreremos sobre a atuação do acento em cada processo de sândi separadamente.

Segundo Aguilar (2005: 30), “se ha atribuido al español una tendencia a la pronunciación monosilábica en los grupos vocálicos, tendencia más acentuada si el habla es rápida, las vocales carecen de acento y coinciden en el timbre”. O experimento realizado pela autora, a partir de dados do espanhol peninsular, comprova a ideia segunda a qual o contexto de atonicidade máxima é o que mais favorece os processos de resolução de hiato entre palavras. No caso de uma das vogais ser acentuada, há uma maior preferência pela manutenção do hiato quando a segunda vogal for acentuada, em comparação com os contextos em que a primeira vogal é portadora do acento primário.

Aguilar (2005) não analisou contextos em que as duas vogais fossem acentuadas. Com relação à atuação do acento principal, este é o único trabalho em espanhol ao qual tivemos acesso que observa essa variável6. Segundo mostra a autora, houve poucos dados em que a segunda vogal, além do acento primário, também portasse o acento principal, o que lhe impediu de fazer generalizações sobre essa variável. Aguilar (2005) observou, também, a atuação de variáveis referentes aos constituintes prosódicos, como o grupo clítico e a frase fonológica. Entretanto, a autora conclui que as variáveis mais determinantes na manutenção ou resolução do hiato são aquelas relacionadas ao acento.

Igualmente, a atonicidade máxima é o contexto preferido para a resolução do hiato nos dados do espanhol do Novo México analisados por Alba (2006). O autor também encontrou casos de resolução de hiato entre duas vogais portadoras de acento primário, embora este seja o contexto em que mais se preserva o hiato. No que diz respeito aos contextos em que uma das vogais é acentuada, assim como ocorreu no espanhol peninsular (Aguilar 2005), a resolução do hiato é mais frequente quando a primeira vogal é acentuada.

Segundo Alba (2006: 277), “estes resultados fornecem uma forte evidência para a difundida assunção de que o acento desempenha um papel crucial no resultado do hiato entre palavras, no sentido de que vogais sem acento são muito mais suscetíveis a alterações do que itens acentuados”.

Alba (2006) analisou outras variáveis que se mostraram significativas para a manutenção ou resolução do hiato, mas o autor destaca que o acento foi uma das mais importantes entre elas.

Com relação à atuação do acento em cada um dos processos de sândi, David (2015), que analisou dados do espanhol uruguaio, mostra que a atonicidade máxima foi o contexto de maior aplicação para a elisão (para estar > par(e)star).

Houve poucos casos de aplicação nos contextos em que uma das vogais porta o acento primário, mas, ainda assim, foi possível perceber uma preferência pela elisão quando a primeira vogal é acentuada (a autora não fornece um exemplo), em comparação aos casos em que a segunda vogal é acentuada (hecho una > hech(u)na).

No que diz respeito à degeminação, conforme David (2015), esta ocorre preferencialmente quando as duas vogais são desprovidas de acento primário (para adelante > par(a)delante). Quando uma das vogais é portadora do acento primário, a degeminação é mais frequente nos contextos em que a primeira vogal é acentuada (porque estuvieron > porqu(e)stuvieron), quando comparados aos contextos em que o acento recai sobre a segunda vogal da sequência (personalmente es > personalment(e)s). De fato, há pouquíssimas ocorrências de degeminação nos contextos em que a segunda vogal é acentuada, o que leva a autora a chamar a atenção para o possível papel bloqueador desta configuração acentual para a degeminação.

Mesmo que haja uma preferência pela degeminação em alguns padrões acentuais, Morris (1998) chama a atenção para o fato de que este processo não parece ser impedido pela presença do acento. Segundo o autor, no espanhol chicano, a degeminação pode ocorrer mesmo que as duas vogais sejam acentuadas (está alto > est(á)lto).

Quanto à ditongação, mais uma vez, para David (2015), o contexto preferencial para sua ocorrência é o de atonicidade máxima (secreto industrial > secret(oj)ndustrial). David encontrou poucos casos de ditongação em que a segunda vogal porta o acento primário (si esto > s(je)sto) e não encontrou nenhum dado de ditongação nos casos em que a primeira vogal é acentuada. A autora não analisou dados, em nenhum dos três processos, em que as duas vogais fossem acentuadas.

Morris (1998), por sua vez, analisou dados de espanhol peninsular, mexicano e chicano e mostrou que há diferenças entre essas variedades quanto à atuação do acento na ditongação. Em espanhol peninsular, a ditongação ocorre em todas as combinações possíveis (embora em algumas seja mais recorrente do que em outras): (i) ambas as vogais desacentuadas (tengo enchufes > teng(o̯e)nchufes), (ii) apenas a primeira acentuada (acné inoportuno > acn(ej)noportuno), (iii) apenas a segunda acentuada (vendo esto > vend(o̯e)sto), (iv) ambas as vogais acentuadas (tabu ético > tab(we)tico). Além disso, quando a vogal acentuada for a menos sonora da sequência, o acento será deslocado (este humo > est(éw)mo, café amargo > caf(e̯á)margo).

