SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.12 número1“Pero ella estaba ebria”: violencia sexual y Culpabilización de la víctimaEl Psicólogo en el Primer Nivel de Atención de Salud: desafíos para Uruguay índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Links relacionados

Compartir


Psicología, Conocimiento y Sociedad

versión On-line ISSN 1688-7026

Psicol. Conoc. Soc. vol.12 no.1 Montevideo  2022  Epub 31-Mayo-2022

https://doi.org/1026864/pcs.v12.n1.5 

Trabajos originales

Trabajos originales

Propriedades psicométricas iniciais da Escala de Auto-Objetificação Corporal para estudantes universitárias brasileiras

Initial psychometric properties of the Body Objectification Consciousness Scale for Brazilian college students

Propiedades psicométricas iniciales de la escala de auto-objetificación corporal para universitarias brasileñas

Carolina Piazzarollo Loureiro1 
http://orcid.org/0000-0001-7778-9554

Valeschka Martins Guerra1 
http://orcid.org/0000-0001-7455-125X

Grecy Kelle Andrade Cardoso1 
http://orcid.org/0000-0002-6384-3545

Fabíola Matos Rodrigues1 
http://orcid.org/0000-0002-2828-2869

Isabela Medeiros de Almeida1 
http://orcid.org/0000-0003-2377-2364

Pâmela Fardin Pedruzzi1 
http://orcid.org/0000-0003-0869-8602

1Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Autor referente: valeschka.guerra@ufes.br


Resumo:

A teoria da objetificação propõe que as experiências de objetificação sexual vivenciadas pelas mulheres levam à auto-objetificação: uma preocupação excessiva e prejudicial com a própria aparência em detrimento dos estados e competências corporais. A pesquisa teve como objetivo investigar as propriedades psicométricas de uma escala de auto-objetificação corporal para universitárias brasileiras. A amostra foi composta por 400 mulheres, com idades entre 17 e 53 anos (M = 21,65; DP = 5,46), sendo a maioria graduandas do curso de psicologia (49%, n = 196). Análises fatoriais exploratórias (AFE) e confirmatórias (AFC) foram realizadas para verificar a estrutura do modelo. Os resultados suportaram uma estrutura com 13 itens e duas dimensões: Vigilância corporal e Vergonha Corporal, mostrando bons indicadores para validade e confiabilidade interna. Não houve diferenças significativas entre graduandas em psicologia e estudantes de outros cursos. Discute-se futuras aplicações do instrumento e possibilidades frente a investigação da auto-objetificação em contextos variados.

Palavras-chave: Imagem corporal; vergonha corporal; auto-objetificação

Abstract:

The objectification theory proposes that experiences of sexualization lead to self-objectification in women: a harmful concern for their appearance at the expense of body states and skills. The research aimed to investigate the psychometric properties of the Body Objectification Consciousness Scale for female Brazilian university students. The sample was composed by 400 women, aged between 17 and 53 years old (M = 21.65; SD = 5.46), the majority of them were undergraduate psychology students (49%, n = 196). Exploratory (AFE) and confirmatory (AFC) factor analyzes were performed to verify the model's structure. The results supported a structure with 13 items and two dimensions: Body Surveillance and Body Shame, showing good indicators for internal validity and reliability. There were no significant differences between undergraduate psychology students and students from other courses. Future applications of the instrument and possibilities regarding the investigation of self-objectification in different contexts are discussed.

Keywords: Body image; body shame; self-objectification

Resumen:

La teoría de la objetivación propone que las experiencias de objetivación sexual vividas por las mujeres conducen a la auto-objetivación: una preocupación excesiva y dañina por su apariencia a expensas de los estados y competencias corporales. La investigación tuvo como objetivo investigar las propiedades psicométricas de una escala de auto-objetivación corporal en una muestra de estudiantes universitarias brasileñas. Participaron 400 mujeres, de entre 17 y 53 años (M = 21.65; DT = 5.46), la mayoría egresadas de la carrera de psicología (49%, n = 196). Se realizaron análisis factoriales exploratorios (AFE) y confirmatorios (AFC) para verificar la estructura del modelo. Los resultados apoyaron un modelo con 13 ítems y dos dimensiones: Vigilancia corporal y Vergüenza corporal, mostrando buenos indicadores de validez interna y confiabilidad. No hubo diferencias significativas entre los estudiantes de psicología y los estudiantes de otros cursos. Se discuten futuras aplicaciones del instrumento y posibilidades en la investigación de la auto-objetivación en diferentes contextos.

Palabras-clave: Imagen corporal; vergüenza corporal; auto-objetivación

A objetificação é definida como a transformação do sujeito em objeto (Cardoso, 2019), consistindo em analisar um indivíduo sem considerar seu emocional ou psicológico. Frequentemente é utilizada pelo cunho sexual, chamada objetificação sexual, como o tratamento de pessoas como objetos para o prazer sexual de outrem (Carvalho, 2017), e, embora tanto mulheres quanto homens possam ser objetificados sexualmente, as evidências sugerem que nas sociedades patriarcais ela é direcionada principalmente às mulheres (Cardoso, 2019; Smolak & Murnen, 2011).

