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Lingüística

On-line version ISSN 2079-312X

Lingüística vol.35 no.1 Montevideo June 2019  Epub June 01, 2019

https://doi.org/10.5935/2079-312x.20190001 

EDITORIAL

Apresentação


A Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL) tem como um de seus sustentáculos o conjunto de 27 Projetos que articulam pesquisas e conteúdos bem diferenciados entre si. Um desses Projeto, o 19, se volta, especificamente, para Fonologia. A ideia que o norteia é reunir pesquisas, de caráter tanto teórico quanto aplicado, que explorem aspectos fonológicos relacionados às línguas encontradas, principalmente, na América Latina, entre elas, o Português, o Espanhol e as Línguas Ameríndias.

Como integrante desse Projeto, propus-me a organizar este Volume da Revista Lingüística da ALFAL, com os seguintes objetivos: (a) dar visibilidade a estudos fonético- fonológicos que vêm sendo realizados que focalizam interfaces entre Português e Espanhol ou Português e Línguas Ameríndias; (b) e estimular parcerias entre colegas da ALFAL, a fim de promover novos estudos.

Dos nove artigos aqui publicados, oito deles tratam de fenômenos fonológicos (e um fonético) que são analisados a partir da comparação entre o Português Brasileiro e o Espanhol e um trata da comparação entre o Português Brasileiro e o Latundê. Os trabalhos cobrem campos diversos dos estudos fonológicos, contemplando análises que dizem respeito às vogais, às consoantes e ao sândi.

O maior número de artigos deste Volume da Lingüística contempla as vogais. Luciene Bassols Brisolara, Carmen Lúcia Barreto Matzenauer e Izabel Christine Seara, em seu artigo “A vogal /a/ do Espanhol em contexto nasal - a produção de brasileiros” apresenta resultados de uma investigação da aquisição da vogal /a/ do Espanhol em contexto nasal por estudantes brasileiras. Os dados utilizados na investigação são oriundos de uma coleta realizada com seis estudantes de um Curso de Letras, Habilitação Espanhol, na Universidade Federal de Rio Grande (Rio Grande - Rio Grande do Sul) e seis falantes nativas de Espanhol, nascidas e residentes nas cidades de Montevidéu e Maldonado no Uruguai.

Ainda tratando da vogal nasal /a/, Elisa Battisti e Samuel Gomes de Oliveira, tratam da elevação da vogal /a/ em contexto nasal. Os autores discutem a representação fonológica das vogais nasais, comparando o Português e o Espanhol no que diz respeito à produção e percepção de vogais nasais, realizando uma inspeção acústica preliminar, de cunho qualitativo, de realizações da vogal /a/ em contexto nasal e não nasal.

No artigo de Gabriela Tornquist Mazzaferro e Carmen Lúcia Barreto Matzenauer, as vocais focalizadas são as postônicas finais encontradas entre falantes que residem na fronteira do Brasil com o Uruguai. As autoras analisam “o comportamento das vogais médias postônicas finais no Português falado em cinco cidades que fazem fronteira com o Uruguai. Na busca de um mapeamento do Português fronteiriço, o estudo partiu da hipótese da existência de diferenças em relação ao Português falado no restante do estado e do país, considerando o contato com o Espanhol, cujo sistema vocálico é distinto em estrutura e funcionamento”.

Numa perspectiva diacrônica, as vogais médias da sílaba acentuada são analisadas por Juliana Simões Fonte no capítulo intitulado O Português dos séculos XV e XVI e o Espanhol atual: semelhanças envolvendo as vogais médias da sílaba acentuada. Nesse artigo, a autora analisa rimas (mapeadas por Fonte, 2014) do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende e de Os Lusíadas de Camões que fornecem pistas sobre a pronúncia das vogais médias tônicas em Portugal dos séculos XV e XVI e sugerem semelhanças entre o sistema vocálico do Português de antanho e o do Espanhol atual.