Em espanhol mexicano, a ditongação será possível nos três primeiros contextos, mas não no último, uma vez que uma vogal acentuada não se tornará um glide, e não há a possibilidade de deslocamento de acento. Isso significa que uma vogal mais sonora pode se tornar um glide se a outra vogal da sequência for acentuada (le hinca > l(e̯i)nca). Em espanhol chicano, a ditongação é possível em todas as combinações de acento, mas, diferentemente do espanhol peninsular, o ditongo resultante será sempre crescente e o deslocamento do acento poderá ocorrer da primeira para a segunda vogal, mas não da segunda para a primeira (este humo > *est(éw)mo).

Nas variedades peninsular e chicana, então, há a descrição de um fenômeno - deslocamento do acento como parte da resolução de um hiato - que parece não encontrar contraparte no PB.

Na Tabela 2, sintetizamos a atuação do acento no sândi externo em PB e espanhol, no que diz respeito às variedades aqui mencionadas. Na Tabela, vogais acentuadas são antecedidas pelo diacrítico “'”.

Tabela 2: Síntese da atuação do acento no sândi externo em PB e espanhol 

4. Análise formal da atuação da variável acento

Nesta seção, fazemos um exercício de análise que busca explicar a ocorrência da degeminação em PB e espanhol. Collischonn (2012a, 2012b) mostra que há uma precedência de acento sobre os processos de sândi em PB. Tal precedência também se aplica ao espanhol. A autora analisa a elisão (2012a) e a ditongação (2012b) a partir do Serialismo Harmônico, proposto por McCarthy (2008). Como explica o autor, o Serialismo Harmônico é uma versão da Teoria da Otimidade (McCarthy e Prince 1993, Prince e Smolensky 1993/2004).

A partir da discussão já realizada neste trabalho sobre o sândi no PB e no espanhol, podemos perceber que há algumas generalizações que podem ser feitas. A primeira generalização que destacamos é a tendência nas línguas a evitar sílabas sem ataque (ou a evitar vogais adjacentes).

Segundo Collischonn (2012a), as estratégias de solução de hiato, seja processo de apagamento de vogal, seja de ditongação, ilustram o argumento da ‘homogeneidade de alvo versus heterogeneidade de processo’ (McCarthy 2002), justamente porque indicam uma preferência para que as sílabas tenham ataque (em inglês onset), independentemente do processo que leve a este resultado.

Uma das formas de se evitarem as sequências de hiato é o apagamento de uma das vogais e a ressilabação dos segmentos que permanecem, processo descrito como elisão. Para explicar a preferência pela aplicação da elisão entre palavras, Bisol (2003) considera, para a análise do PB, que a restrição ONSET está ativa na língua, pois ela milita a favor de que as sílabas tenham ataque e é violada por toda sílaba iniciada por vogal. Nesse caso, a aplicação do sândi resolveria os casos de hiato, em que a segunda sílaba não tem o ataque preenchido.

Porém, como o processo de elisão é variável e isso indica que, algumas vezes, o hiato permanece, Bisol (2003) também considera uma restrição de fidelidade que milita contra o apagamento de elementos: MaxIO. Essa restrição seria violada sempre que a vogal fosse apagada por elisão.

Além dessa generalização, há outra tendência que busca preservar as vogais com acento primário; dessa forma, a regra variável da elisão ocorre preferencialmente quando nem V1 nem V2 forem acentuadas. Em relação ao acento incidindo na primeira vogal da sequência, como em está imerso, a elisão não se aplica, já que, neste caso, a vogal que é apagada carrega o acento. Collischonn (2013) propõe que a restrição em jogo neste caso é MaxVacent, que é violada sempre que houver uma vogal acentuada que não se realiza no output.

Há dois problemas com esta proposta. Em primeiro lugar, quando utilizamos uma restrição como MaxVacent, temos de supor que o acento esteja atribuído a uma vogal no input. Esse tipo de proposta vai, de certa forma, contra algumas hipóteses caras à fonologia métrica: (i) a fonologia métrica considera que o acento não é uma propriedade de um segmento (uma vogal) mas de sílabas, e é uma propriedade relacional; (ii) o fato de o acento ser bastante regular, em uma língua como o português, é considerado um argumento de que este acento não está atribuído no input; o acento somente teria de estar atribuído no input quando não puder ser previsível (isto é, quando for fonêmico).

O segundo problema relacionado à utilização de uma restrição do tipo MaxVacent é que, nos processos de sândi, o acento parece sempre determinar o tipo de processo que irá se aplicar e nunca parece ser determinado por esses processos. Collischonn (2013) observa que:

a questão do papel do acento, para uma abordagem baseada em avaliação em paralelo, como a Teoria da Otimalidade, é complexa, pois o acento nunca parece ser determinado pela elisão ou por outro processo de sândi, configurando uma situação que McCarthy (2008) caracteriza como processo condicionado pelo acento (Collischonn 2013: 261).

O problema para a avaliação em paralelo otimalista está no fato de tanto o acento quanto o sândi dependerem de avaliação concomitante das restrições, o que poderia eventualmente levar a casos em que o processo de sândi determinasse a localização do acento. Mas o que encontramos, na realidade, “é o acento que determina unidirecionalmente o modo de solução do hiato” (Collischonn 2012a: 42), ou seja, temos uma relação de precedência entre acento e sândi.