As mulheres ao serem objetificadas sexualmente possuem as partes do seu corpo ou funções sexuais reduzidas a instrumentos para utilização sexual do outro ou ainda, quando vistos, como capazes de representá-lo como um todo. Transforma, então, o ser humano em uma coisa e retira dele sua humanidade, acarretando uma coerção como prática recorrente, sendo o corpo e a imagem da mulher alvos de estigmas e reflexo da cultura de uma sociedade (Oliveira, Rocha, Santos, Avelino, & Targino, 2020).

As revistas femininas, por exemplo, demonstram que as mulheres são encorajadas a se comportarem de maneiras específicas e a usar determinados produtos para se tornarem mais sexualmente atraentes para o sexo oposto, com discurso opressor e condicionante perante o corpo e à imagem da mulher. Isso pode ser observado em programas televisivos, videoclipes, letras de música, revistas, videogames, mídia esportiva, internet e publicidade, em suma, pela mídia de modo geral (Carvalho, 2017). Além de pressionar mulheres a se engajarem em comportamentos que aumentem seu apelo heterossexual, a naturalização dessa prática implica na expectativa e aceitação, de ambos os sexos, de que as mulheres sejam tratadas e se comportem como objetos sexuais para os homens (Smolak & Murnen, 2011).

Nesse contexto, é importante salientar como consequências nocivas da coisificação do corpo feminino, a estigmatização da mulher e o estabelecimento de padrões estéticos irreais tendo em vista que é imposto, pois que ser sexualmente atraente é um atributo primordial para as mulheres na sociedade, considerado uma realização feminina (Oliveira et al., 2020). Essa lógica perversa que associa beleza a sucesso contribui, por exemplo, para que crianças já apresentem insatisfação com o próprio corpo (Duarte, Voser, Hernández, & Goulart, 2018), formando imagens de como não deveriam ser tendo em vista o quão adequada é sua aparência corporal em relação ao modelo que lhes é transmitido, ocasionando atitudes inapropriadas em relação à alimentação e outros comportamentos para perder peso (Ferreira, 2018).

Nesse contexto, a Teoria da Objetificação, proposta por Fredrickson e Roberts (1997), surgiu como uma resposta à necessidade de integrar diversas teorias e pesquisas que vinham identificando consequências negativas da objetificação sexual sobre as mulheres, oferecendo um quadro formal de investigação sobre o tema. Ela propõe que um ambiente cultural sexualmente objetificante leva à internalização da perspectiva de um observador externo sobre o próprio corpo, avaliando-o em termos de valor e atratividade para os outros “Estou bonita?” ao invés de seu valor e função para o self “Quais são minhas habilidades físicas?”; “Como estou me sentindo?”, um processo que foi chamado de auto-objetificação (Calogero, Tantleff-Dunn, & Thompson, 2011; Fredrickson & Roberts, 1997). É considerada internacionalmente uma das teorias mais populares no campo dos estudos psicológicos relativos à mulher (Calogero et al., 2011), colaborando no entendimento sobre como e sob que circunstâncias o corpo contribui para a formação da personalidade, comportamentos e saúde mental feminina (Schaefer et al., 2018).

A auto-objetificação surge da tradução do termo inglês “self-objetification”, desenvolvida com o objetivo de detalhar como o apelo sexual ao corpo da mulher influencia na sua forma de viver e nas atitudes que adota (Fredrickson & Roberts, 1997). Manifesta-se por uma autovigilância e policiamento frequente da aparência corporal, não se tratando, contudo, de narcisismo ou vaidade, mas de uma estratégia adaptativa que permite às mulheres preverem e exercerem algum controle sobre como serão vistas e tratadas por outras pessoas, possibilitando que tenham alguma forma de agência (Schaefer et al., 2018). A auto-objetificação é, portanto, considerada uma forma de controle social em que as mulheres aprendem a se restringir física e socialmente, investindo sua energia e recursos na criação de uma aparência sexualmente atraente em antecipação do olhar sexualmente avaliativo do outro (Calogero et al., 2011).

Esta associação entre objetificação sexual e um padrão irreal de beleza leva a consequências graves. Uma ampla literatura demonstra que a auto-objetificação feminina causa efeitos como maior vergonha corporal, maior ansiedade em relação à aparência, menor concentração e desempenho cognitivo, além da redução ou interrupção da consciência dos estados corporais internos e dos estados de alta motivação (flow experiences) (Calogero et al., 2011; Fredrickson & Roberts, 1997). Esses efeitos aumentam os riscos de disfunção sexual, depressão, transtornos alimentares, abusos de substâncias psicoativas, submissão a cirurgias plásticas e redução geral do bem-estar (Calogero et al., 2011; Bell, Cassarly & Dunbar, 2018).