Contemplando uma perspectiva diferente das anteriores, Leticia Pereyron e Ubiratã Kickhöfel Alves contribuem com seu artigo “Uma descrição acústica das vogais tônicas do Espanhol Rioplatense e de uma variedade do Português do sul do Brasil de monolíngues e bilíngues: uma discussão dinâmica sobre desenvolvimento linguístico”. Segundo os autores, “a abordagem convencional de “transferência linguística unidirecional”, isto é, da L1 para a L2, deve ser interrogada à luz de uma visão de língua como sistema dinâmico”. Assim, seu estudo “busca descrever, em termos de altura/anterioridade, os sistemas vocálicos do Espanhol Rio-platense e do Português do Sul do Brasil em monolíngues, assim como os sistemas vocálicos de bilíngues hispânicos falantes das variedades referidas, residentes no Brasil, de modo a apontar uma dinamicidade na interação entre os sistemas dos participantes”.

Explorando outro conjunto de segmentos, três artigos contemplam análises voltadas para as consoantes vibrante, fricativa e nasal.

O primeiro deles, da autoria de Luiz Carlos Schwindt e Raquel Gomes Chaves, tem como foco o /R/ em Português e Espanhol. Os autores abordam “o apagamento de róticos em coda silábica, particularmente em fim de palavra, no Português Brasileiro e no Espanhol designado como americano. O objetivo é problematizar a hipótese de Outputs Convergentes (Schwindt, 2015), segundo a qual dois processos concorrem para a emergência de uma só forma de output suportando apagamento de /R/ final: um mais precoce, que dialoga com a morfologia, e outro mais superficial, de base fonética e extralinguisticamente motivado”.

No segundo artigo voltado para as consoantes, Juliene L. Ribeiro Pedrosa e Rubens M. Lucena assinam o texto intitulado Convergências entre o Espanhol Americano e o Português Brasileiro: o caso da fricativa /s/ em coda silábica.

Em seu texto, os autores descrevem a variação da fricativa /s/ em posição de coda silábica no Português Brasileiro e no Espanhol Americano, estabelecendo uma comparação no comportamento dos dois sistemas linguísticos.

O último artigo voltado para as consoantes é o da autoria de Stella Telles, que focaliza a consoante nasal pós-vocálica no latundê e no Português do Brasil. O texto focaliza a natureza e o comportamento da consoantes nasal pós-vocálica no Latundê, uma língua indígena pertencente a uma pequena família linguística situada no sul da Amazônia brasileira e no Português do Brasil.

No último artigo desse número da Lingüística, da autoria de Taíse Simioni, Juliana Escalier Ludwig Gayer e Eduardo de Oliveira Dutra, sob o título O sândi externo em Português Brasileiro e Espanhol, os autores discutem o sândi externo, enquanto fenômeno variável, em Português Brasileiro e Espanhol. Seus objetivos são: “(i) apresentar uma descrição do sândi em PB e Espanhol, (ii) fazer um exercício de análise que explique o funcionamento da degeminação voas duas línguas e (iii) desenhar uma proposta de intervenção, levando em conta o contexto de ensino de Sspanhol como língua estrangeira para falantes de PB, mais especificamente para professores de Espanhol em formação inicial”.

Esse número da Lingüística ainda conta com uma resenha da obra Manual de fonética acústica experimental: aplicações a dados do Português, da autoria de Plínio Almeida Barbosa e Sandra Madureira. 2015. Essa obra foi resenhada por Miguel Oliveira Jr., Ayane Nazarela Santos de Almeida e René Alain Santana de Almeida.

Os artigos apresentados neste Volume da Lingüística representam uma excelente contribuição não apenas para os estudiosos de Fonologia e Fonética do Português, do Espanhol e das Línguas Ameríndias, mas para os linguistas de uma maneira geral e também para aqueles que por esses temas se interessam.

Essa interface trazida aqui, entre as línguas que são objetos de estudo de pesquisadores da ALFAL, podem motivar estudos em direção similar, explorando outros aspectos dos estudos linguísticos.

Dermeval da Hora
Editor convidado Universidade Federal da Paraíba

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