Collischonn (2012a, 2012b) sugere, como mencionamos anteriormente, a abordagem serial da Teoria da Otimidade proposta em McCarthy (2008): Serialismo Harmônico. Nessa proposta,

os candidatos em avaliação não são meramente as formas de output para um determinado input, mas, na verdade, cada candidato é uma cadeia de formas, desde o input até o output, (...) o símbolo ‘>’ estabelece uma relação de precedência/sucessão entre candidados, i.e., indica os elos da cadeia (Collischonn 2012a: 18).

Além disso, de acordo com a teoria, a forma selecionada em determinada etapa deve ser mais harmônica, ou seja, menos marcada em relação ao ranking da língua, do que a selecionada em etapa anterior. Para isto, o candidato ótimo de cada etapa deve violar apenas uma restrição de fidelidade.

Nesse caso, então, a avaliação acontece em passos e a partir de cadeias de candidatos, os quais são avaliados em cada um dos passos pelas mesmas restrições, ordenadas da mesma forma. Segundo McCarthy (2008), manter o mesmo ranking em todas as etapas é uma diferença crucial entre o Serialismo Harmônico e a Teoria da Otimidade estratal. Conforme Collischonn (2012a: 20), para essa abordagem, ONSET não seria a restrição responsável pela elisão, visto que o processo parece ocorrer para atender uma exigência de acento e não de estrutura silábica. O mesmo ocorreria com a ditongação, segundo Collischonn (2012b). A restrição proposta pela autora para dar conta tanto da elisão quanto da ditongação é *V-Abertofraco, que penaliza as vogais fracas especificadas para o traço aberto.

Uma vez que a elisão e a ditongação no PB já foram analisadas por Collischonn (2012a, 2012b)8, optamos por propor uma análise, com base no Serialismo Harmônico, para a degeminação.

Tendo em vista que tal teoria não dá conta dos fenômenos variáveis, explicamos, em nossa análise, por que o contexto favorecedor (VV) permite a resolução do hiato e por que os contextos desfavorecedores ('VV, V'V e 'V'V) preferem a manutenção do hiato. Como os contextos favorecedores e desfavorecedores são os mesmos para o PB e o espanhol, a análise poderá ser feita em conjunto.

Para nossa proposta da análise da degeminação, que parte de Collischonn (2012a, 2012b), consideramos o seguinte mapeamento input-output9:

Exemplo 1: única antena

1º) Ocorre a atribuição de acento: unica antena > (('uni)<ca>) (an('tena)).

2º) Depois ocorre a degeminação: unica antena > (('uni)<ca>) (an('tena)) > (('uni)<ca>) (an('tena)).

Exemplo 2: sofá azulado

1º) Ocorre a atribuição de acento: sofa azulado > ((so'fa)) (azu('lado)).

2º) Não ocorre a degeminação, por haver contexto desfavorecedor de aplicação (V1 acentuada).

Exemplo 3: sincera alma

1º) Ocorre a atribuição de acento: sincera alma > (sin('cera)) (('alma)).

2º) Não ocorre a degeminação, por haver contexto desfavorecedor de aplicação (V2 acentuada).

Exemplo 4: está alto

1º) Ocorre a atribuição de acento: esta alto > ((es'ta)) (('alto)).

2º) Não ocorre a degeminação, por haver contexto desfavorecedor de aplicação (V1 e V2 acentuadas).

Como vemos nos mapeamentos recém apresentados, consideramos, como Collischonn (2012a, 2012b), duas etapas: etapa do acento e etapa do sândi. Para nossa análise, utilizaremos as seguintes restrições, que estariam ranqueadas da mesma forma nas duas etapas:

*V-Abertofraco - penaliza uma vogal fraca especificada para Aberto.

FtBin - atribua uma marca de violação a cada pé que não seja binário.

Lx≈Pr - atribua uma marca de violação a cada palavra lexical que não seja palavra prosódica (esta restrição não pode ser satisfeita sem a existência de pés).

Dep ac - atribua uma marca de violação a cada acento que não estiver no input.

(Collischonn 2012a: 20-21)

No lugar da restrição MaxV (que penaliza o apagamento de uma vogal), empregada por Collischonn (2012a), adotaremos a restrição Maxμ (que penaliza o apagamento de uma mora). Faremos isso por assumirmos que, no caso da degeminação, como descrito em 2.2, não há o apagamento de uma vogal, mas a fusão de duas vogais semelhantes, o que gera uma vogal que precisa ser encurtada. A partir dessa concepção, além das restrições apresentadas por Collischonn, farão parte de nossa análise algumas que dizem respeito à degeminação, mas não são relevantes para a elisão e a ditongação. Tais restrições, assim como Maxμ, estão presentes na análise que Morris (1998) faz da degeminação em espanhol:

OCP - elementos adjacentes idênticos são proibidos.

NoLong - penaliza as vogais longas.