Considerando a importância da mensuração desse construto, existem instrumentos psicométricos desenvolvidos relacionados à temática, como: o Self-Objectification Scale (Talmon & Ginzburg, 2016), refletindo a desumanização da auto-objetificação; o Self-Objectification Questionnaire (SOQ; Noll & Fredrickson, 1998) mensurando o quanto os indivíduos consideram importantes atributos corporais observáveis baseados na aparência, investigando o nível de impacto que representam no seu autoconceito corporal; e a Objectified Body Consciousness Scale (OBCS; McKinley & Hyde, 1996), com o objetivo de medir a consciência corporal objetificada, um construto proposto previamente à publicação da teoria da objetificação de Fredrickson e Roberts (1997). A consciência corporal objetificada foi inicialmente definida como a internalização da objetificação sexual e a relação de objetificação do indivíduo para com o próprio corpo (McKinley & Hyde, 1996), porém atualmente é considerada um conceito equivalente à auto-objetificação (McKinley, 2011).

A OBCS é uma escala Likert de 7 pontos, variando entre 1 = discordo totalmente a 7 = concordo totalmente, composta originalmente por 24 itens distribuídos igualmente em três subescalas, que correspondem às dimensões da consciência corporal objetificada: Vigilância Corporal (automonitoramento da aparência do corpo), Vergonha Corporal (vergonha do corpo quando esse não corresponde ao padrão de beleza) e Crenças de Controle (crenças de que é possível controlar a aparência do corpo por meio de comportamentos). Além da escala de 7 pontos, o respondente pode escolher a opção “não se aplica” caso julgue que o item não se aplique a ele (McKinley & Hyde, 1996).

Embora possa ser usada como uma medida única, a OBCS tem sido frequentemente empregada como três medidas distintas, conforme cada subescala (McKinley & Hyde, 1996; McKinley, 2011). A subescala Vigilância Corporal, em especial, vem sendo utilizada como uma medida de auto-objetificação (Calogero, 2011; Moradi, 2011), uma vez que a autovigilância é considerada a primeira manifestação da internalização dos padrões sociais de objetificação em relação ao self (Fredrickson & Roberts, 1997). Além disso, ao contrário do proposto por Fredrickson e Roberts (1997) e reforçado no Self-Objectification Questionnaire, Moradi (2011) sugere que a auto-objetificação seja considerada um processo, ao invés de uma variável quantificável. O processo de auto-objetificação seria promovido pelas experiências de objetificação sexual, internalização dos padrões de beleza e vigilância corporal, que por sua vez levariam à vergonha corporal e às demais variáveis delineadas pela teoria da objetificação.

Apesar do impacto e popularidade do OBCS, no entanto, as investigações de sua estrutura fatorial foram limitadas (Moradi & Varnes, 2017). Alguns estudos buscaram levantar evidências de validade em contextos específicos, como para a adaptação em pré-adolescentes espanholas (Sicilia, Alcaraz-Ibáñez, Granero-Gallegos, Lirola, & Burgueno, 2020). Estudos testaram a replicabilidade da estrutura fatorial dos dados da OBCS, indicando que os itens das crenças de controle da OBCS eram indicadores ruins do fator, sendo apoiada, então, uma estrutura de dois fatores composta por Vigilância Corporal e Vergonha Corporal (Moradi & Varnes, 2017).

Até o momento nenhum estudo que utilize esse referencial teórico foi publicado no Brasil, bem como não se tem no país um instrumento validado com o objetivo de medir a auto-objetificação ou outras variáveis psicológicas relativas ao corpo. Considerando a importância da mensuração da auto-objetificação, sua relação com a imagem corporal, problemas alimentares e outras sintomatologias psicológicas entre as mulheres (McKinley e Hyde 1996; Moradi & Varnes, 2017), considerando ainda que a OBCS, ao contrário dos demais instrumentos disponíveis, aprofunda a avaliação sobre as experiências subjetivas em relação ao corpo por meio de suas três subescalas e, ainda, que seu amplo uso em outros países possibilita a comparação transcultural com estudos similares sobre o tema da auto-objetificação, o objetivo desse trabalho foi investigar as propriedades psicométricas da OBCS em amostras de estudantes universitárias de uma capital do sudeste do Brasil a fim de enriquecer o campo de estudos psicológicos relacionados ao corpo, particularmente o corpo feminino.

Método

Participantes

Participaram desse estudo 400 mulheres, estudantes universitárias de idade entre 17 e 53 anos (M = 21,65; DP = 5,46), a maioria se declarou como branca (53%, n = 212), graduandas do curso de psicologia (49%, n = 196) e católicas (41,3%, n = 165). A maioria mora na região da Grande Vitória-ES (95,2%, n = 380) e 12 em cidades do interior do Espírito Santo (3,5%), apenas uma participante mora no Rio de Janeiro e sete não responderam. Em relação ao estado civil, 246 (61,5%) relataram estar em um relacionamento amoroso e 154 (38,5%) solteiras. A respeito do consumo de mídias, 168 respondentes assistem televisão todos os dias (42%) e 330 usam a internet como lazer todos os dias (82,5%). A renda média relatada foi de 2 a 5 salários-mínimos (41,3%, n = 165).

Instrumentos

Para realização da coleta de dados foi utilizado um questionário sociodemográfico composto por perguntas que caracterizassem as participantes em termos de idade, cor da pele, curso de graduação, estado civil, renda e religião. Além disso, foi utilizada a versão traduzida para o português brasileiro, pelas autoras no presente trabalho, da Objectified Body Consciousness Scale de McKinley e Hyde (1996) a fim de investigar as evidências de validade do instrumento em mulheres universitárias.

Procedimentos

No processo de adaptação do instrumento para contexto da língua portuguesa do Brasil, foi solicitada primeiramente autorização dos autores da versão original da OBCS (McKinley & Hyde, 1996). Uma vez autorizado o procedimento, iniciou-se o processo de retrotradução ou tradução reversa (back translation) (Borsa, Damasio, & Bandeira, 2012). Com a colaboração de dois psicólogos brasileiros bilíngues, os itens foram traduzidos do inglês para português por um profissional e, a partir dessa nova versão em português, retraduzidos para o inglês por outros profissionais da área. Em seguida, as duas versões em inglês foram comparadas, não sendo observadas variações significativas, nem alterações nos itens.

Em seguida, o instrumento traduzido foi enviado para três pesquisadoras da área da Psicologia Social que atuaram como juízes na avaliação dos itens. Para tanto, foi elaborada uma lista que solicitava às avaliadoras que analisassem a pertença de cada item a uma das dimensões propostas teoricamente. Com base nessa avaliação, não foram feitas modificações. Após este processo de tradução do instrumento, o OBCS foi encaminhado para estudo com a amostra, respeitando os critérios de inclusão.

Posteriormente à aprovação do Comitê de Ética da Universidade Federal do Espírito Santo, conforme Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, a coleta de dados foi feita em diferentes locais e contextos, tais como salas de aula, pátios e outros espaços das instituições de ensino público e privado em forma de aplicações coletivas ou individuais. Os dados foram coletados entre os meses de fevereiro e abril de 2014. Destaca-se que as pesquisadoras apresentaram o estudo, informando às participantes do caráter voluntário da pesquisa, seu objetivo e do anonimato de todas as respostas. Com base na assinatura e concordância do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) deu início à resposta dos instrumentos.

Análise dos dados

Primeiramente o banco de dados foi inspecionado e verificado quanto à presença de casos omissos e respostas discrepantes. A fim de investigar a estrutura interna do instrumento, foi realizada uma análise fatorial exploratória (AFE) em uma metade do banco de dados com auxílio do software Factor, versão 10.10.03 (Ferrando & Lorenzo-Seva, 2017). Foi utilizada a matriz policórica dos dados e o método de extração Robust Diagonally Weighted Least Squares (RDWLS) (Asparouhov & Muthen, 2010) com rotação Robust Promin (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2019). O método de retenção escolhido para definir o número de fatores foi a Análise Paralela (Timmerman & Lorenzo-Seva, 2011). Na análise também foi investigada a qualidade da solução fatorial e dos escores fatoriais, por meio dos valores de fidedignidade composta de cada fator, índice H, alfa de Cronbach e Ômega de McDonald.

Em seguida, foi realizada uma análise fatorial confirmatória na outra metade do banco, com a utilização do software Mplus por meio do estimador WLSMV (Weighted Least Square Mean Variance Adjusted). Os índices considerados foram a razão do qui-quadrado por grau de liberdade (χ²/gl), Comparative Fit Index (CFI), Tucker-Lewis Index (TLI) e Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA) (Tabachnick & Fidell, 2013). Foram considerados bons índices de ajuste, valores abaixo de 5 para o χ²/gl e abaixo de 0,08 para o RMSEA; além de valores iguais ou acima de 0,90 para o CFI e TLI. Devido à grande quantidade de estudantes do curso de psicologia, que constituem 49% da amostra, com potencial de impactar os resultados de alguma forma, decidiu-se também pela realização de uma análise fatorial multigrupo (Damásio, 2013), a fim de investigar possíveis diferenças entre alunas do curso de psicologia e as outras universitárias da amostra.

Resultados

Análise fatorial exploratória

Inicialmente, os dados foram mapeados a procura dos missings, sendo substituídos quando necessário através do método Expectation-Maximization - EM (Tabachnick & Fidell, 2013). Em seguida, a fim de investigar a adequação dos dados coletados aos procedimentos de análise fatorial, os índices Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e de esfericidade de Bartlett foram verificados. Ambos se apresentaram significativos (KMO = 0,73; Bartlett: χ²(78) = 992,7; p < 0,001).