Conforme Collischonn (2012a: 22), “a restrição Lx≈Pr domina tanto *V-Abertofraco quanto Dep ac, caso contrário não haveria atribuição de acento”. Além disso, uma vez que assumimos o encurtamento da vogal, as restrições OCP e NoLong precisam estar acima de Maxμ na hierarquia. Como Morris (1998), admitimos tais restrições como não dominadas na hierarquia.

As restrições FtBin e Maxμ estão baixas na hierarquia porque, respectivamente, parece haver pés não binários em PB e espanhol e Maxμ precisa ser violada para que uma restrição como *V-Abertofraco seja satisfeita. Dessa forma, chegamos ao seguinte ranking de restrições para a análise da degeminação:

OCP e NoLong >> Lx≈Pr >> *V-Abertofraco e Dep ac >> FtBin e Maxμ

Como será possível observar, esse ranking dá conta de explicar a precedência do acento sobre a degeminação, uma vez que o sândi não traz ganhos até que a estrutura métrica seja estabelecida. Para isso, a atuação da restrição *V-Abertofraco é essencial.

Nos tableaux abaixo, não aparecem as restrições OCP e NoLong a fim de simplificar a exposição. Sua posição na hierarquia garante que vogais iguais adjacentes dominadas pelo mesmo nó silábico, o que viola OCP, ou uma vogal com duas moras, o que viola NoLong, sejam excluídas como candidatos ótimos. Candidatos com essas configurações, então, não farão parte da discussão que segue.

No caso do exemplo única antena, teríamos uma primeira etapa de avaliação e a seleção do candidato com acento lexical (etapa do acento).

Quadro 3: Etapa do acento 

Os candidatos b e c, nos quais não há formação de pés e, consequentemente, não há atribuição de acento, violam a restrição mais alta na hieraquia (Lx≈Pr) e são eliminados da disputa. Como o candidato a viola a restrição *V-Abertofraco, ela precisa estar abaixo na hierarquia. Essa restrição será satisfeita no vácuo pelos candidatos em que o acento não é atribuído (b e c), já que eles não têm vogais fortes e fracas. Dep ac será violada sempre que um acento for atribuído, caso do candidato a, e MAXμ sempre que uma mora for apagada, caso do candidato c.

A segunda etapa de avaliação, segundo a análise de Collischonn (2012a), seria a etapa do sândi. Apresentamos tal etapa para a degeminação.

Quadro 4: Etapa do sândi 

Nesse caso, o candidato b, no qual a degeminação não se aplica, viola mais vezes a restrição *V-Abertofraco, enquanto o a viola tal restrição menos vezes, além de violar uma restrição mais baixa, Maxμ. Por Serialismo Harmônico, de uma etapa para outra, os candidatos podem violar apenas uma restrição de fidelidade por vez para que se tornem mais harmônicos em relação ao candidato ótimo da etapa anterior, como foi mencionado anteriormente. Assim, na primeira etapa, o candidato ótimo violou Dep ac, para garantir a atribuição do acento. Na segunda etapa, o candidato com o acento já atribuído violou a restrição de fidelidade Maxμ a fim de que houvesse uma diminuição de violações a *V-Abertofraco, o que tornou esse candidato mais harmônico em relação ao candidato ótimo da primeira etapa. Dessa forma, fica evidenciada a precedência de acento sobre a degeminação, no sentido de que este processo só ocorre para garantir a satisfação de uma restrição que faz menção ao acento.

Quanto à reestruturação silábica que acontece no candidato vencedor, embora não pretendamos incluir na análise as restrições que explicam sua ocorrência, ressaltamos que, segundo McCarthy (2008), a ressilabificação pode ocorrer simultaneamente à sincope, fenômeno objeto de sua análise, porque se entende que a ressilabificação de uma consoante não tem custos em termos de fidelidade, o que, portanto, não implicaria em mais de uma violação a restrições desse tipo, de maneira a não contrariar os pressupostos do Serialismo Harmônico. Estendemos essa observação de McCarthy à degeminação sob análise.

No caso em que as duas vogais portam o acento, como no exemplo está alto, a degeminação é rejeitada, como mostra a análise abaixo. Ressaltamos que, por ser um processo variável, a degeminação é possível nesse contexto, mas é desfavorecida. Optamos, então, conforme foi mencionado anteriormente, por explicar que ranking permitiria a manutenção do hiato nesse contexto e nos contextos em que uma das vogais é acentuada, que também se mostram desfavorecedores para a degeminação.

Quadro 5: Etapa do acento 

Na segunda etapa, como os dois candidatos violam duas vezes *V-Abertofraco, a decisão incide sobre uma restrição mais baixa, Maxμ, que, sendo uma restrição de fidelidade, é violada pelo candidato perdedor, sem que haja ganhos em termo de harmonia. O candidato vencedor, portanto, é aquele em que se mantém o hiato. O ranking proposto, entretanto, não dá conta de descartar os candidatos com degeminação nos casos em que apenas uma das vogais é acentuada. Exemplificaremos isto com sincera alma.