Procedimentos de análises fatoriais exploratórias (AFE) foram conduzidos em uma metade aleatória da amostra (n=200), com o objetivo de avaliar sugestões de estruturas fatoriais para o instrumento através do software Factor (Ferrando & Lorenzo-Seva, 2017). Por meio da análise paralela com matrizes de correlações policóricas, recomendou-se uma estrutura de três ou duas dimensões. Ambas as sugestões foram testadas novamente, utilizando o método Diagonally Weighted Least Squares (DWLS) com rotação promin. A solução com três fatores (a partir do modelo original de 24 itens; McKinley & Hyde, 1996) não apresentou distribuição adequada dos itens entre os fatores: os itens 02, 13, 16, 21 e 24 apresentaram cargas fatoriais em duas dimensões e item 04 apresentou carga inferior a |0,30|. Os valores observados dos eigenvalues foram 5,39 (22%); 2,99 (12%); e 1,99 (8%). Com a retirada dos itens indicados pela AFE com cargas fatoriais cruzadas e/ou inferiores ao valor mínimo nessa solução, uma estrutura de dois fatores foi sugerida.

Dessa maneira, uma solução fatorial com os 24 itens distribuídos em dois fatores foi avaliada em seguida, conforme descrito em Moradi e Varnes (2017). Assim, a AFE sugeriu a exclusão de todos os itens da dimensão Crenças de Controle e dos itens 12 Não me preocupo se há algo de errado comigo quando não me exercito tanto quanto deveria, 16 Mesmo quando não consigo controlar meu peso, penso que sou uma boa pessoa e 17 É mais importante que minhas roupas estejam confortáveis do que se elas caem bem ou não no meu corpo. Uma nova análise foi realizada com base na recomendação da AFE, e assim, a estrutura sugerida de dois fatores, composta por 13 itens, mostrou-se satisfatória, com itens apresentando cargas fatoriais acima de |0,30| e em apenas um fator. A Tabela 1 apresenta a distribuição das cargas fatoriais.

Tabela 1 Análise Fatorial Exploratória dos itens da OBSC 

Nota. * itens invertidos.

Nessa versão, o fator Vigilância Corporal foi composto por 7 itens e explicou 36% da variância dos dados. São itens relacionados ao comportamento de autovigilância e monitoramento do corpo e da aparência física. Uma autovigilância constante em que as mulheres vejam a si mesmas como os outros a veem é necessária para garantir que evitem julgamentos negativos e se adequem ao padrão de beleza (McKinley & Hyde, 1996). Quanto à consistência interna, os valores do alfa de Cronbach e ômega de McDonald foram de 0,75 em ambos os índices, considerados satisfatórios.

A dimensão de Vergonha corporal foi constituída por 6 itens, explicando 18% da variância dos dados. Os itens dessa subescala são relacionados ao sentimento de vergonha em relação ao próprio corpo, provocado pela não observância dos padrões culturais de beleza que são internalizados pelas mulheres e considerados impossíveis de serem atingidos plenamente (McKinley & Hyde, 1996). No que diz respeito à precisão do fator, os índices do alfa de Cronbach e ômega de McDonald foram ambos de 0,78, também se mostrando adequados.

Análise fatorial confirmatória

Em seguida, uma análise fatorial confirmatória (AFC) foi feita na outra metade da amostra (n = 200), através do software Mplus (Muthén & Muthén, 2012) por meio do estimador WLSMV (Weighted Least Square Mean Variance Adjusted). Três modelos foram testados, de acordo com a AFE: o modelo original (McKinley & Hyde, 1996) composto por três fatores e 24 itens (Modelo 1); um modelo alternativo com dois fatores e os 24 itens originais (Modelo 2); e o modelo final indicado pela AFE de dois fatores e 13 itens (Modelo 3). Em todos os modelos, o procedimento de sugerir indicadores de modificação foi realizado, a fim de investigar a possibilidade de correlação entre os resíduos dos itens e de alteração na qualidade dos ajustes. A Tabela 2 mostra os índices de ajuste testados durante a etapa da AFC.

De acordo com os procedimentos realizados na análise fatorial confirmatória, o modelo 3 apresentou a melhor adequação aos critérios de ajuste, mediante as sugestões dos índices de modificação no modelo. Nenhum outro modelo se mostrou adequado, mesmo com o procedimento posterior realizado, apresentando valores insuficientes nos índices CFI, TLI e RMSEA.

Tabela 2 Índices de ajuste dos modelos analisados na AFC 

Nota. χ²/gl = razão do qui-quadrado dividido pelos graus de liberdade; CFI = comparative fit index; TLI = Tucker Lewis index; RMSEA = root mean square error of approximation, com intervalo de confiança de 90%.

ᵃ Modelo sem a sugestão dos índices de modificação; ᵇ Modelo com a sugestão dos índices de modificação; F1 = Fator Vigilância Corporal; F2 = Fator Vergonha Corporal; F3 = Fator Crenças de Controle.

* p < 0,05; ** p < 0,01.

Em seguida, utilizando o modelo 3 como o de melhor ajuste, uma análise de invariância configural, métrica e escalar foi realizada, considerando a grande maioria de alunas de psicologia dentre a amostra de universitárias. Os resultados são apresentados na tabela 3.

Tabela 3 Análise da invariância fatorial da Escala de Auto-Objetificação Corporal de acordo com a área de estudo 

Nota. ** p < 0,01.

Considerando que o instrumento apresenta ΔCFI com valores iguais ou menores que 0,01, conforme observado, constata-se a invariância total da medida nos grupos em questão, corroborando-se a inexistência de vieses dentre os modelos investigados (i.e., configural, métrica e escalar).

Discussão

O presente estudo teve como objetivo investigar evidências iniciais de validade da Objectified Body Consciousness Scale de McKinley e Hyde (1996) em uma amostra de mulheres universitárias brasileiras. Para isso, buscou-se traduzir, adaptar e analisar a estrutura original de McKinley e Hyde (1996), avaliando-se sua estrutura interna. A escala tem como propósito avaliar diferentes aspectos da auto-objetificação e é um dos principais instrumentos de medida utilizados nos estudos que tem a teoria da objetificação como referencial teórico (Calogero, 2011).

Inicialmente, os itens foram adaptados semanticamente e testou-se três modelos diferentes para o instrumento. O modelo original de McKinley e Hyde (1996) composto por três fatores (Vigilância Corporal, Vergonha Corporal e Crenças de Controle) e 24 itens não apresentou bons índices frente ao grupo amostral. Considerando que a AFE recomendou uma estrutura de três ou duas dimensões, um modelo com dois fatores (Vigilância e Vergonha Corporal) e 24 itens também foi testado, porém também não apresentou um ajuste adequado. Dessa maneira, ao retirar itens com cargas fatoriais insuficientes, a solução fatorial da versão brasileira suportou um modelo com 13 itens e dois fatores: Vigilância Corporal e Vergonha Corporal.

A grande redução no tamanho da escala, com a exclusão de 11 itens, baseou-se em dois critérios principais: a) a qualidade psicométrica do instrumento resultante da adaptação: a versão reduzida da escala, com 13 itens distribuídos em dois fatores, apresentou índices de ajuste e fidedignidade adequados, tanto na AFE como na AFC; e b) os achados do estudo realizado por Moradi e Varnes (2017), que observaram a mesma solução com dois fatores (Vigilância Corporal e Vergonha Corporal) e a total exclusão dos itens da dimensão Crenças de Controle. Neste sentido, sugere-se que os itens de tal dimensão, que correspondem a comportamentos de controle da aparência, não são adequados como representantes do construto latente tanto no contexto brasileiro desta pesquisa como no contexto estadunidense (Moradi & Varnes, 2017).

Moradi e Varnes (2017) indicam que existe a possiblidade que o fator possa apresentar problemas teóricos e de adequação ao construto de auto-objetificação. As autoras destacam que a conceituação de Crenças de Controle como a responsabilidade feminina sobre a aparência e em atingir um padrão cultural de beleza pode não ser consistente dentro da proposta teórica da auto-objetificação, o que sugere um cuidado maior ao se investigar os resultados desta subescala.

Com relação aos testes de invariância, foi investigado se a estrutura fatorial encontrada na amostra brasileira de universitárias pode ser considerada invariante com relação à área de estudo, devido à grande quantidade de estudantes de psicologia integrando a amostra, quando comparadas com estudantes de outras áreas. Para tanto, três níveis de invariância foram testados: a equivalência configural, verificada pela invariância das estruturas fatoriais, significa que os construtos latentes podem ser discutidos nas diferentes culturas; a equivalência métrica, verificada pela invariância das cargas fatoriais, significa que é possível realizar comparações dos escores nos diferentes grupos; e a equivalência escalar, verificada pela invariância dos interceptos de cada indicador, significa que é possível comparar escores brutos de diferentes pessoas nos diferentes grupos estudados, tornando possível a realização de análises mais robustas (Davidov, Meuleman, Cieciuch, Schmidt, & Billiet 2014).

Os resultados apontaram que os escores obtidos são invariantes para os dois grupos analisados, nos três níveis de equivalência. Tal resultado suporta a ideia que a partir dos escores obtidos pelas participantes, o instrumento pode ser utilizado para avaliar o construto em questão entre o público investigado, sem vieses de resposta e de maneira indistinta (Damásio, 2013).