Quadro 6: Etapa do acento 

Quadro 7: Etapa do sândi 

Como é possível observar, o candidato que deveria perder é mais harmônico porque viola uma restrição de fidelidade, Maxμ, de maneira a reduzir a quantidade de violações a *V-Abertofraco. Neste caso, é possível que esteja atuando uma restrição de alinhamento, como a usada por Cabré e Prieto (2003) para a análise do sândi em catalão: Align (Stress-Foot, Left, PW, Left), segundo a qual a borda esquerda de um pé portador de acento deve estar alinhado com a borda esquerda de uma palavra prosódica.

Esta restrição é violada em um candidato como aquele em a no tableau acima. Deixaremos essa questão para uma análise futura, uma vez que, no momento, não nos parece possível conciliá-la com uma proposta baseada no Serialismo Harmônico.

5. Contextualização e proposta de intervenção instrucional

No contexto brasileiro, os estudos (Alves 2004, Silveira 2006, Rocha 2012, Perozzo 2013), na área de aquisição de segunda língua10 (ASL), destinados à verificação do papel da intervenção instrucional na aprendizagem11 de aspectos linguísticos, no nível fonético-fonológico, têm abrangido, em suas propostas, atividades que envolvem procedimentos diversificados: percepção, identificação e classificação, percepção e produção (controlada e/ou comunicativa), informações (meta)linguísticas e articulatórias, etc. Além disso, no país, as pesquisas acerca da Instrução com Foco na Forma tendem a selecionar primordialmente, no nível fonético-fonológico, segmentos específicos como objeto linguístico de ensino. Logo, não há registros de investigações que apresentaram, por exemplo, intervenção pedagógica a respeito da união de segmentos vocálicos, que integram fronteiras de palavras, como foco de ensino nas aulas de espanhol como língua estrangeira (E/LE).

A seleção do objeto de instrução pode estar relacionada a razões diversas, a saber: outros estudos na ASL, lista de conteúdos linguísticos do programa de ensino, experiência do professor de língua estrangeira, situação atual de ensino-aprendizagem, solicitação por parte do grupo de alunos, entre outros (Dutra e Moraes 2018). No presente artigo, a escolha do sândi externo para integrar a proposta de intervenção pedagógica que apresentaremos, na sequência, foi motivada por razão de caráter empírico. Observamos que os alunos, nas aulas E/LE, apresentam dificuldades pontuais durante a realização de atividades de compreensão oral cujo insumo possui alta frequência de exemplos de sândi externo. Essas dificuldades foram evidenciadas, através da ausência de produções orais, por parte dos estudantes, como respostas a questões de compreensão auditiva, de natureza parcial, que lhes haviam sido propostas, a partir do insumo oral recebido. No nosso contexto, os estudantes de espanhol são falantes do PB. Em ambas as línguas, conforme já observamos anteriormente, há existência de sândi externo. Portanto, uma possibilidade de explicação plausível para as dificuldades observadas entre os brasileiros aprendizes de espanhol, durante atividades que requerem a prática integrada das habilidades (compreensão versus produção oral), encontra suporte no fato de que, apesar de o sândi externo existir na língua materna dos estudantes, não há reflexões a respeito desse fenômeno na língua materna e tampouco a aplicação disso na língua-alvo (Busto 2007).

Segundo Busto (2007), o sândi externo é um dos aspectos mais dificultosos e relevantes no campo da didática da compreensão oral do E/LE. Essa afirmação parece que se sustenta no fato de que o fenômeno linguístico referido ocasiona dificuldade de compreensão oral, em situações reais e/ou de sala de aula, para as quais os estudantes, muitas vezes, não foram preparados, por meio de práticas pedagógicas destinadas ao direcionamento de sua atenção a aspectos específicos do insumo a que foram expostos.

A respeito de ações do docente acerca do sândi externo, Busto (2007) ressalta a relevância do ensino desse fenômeno aos estudantes de espanhol, desde o nível básico, por meio de esquemas concisos com a indicação do contexto linguístico de sua ocorrência, os quais devem ser acompanhados de práticas controladas. Essas sugestões de estratégias pedagógicas parecem mais apropriadas a grupos gerais de estudantes de E/LE, visto que, sem detalhamentos maiores a respeito do objeto linguístico de ensino, o docente o aborda, de maneira objetiva, e, concomitantemente, propicia práticas baseadas em uma série de exemplos pré-definidos, o que garante a realização de número pré-estabelecido de produções da forma-alvo (Dutra e Moraes 2018).

Contudo, assinalamos o fato de que, se partimos de contexto de formação de professores de E/LE, as estratégias de ensino constitutivas da proposta de intervenção instrucional, relacionada ao sândi externo, podem apresentar especificidades, em comparação a um grupo de estudantes cujos objetivos são meramente interacionais. Volpi (2003) assinala que a formação do professor de língua estrangeira (LE) deve abranger três âmbitos, a saber: pedagógico, pessoal e linguístico.

Para fins de atendimento aos propósitos deste artigo, focaremos o último, o que não significa que não advogamos por sua inter-relação com os demais eixos. O âmbito linguístico, segundo Volpi (2003), de um lado, envolve conhecimento sólido acerca da LE e de aspectos socioculturais; por outro lado, abrange conhecimento a respeito de concepções de língua e de teorias sobre sua aprendizagem.

Isso posto, o professor em potencial, ao longo de sua formação acadêmica, deve ser capaz de lidar com questões (meta)linguísticas atreladas à LE, visto que, em situações reais de sala de aula, poderão ser requeridas explicações, em distintos níveis da língua-alvo, envolvendo fenômenos específicos que a revelam como um organismo vivo (Faraco 1991) sujeito a rearranjos internos, como no caso da ressilabação que ocorre no sândi externo, tanto no PB quanto no espanhol. Além disso, essas explicações possivelmente virão acompanhadas de decisões didático-pedagógicas, as quais poderão abranger, por exemplo, a seleção e/ou elaboração de material didático, bem como outras estratégias de ensino que provavelmente estarão pautadas no perfil e nos objetivos dos alunos.

Neste estudo, (i) o contexto considerado é o universitário, onde (ii) os estudantes se dedicam ao estudo do E/LE tendo em vista a docência. Além desses fatores, levamos em consideração (iii) questões linguísticas e (iv) aspectos aquisicionais, para a elaboração da proposta de intervenção instrucional. No que concerne a (i) e (ii), estratégias pedagógicas que privilegiem explicações sobre o funcionamento do objeto de ensino poderão possibilitar não apenas a percepção do sândi externo no insumo a que os futuros professores possivelmente serão expostos, mas também o seu acesso a metalinguagem, para a descrição desse fenômeno. Por conseguinte, devido ao perfil dos estudantes, não basta que percebam forma(s) linguística(s) no insumo instrucional, mas também é necessário que sejam capazes de falar, do ponto de vista descritivo, sobre a língua-alvo.

No que tange ao fator (iii), partimos de delimitação de casos específicos de dois processos de sândi externo (ditongação e degeminação) tendo em vista condicionadores12 relacionados à natureza da vogal e ao fator (a)tonicidade. Conforme já apontamos, na seção 2.2, o fenômeno da degeminação, em espanhol, ocasiona a fusão de vogais idênticas (Salcedo 2010), preferencialmente quando as duas vogais, que compõem a fronteira das palavras envolvidas nesse processo, forem desacentuadas (David 2015).

Em comparação, o processo de ditongação, também segundo já mencionamos, pode ocorrer em situações distintas, em termos de altura vocálica e de (a)tonicidade.

Contudo, em virtude da necessidade de foco, centraremos no caso em que há diferenças de alturas entre as vogais, de modo que a vogal alta se torna glide (Salcedo 2010), e, concomitantemente, ambas são desacentuadas (David 2015). A seleção desses casos, para fins de ensino, está baseada na hipótese de que os estudantes apresentam mais problemas de compreensão oral, em espanhol, em produções em que ocorrem a ressilabação, como em: caso 1 - l(aw)nión13 e caso 2 - la frut(a)marilla, do que, por exemplo, em situações de manutenção de hiato.

A escolha aleatória por apenas dois dos processos mencionados anteriormente, como objetos de ensino, ocorre em função de o tratamento instrucional ser caracterizado como intensivo, modalidade na qual a instrução sucede durante uma lição ou uma série de lições com foco sobre uma única estrutura gramatical ou, talvez, um par de estruturas contrastadas (Ellis 2006).

No que concerne ao fator (iv), no campo de ASL, a partir da Hipótese da Percepção (Hipótese do Noticing), não há aprendizagem sem que haja percepção14 por parte do aprendiz de LE, ou seja, registro consciente da ocorrência de algum evento (Schmidt 1990). O noticing é a condição necessária e suficiente para converter o insumo em intake15, no sentido de promover o desenvolvimento linguístico do aprendiz (Schmidt 1990: 130).

Schmidt (2010) afirma que a ASL é ocasionada primordialmente pelo que os aprendizes prestam atenção e percebem no insumo da língua-alvo e por aquilo que entendem como significado do insumo percebido. Nesse sentido, a partir de uma linha intervencionista, é possível a exposição dos estudantes a distintos insumos instrucionais.

Há evidências favoráveis (Spada 1997, 2011; Norris e Ortega 2000) ao papel da instrução explícita, na qual há explicações da regra como parte da instrução, ou os alunos são diretamente convidados a prestar atenção a formas particulares, a fim de tentarem chegar a generalizações metalinguísticas por conta própria (Norris e Ortega 2000). Outro tipo de instrução é a baseada na compreensão ou na produção. A diferença entre os tipos de instrução em função da habilidade linguística depende se a produção é ou não requerida na tarefa, ou seja, depende de como os aprendizes processam a forma linguística que é o objeto de instrução (Shintani et al. 2013).

Na Hipótese da Produção Compreensível, é possível examinar as possíveis funções16 que o output17 (produção oral/escrita) pode exercer no processo de aprendizagem de uma L2 (Swain 1998). A produção linguística pode desencadear a percepção de problemas linguísticos, já que em tarefas de produção os aprendizes podem reconhecer conscientemente o que conhecem total ou parcialmente a respeito da língua-alvo. O esforço do estudante quanto à percepção do novo traço linguístico e da diferença entre a sua representação na língua de aprendiz e o insumo na língua-alvo refere-se à Hipótese da Percepção da Lacuna (Noticing the Gap Hypothesis).