Para pesquisas futuras, sugere-se a comparação das curvas de informações das diferentes versões do instrumento, tomando como base a Teoria de Resposta ao Item. Tal sugestão faz-se relevante devido à grande redução no número de itens na versão adaptada, quando comparada ao instrumento original. Adicionalmente, outras variáveis podem impactar na percepção das mulheres frente ao construto, tais como a desejabilidade social, religião, local de residência, nível de religiosidade, entre outros. Neste sentido, sugere-se também a realização de novas pesquisas com amostras maiores, compostas por participantes das cinco regiões brasileiras, com maior variabilidade etária e para além do contexto universitário, a fim de buscar uma maior representatividade da escala e avaliação de seus correlatos sociodemográficos.

Ademais, recomenda-se que em investigações posteriores, sejam realizados estudos que abordem a rede nomológica do construto, com o objetivo de explorar variáveis relacionadas dentro do contexto brasileiro, tais como autoestima corporal (Franzoi, 1994), internalização do padrão de beleza, consumo de mídia sexualmente objetificante, transtornos alimentares, dentre outros. A proposição de medidas implícitas de auto-objetificação torna-se relevante, assim como o desenho de estudos longitudinais, na medida em que podem possibilitar uma maior compreensão acerca da prevalência do construto e sua relação com outras variáveis. Além disso, assim como em Moradi e Varnes (2017), a partir desse estudo também se aponta a necessidade de maior exploração da capacidade de mensuração do fator de Crenças de Controle em busca de maior refinamento desta dimensão.

Mesmo com as alterações com relação ao instrumento original, por meio dessa pesquisa acredita-se que o instrumento apresente evidências de validade e possa ser utilizada para avaliação da auto-objetificação feminina em universitárias, por meio dos fatores Vigilância Corporal e Vergonha Corporal. Espera-se que a escala possa colaborar com o levantamento de dados em pesquisas e intervenções futuras, como em ambientes escolares ou clínicos, por exemplo.

Referências

Asparouhov, T., & Muthen, B. (2010). Simple second order chi-square correction. Unpublished manuscript. Recuperado de https://www.statmodel.com/download/WLSMV_new_chi21.pdfLinks ]

Bell, B. T., Cassarly, J. A., & Dunbar, L. (2018). Selfie-Objectification: Self-Objectification and Positive Feedback (“Likes”) are Associated with Frequency of Posting Sexually Objectifying Self-Images on Social Media. Body Image, 26, 83-89. https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2018.06.005. [ Links ]

Borsa, J. C., Damasio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). Adaptação e validação de instrumentos psicológicos entre culturas: algumas considerações. Paidéia, 22, 423-432. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2012000300014 [ Links ]

Calogero, R. M. (2011). Operationalizing self-objectification: Assessment and related methodological issues. Em R. M. Calogero, S. Tantleff-Dunn & J. K. Thompson (Orgs.), Self-objectification in women: Causes, consequences, and counteractions (pp. 23-49). Michigan: American Psychology Association. [ Links ]

Calogero, R. M., Tantleff-Dunn, S., & Thompson, J. K. (2011). Objectification theory: An introduction. Em R. Calogero, S., Tantleff-Dunn & J. K. Thompson (Orgs.), Self-objectification in women: Causes, consequences, and counteractions (pp. 3-21). Michigan: American Psychology Association . [ Links ]

Cardoso, V. G. (2019). Discursos sobre a construção corporal da mulher em livros didáticos do ensino fundamental. (Dissertação Mestrado em Educação. Universidade Federal de Goiás, Jataí) [ Links ]

Carvalho, P. D. S. (2017). Humanize: uma campanha contra a objetificação feminina. (Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Comunicação Visual Design). Rio de Janeiro: Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro. [ Links ]

Damásio, B. F. (2013). Contribuições da Análise Fatorial Confirmatória Multigrupo (AFCMG) na avaliação de invariância de instrumentos psicométricos. Psico-USF, 18(2), 211-220. https://doi.org/10.1590/S1413-82712013000200005. [ Links ]

Davidov, E., Meuleman, B., Cieciuch, J., Schmidt, P., & Billiet, J. (2014). Measurement equivalence in cross-national research. Annual Review of Sociology, 40(1), 55-75. [ Links ]

Duarte, M. A., Voser, R. C., Hernández, J. A. E., & Goulart, C. K. L. S. (2018). A insatisfação corporal na infância e início da adolescência. Pensar a Prática, 21(1). https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.42899. [ Links ]

Ferrando, P.J., & Lorenzo-Seva, U. (2017). Program FACTOR at 10: origins, development and future directions. Psicothema, 29(2), 236-241. https://doi.org/10.7334/psicothema2016.304 [ Links ]

Ferreira, T. (2018). Transtornos alimentares: principais sintomas e características psíquicas. Revista Uningá, 55(2), 169-176. http://revista.uninga.br/index.php/uninga/article/view/176. [ Links ]