A seguir, apresentamos, na Tabela 3, de maneira sumarizada, a proposta de intervenção instrucional destinada ao ensino de ditongação e degeminação em espanhol para docentes de E/LE em formação inicial. Cabe assinalarmos que nossa proposta de tratamento será dividida em três aulas, com duração média de 30 minutos cada.

Tabela 3: Proposta de intervenção instrucional sobre o sândi externo - ditongação e degeminação - no espanhol 

Na Tabela 3, podemos observar que, na primeira aula (passos de 1 a 4), os estudantes serão expostos a exemplos de processos de degeminação e de ditongação, com a intenção de que encontrem regularidades que lhes permitam chegar a generalizações metalinguísticas, para cada processo. Portanto, haverá condições para o descobrimento indutivo de regras específicas de sândi externo no espanhol. Posteriormente, ocorrerá produção de cada exemplo com a indicação do seu grupo correspondente. Nesse momento acontecerão correção explícita e, ao mesmo tempo, explicações a respeito do funcionamento de cada processo de sândi externo em exame se a indicação das formas pelos estudantes, no passo 4, ocorrer indevidamente, isto é, no caso de haver erroneamente o agrupamento de exemplos de ditongação na coluna correspondente ao grupo de degeminação e vice-versa. Logo, as estratégias de ensino adotadas, nessa primeira etapa, envolverão correção mais direta e reforço a respeito dos processos de ditongação e de degeminação, através de instrução explícita

Na segunda aula (passos 5 e 6), os estudantes serão expostos a insumo escrito e oral, a partir dos quais deverão identificar os processos de sândi externo sob análise e classificá-los, revelando, deste modo, capacidade discriminatória e metalinguística acerca dos objetos linguísticos de ensino. Após essa etapa, haverá a correção da atividade, novamente seguida de explicações sobre os dois processos de sândi externo sob exame. A última estratégia de ensino, passo 7, está baseada na gravação da produção de frases que contêm as formas-alvo, o que possivelmente possibilitará que os estudantes percebam lacunas entre a sua língua de aprendiz e a língua-alvo, no que tange aos casos de ditongação e degeminação no espanhol.

Dito de outra maneira, é possível que os estudantes percebam que, em suas produções, há pausas, em contextos, fronteiras de palavras, em que o espanhol normalmente requer ressilabação, por meio da ditongação ou degeminação de segmentos vocálicos. Destacamos, aqui, que é importante deixar claro aos aprendizes que o sândi é um fenômeno variável e que há outros contextos, não incluídos na intervenção, em que ele é possível.

Em resumo, podemos sintetizar nossa proposta de intervenção instrucional em três categorias20: mista, teórica e prática. No que tange à parte mista, observamos atividades que propiciarão o contato dos estudantes a insumos variados e ao manuseio de dados com as formas-meta com propósitos (meta)linguísticos (descobrimento indutivo). No que se refere à parte teórica, haverá a exposição dos estudantes a insumo instrucional, de natureza oral, produto de explicações acerca dos casos selecionados de ditongação e degeminação no espanhol.

Farão parte dessa categoria atividades que requererão dos estudantes procedimentos classificatórios, visto que, para tal propósito, terão que recorrer aos seus conhecimentos explícitos sobre as formas-alvo. Por último, no tocante à parte prática, integrarão esse grupo atividades relacionadas à produção controlada e contextualizada dos casos de ditongação e de degeminação, no espanhol, sob estudo.

6. Considerações Finais

Neste trabalho, propusemos, em um primeiro momento, uma breve descrição e posterior análise do fenômeno fonológico variável do sândi externo em duas línguas românicas: português brasileiro e espanhol. Além disso, consideramos a relevância dos fenômenos variáveis no ensino, trazendo uma proposta de intervenção a fim de auxiliar professores de espanhol em formação inicial.

Em relação à descrição dos fenômenos de sândi, foi possível observar que os três processos - elisão, degeminação e ditongação - são encontrados nas duas línguas estudadas, que há semelhanças e diferenças relacionadas aos segmentos envolvidos e que o sândi parece ocorrer influenciado por regras relacionadas, principalmente, à posição do acento, indicando características de processos fonológicos, assim como argumenta Collischonn (2012b).

Pelo fato de o sândi ser considerado, neste trabalho, um fenômeno fonológico, há sustentação para o posterior exercício de análise explicativa com base em restrições. Nesse caso, observamos que, em termos de atuação da variável acento, há mais semelhanças do que diferenças entre as línguas. E, para dar conta das semelhanças encontradas, propusemos uma análise da degeminação, tomando como pressuposto teórico o Serialismo Harmônico (McCarthy 2008) e o argumento da precedência do acento sobre o sândi, assim como Collischonn (2012a, 2012b) considera para a elisão e a ditongação.

Nessa perspectiva, para a análise da degeminação, consideramos duas etapas de avaliação de candidatos (ou cadeias de candidatos). Na primeira, etapa do acento, propusemos que as restrições relevantes para a escolha do candidato mais harmônico são Lx≈Pr e *V-Abertofraco. Já na etapa do sândi, as restrições consideradas foram *V-Abertofraco e Maxμ. É importante destacar que pretendemos, nesta análise, dar conta apenas dos casos de atonicidade e tonicidade máximas. Dessa forma, deixamos as questões relacionadas aos contextos de apenas uma das vogais acentuada para discussões futuras.

No que diz respeito ao ensino, ao partirmos do pressuposto de que a sala de aula é heterogênea, em termos de estilos e mecanismos de aprendizagem, apresentamos proposta de tratamento instrucional de caráter híbrido que abrangeu uma série de estratégias de ensino (instrução explícita, feedback corretivo, treinamento para identificação e classificação das formas-alvo e instrução baseada na produção), a fim de atender o perfil de maior número de estudantes.

Propusemos a administração da intervenção instrucional em três aulas, com duração de no máximo 30 minutos cada, visto que concordamos com Lima Jr. (2010), para quem as aulas de pronúncia não precisam ser prolongadas e nem necessitam de tempo extra no currículo para surtirem efeito. Isso significa que as intervenções pedagógicas, no nível fonético-fonológico, podem ser contínuas e ocorrer em curtos períodos, devido à sua relevância, uma vez que há a interdependência entre as habilidades de compreensão e de produção oral, no processo interacional.

Por último, a delimitação de caso específico dos dois processos de sândi externo, sob análise, foi motivada por fatores cognitivos, visto que aventamos a hipótese de que, por exemplo, o detalhamento de todos os casos de ditongação (Salcedo 2010), no espanhol, poderia não produzir efeitos benéficos em relação ao seu processo de aprendizagem.

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Nota: O resumo foi escrito por Taíse Simioni; o abstract por Juliana Gayer; a introdução e as seções 2, 3 e 4 por Juliana Gayer e Taíse Simioni; a seção 5 por Eduardo Dutra; e as considerações finais foram escritas por Eduardo Dutra e Juliana Gayer.

1Aqui está sendo considerada a seguinte escala universal de sonoridade das vogais: vogais baixas > vogais médias > vogais altas (Kenstowicz 1996).

2Registramos que Bakovic (2007) defende a proposta de que, nos casos de vogais que tiverem o mesmo valor para o traço (posterior) e que forem de sonoridade decrescente, há degeminação, não elisão. A análise da degeminação que será feita na seção 4 considerará, contudo, apenas os casos de vogais idênticas.

3Segundo Morris (1998), esse critério diz respeito ao espanhol peninsular, uma vez que, em variedades encontradas nas Américas, pode haver uma preferência pelo ditongo crescente, independentemente da altura (que o autor prefere analisar em termos de sonoridade) das vogais. Assim, uma sequência como come uvitas tem a realização com(ew)vitas no espanhol peninsular, mas com(e̯u)vitas ou com(ju)vitas, dependendo da variedade, nas Américas.

4Ou, melhor dizendo, deve ter potencial para tornar-se alta, o que quer dizer que, na representação subjacente, esta vogal não deve ser /a/.

5Alguns trabalhos, como Gayer (2008) e Brambila (2015), encontraram casos de ditongação em contexto de duas vogais tônicas. Para dar conta desses dados, outras pesquisas ainda precisam ser feitas a fim de verificar a questão do deslocamento desses acentos, visto que a vogal só se torna glide quando não incidir sobre ela uma proeminência.

6 Bisol (2003), ao mencionar pesquisas que observaram a atuação do acento no sândi em espanhol, afirma que “não encontramos ainda descrições do fenômeno de sândi (...) nas quais, como em PB, o papel do acento principal é a condição crucial para a apropriada aplicação dos processos de sândi externo” (2003: 195).

8Para uma análise mais detalhada da elisão e da ditongação em PB a partir do Serialismo Harmônico, remetemos à leitura de Collischonn (2012a, 2012b).

9Selecionamos exemplos que são semelhantes, em termos segmentais e prosódicos, nas duas línguas. Não estamos considerando aqui diferenças fonéticas que são irrelevantes para a análise.

10Neste estudo, não diferenciamos língua estrangeira de segunda língua.

11Neste estudo, não distinguimos aprendizagem de aquisição.

12O acesso a outros fatores condicionadores pode ser obtido em Busto (2007).

13Exemplo extraído de Guarín (2014).

14Tradução de noticing.

15Intake é insumo detectado (Schmidt 1990).

16Neste estudo, não incluímos a função de meta-fala.

17Optamos pelo uso de “produção” ou “produção linguística” em vez de output.

20Para indicar as partes que compõem nossa proposta de intervenção instrucional, partimos da classificação proposta por Guarín (2014), que apresenta a intervenção pedagógica constituída de duas partes: teórica e prática.

7Estamos assumindo aqui que uma sequência de duas vogais tônicas bloqueia a elisão em espanhol por não encontrarmos na literatura a que tivemos acesso menção à possibilidade de resolução de hiato neste contexto.

18Os exemplos foram criados e/ou extraídos a partir de Guarín (2014). No momento da operacionalização da proposta de intervenção instrucional, deve haver aumento do número de dados alusivos às formas-meta.

19Partimos do estudo de Guarín (2014) no qual há a indicação de uma série de exemplos de unidades linguísticas de distintas categorias.

Recebido: 30 de Novembro de 2018; Aceito: 21 de Março de 2019

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