Franzoi, S. L. (1994). Further evidence of the reliability and validity of the Body Esteem Scale. Journal of Clinical Psychology, 50, 237-239. https://doi.org/10.1002/1097-4679(199403)50:2<237::AID-JCLP2270500214>3.0.CO;2-P [ Links ]

Fredrickson, B. L., & Roberts, T. (1997). Objectification theory: Towards the understanding women’s lived experiences and mental risks. Psychology of Women Quarterly, 21, 173-206. https://doi.org/10.1111/j.1471-6402.1997.tb00108.x. [ Links ]

Lorenzo-Seva, U., & Ferrando, P.J. (2019). Robust Promin: a method for diagonally weighted factor rotation. LIBERABIT, Revista Peruana de Psicología, 25, 99-106. https://doi.org/10.24265/liberabit.2019.v25n1.08 [ Links ]

McKinley, N. M. (2011). Continuity and change in self-objectification: Taking a life-span approach to women’s experiences of objectified body consciousness. Em R. Calogero, S., Tantleff-Dunn & J. K. Thompson (Orgs.), Self-objectification in women: Causes, consequences, and counteractions (pp. 101-115). Michigan: American Psychology Association . [ Links ]

McKinley, N. M., & Hyde, J. S. (1996). Objectified body consciousness scale: Development and validation. Psychology of Women Quarterly, 20, 181-215. https://doi.org/10.1111/j.1471-6402.1996.tb00467.x. [ Links ]

Moradi, B. (2011). Objectification theory: Areas of promise and refinement. The Counseling Psychologist, 39(1), 153-163. https://doi.org/10.1177/0011000010384279. [ Links ]

Moradi, B., & Varnes, J.R. (2017). Structure of the Objectified Body Consciousness Scale: Reevaluated 20 Years later. Sex Roles, 77, 325-337. https://doi.org/10.1007/s11199-016-0731-x [ Links ]

Muthén, L. K., & Muthén, B. O. (2012). Mplus User’s Guide: Statistical Analysis with Latent Variables (7th ed.). Los Angeles, CA: Muthén & Muthén. [ Links ]

Noll, S. M., & Fredrickson, B. L. (1998). A mediation model linking self-objectification, body shame, and disordered eating. Psychology of Women Quarterly, 22(4), 623-636. https://doi.org/10.1111/j.1471-6402.1998.tb00181.x. [ Links ]

Oliveira, I. R. S., Rocha, L. L. S., Santos, V. E. S., Avelino, L. F. L., & Targino, G. C. (2020). O simulacro da masculinidade como arquétipo cultural da objetificação do corpo feminino: da virilidade ao estupro. Revista Brasileira de Direito e Gestão Pública, 8(02), 332-344. [ Links ]

Schaefer, L. M., Burke, N. L., Calogero, R. M., Menzel, J. E., Krawczyk, R., & Thompson, J. K. (2018). Self-objectification, body shame, and disordered eating: Testing a core mediational model of objectification theory among White, Black, and Hispanic women. Body Image, 24, 5-12. https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2017.10.005. [ Links ]

Sicilia, A., Alcaraz-Ibáñez, M., Granero-Gallegos, A., Lirola, M. J., & Burgueno, F. (2020). Psychometric Properties of the Objectified Body Consciousness Scale (OBCS) in Spanish Preadolescents. Sex Roles, 82, 241-251. https://doi.org/10.1007/s11199-019-01043-x. [ Links ]

Smolak, L., & Murnen, S. K. (2011). The sexualization of girls and women as a primary antecedent of self-objectification. Em R. Calogero, S., Tantleff-Dunn & J. K. Thompson (Orgs.), Self-objectification in women: Causes, consequences, and counteractions (pp. 53-75). Michigan: American Psychology Association . [ Links ]

Tabachnick, B. G., & Fidell, L. S. (2013). Using Multivariate Statistics (6th ed.). Boston, MA: Pearson. [ Links ]

Talmon, A., & Ginzburg, K. (2016). The nullifying experience of self-objectification: The development and psychometric evaluation of the Self-Objectification Scale. Child Abuse & Neglect, 60, 46-57. https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2016.09.007. [ Links ]

Timmerman, M. E., & Lorenzo-Seva, U. (2011). Dimensionality Assessment of Ordered Polytomous Items with Parallel Analysis. Psychological Methods, 16, 209-220. https://doi.org/10.1037/a0023353 [ Links ]

Declaración de contribución de los/as autores/as CPL y VMG contribuyeron a la propuesta, redacción e implementación del proyecto de investigación, CPL y GKAC a la recopilación y análisis de datos, FRM, IMA y PFP a actualizar el análisis de datos. Todos los autores discutieron los resultados y contribuyeron al manuscrito final.

Editor de sección El editor de sección de este artículo fue Álvaro Cabana. ORCID ID: 0000-0002-8637-290X

Recebido: 29 de Março de 2021; Aceito: 29 de Março de 2022

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons