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Ciencias Psicológicas

versión impresa ISSN 1688-4094versión On-line ISSN 1688-4221

Cienc. Psicol. vol.15 no.2 Montevideo dic. 2021  Epub 01-Dic-2021

https://doi.org/10.22235/cp.v15i2.2238 

Original Articles

Crianças na rede: percepções de pais e mães de crianças sobre o uso de internet

Niños en la red: percepciones de padres y madres de niños sobre el uso de internet

Talita Cristina Grizólio1 
http://orcid.org/0000-0002-6070-286X

Fabio Scorsolini-Comin2 
http://orcid.org/0000-0001-6281-3371

1 Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Brazil

2 Universidade de São Paulo, Brazil, fabio.scorsolini@usp.br


Resumo:

Este estudo teve por objetivo compreender quais as percepções e experiências de pais e mães de crianças brasileiras de 9 a 11 anos acerca do uso da internet por parte dos seus filhos. Trata-se de um estudo qualitativo do qual participaram 12 genitores com idades entre 35 a 52 anos, sendo de 10,16 anos a média de idade dos seus filhos. Foram empregados dois roteiros de entrevistas. Não houve um consenso entre os pais a respeito de como mediar o uso de internet dos filhos, bem como se suas privacidades devem ser preservadas ou não nesse processo. Porém, parecem convergir quanto às preocupações com o tempo que os filhos ficam conectados. A comunicação foi evidenciada como instrumento imprescindível para a educação digital. Destaca-se como maiores desafios a falta de obediência às regras impostas pelos pais e a ausência de parâmetros para balizar essas mediações.

Palavras-chave: parentalidade; internet; relações pai-criança

Resumen:

Este estudio tuvo como objetivo comprender las percepciones y experiencias de los padres de niños brasileños de 9 a 11 años sobre el uso de internet por parte de sus hijos. Se trata de un estudio cualitativo que involucró a 12 padres de 35 a 52 años de edad y 10.16 años de edad promedio de sus hijos. Se emplearon dos guiones de entrevistas. No hubo consenso entre los padres sobre cómo mediar en el uso de internet de los niños, así como si su privacidad debe conservarse o no en este proceso. Sin embargo, parecen converger las preocupaciones sobre el tiempo en que los niños están conectados. La comunicación se destacó como una herramienta indispensable para la educación digital. Se destaca como los mayores desafíos la falta de obediencia a las reglas impuestas por los padres y la falta de parámetros para marcar estas mediaciones.

Palabras clave: parentalidad; internet; relaciones entre padres e hijos

Abstract:

This study aimed to understand the perceptions and experiences of parents of Brazilian children from nine to eleven years old regarding Internet use by their children. This is a qualitative study in which twelve genitors aged from 35 to 52 years participated, with the average age of their children being 10.16 years. Two interview scripts were employed. There was no consensus among the parents regarding how to mediate Internet use by their children, nor whether or not their privacy must be preserved in this process. However, they seem to converge regarding the concerns with the time their children spend online. Communication was made evident as an indispensable instrument for digital education. The lack of obedience to the rules imposed by the parents and the absence of parameters to mark such mediations stand out as the most significant challenges.

Keywords: parenting; Internet; parent-child relationships

Com o aumento dos dispositivos tecnológicos passíveis de conexão com a internet, o acesso à rede mundial de computadores tem tido um crescimento significativo desde a sua popularização na década de 1990 (Terres-Trindade & Mosmann, 2016). Nesse contexto, a disseminação das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs), em especial a internet, trouxe consigo múltiplas oportunidades e desafios tanto em nível individual quanto social, na medida em que propiciou novos modos de se conhecer e se relacionar (Carochinho & Lopes, 2016; Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NICBR), 2016; Scorsolini-Comin, 2014).

Ainda que tais circunstâncias criem ensejos de envolver as pessoas, incluindo crianças em um mundo cada vez mais conectado, por outro estabelece enormes desafios para pais e educadores (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (CETIC), 2017). Pesquisas apontam que as crianças acessam a internet desde cedo. Em 2016, cerca de oito em cada dez (82 %) crianças e adolescentes brasileiros com idades entre 9 e 17 anos eram usuários de internet, o que correspondia a 24,3 milhões de usuários no país, sendo que cerca de sete em cada dez (69 %) crianças e adolescentes usuários de Internet utilizaram a rede com segurança, segundo a declaração dos seus pais ou responsáveis (CETIC, 2017).

Obviamente que esses dados deverão ser revisitados em um futuro muito próximo, sobretudo a partir da deflagração da pandemia de COVID-19 no ano de 2020 e de suas repercussões a curto, médio e longo prazos. Aventa-se que esses números tenham se ampliado justamente em função do novo cenário interativo, com repercussões globais. Entre as maiores transformações que incidem diretamente sobre a temática em tela está a utilização das ferramentas de comunicação e de informação e da internet para a manutenção dos processos de ensino e aprendizagem nos mais variados níveis formativos (ensino a distância, ensino remoto, ensino híbrido), afetando diretamente as crianças, haja vista que esse papel mais acentuado dessas tecnologias precisa de uma adequada mediação por parte de pais e responsáveis, o que vem sendo discutido de modo mais acelerado contemporaneamente. Essas discussões também não se apresentam apartadas daquelas sobre o papel da escola, a jornada escolar diária, o desempenho acadêmico e as condições emocionais dos estudantes (Oliveira, Gomes & Barcellos, 2020; Wu, 2020).

Para além desse cenário atual - de trânsito pela pandemia e a necessária reflexão sobre as repercussões educacionais desse contexto - há que se destacar que a internet representa um universo de oportunidades positivas e negativas, principalmente para as crianças e, com isso, é necessário vislumbrar tal realidade com criticidade para que não compreendamos esse instrumento apenas como algo genuinamente maléfico para o desenvolvimento (Coll & Monereo, 2010). Juntamente com a modernização dos meios de comunicação, vieram também as mudanças na forma de interação social, sobretudo em relação ao brincar (Dias & Costa, 2012), cada dia mais sincronizado com as novas tecnologias on-line. Com isso, algumas das justificativas para o uso consentido de internet pelos pais se dão no discurso de que há uma falta de tempo para acompanhar os filhos em brincadeiras ao ar livre, falta de segurança em espaços que são públicos e, ainda, que saber utilizar e manusear equipamentos relacionados às TDICs é de suma importância para uma vida competitiva no futuro (CETIC, 2017).

Embora o acesso à rede tenha aumentado, muitas vezes, os pais têm pouco controle sobre o que os filhos estão acessando quando estão on-line (CETIC, 2017). Contudo, a Convenção dos Direitos da Criança (Nações Unidas, 1989) informa que a responsabilidade de instrução, assistência, orientação e monitoramento de crianças e adolescentes, até que atinjam a maioridade civil aos 18 anos, é dos pais. Nesse contexto, a moderação parental do uso de internet pelos filhos se faz imprescindível, pois os interditos e os limites são essenciais para o desenvolvimento afetivo infanto-juvenil, em fases pré e pós-verbais. Devemos lembrar que o desenvolvimento humano é algo que acontece de forma contínua, a partir das mudanças individuais e grupais dentro de um determinado contexto (Bronfenbrenner, 2011).

A mediação é o termo mais utilizado atualmente na literatura para designar as estratégias educativas parentais direcionadas às mídias (Grizólio & Scorsolini-Comin, 2020; Maidel & Vieira, 2015). No Brasil, a pesquisa The Kids Online 2016 demonstrou que as práticas educativas parentais destinadas ao uso de internet, isto é, as mediações, oscilaram de posturas mais permissivas ao disciplinamento e controle. Além disso, a mediação de cunho autoritário foi tida como cruel pelos filhos, pois acabaram se sentindo desconsiderados quanto agentes ativos desse novo processo comunicacional. Ainda pôde-se elencar as mediações permissivas, nas quais o próprio usuário deve decidir quanto tempo ficará na rede e a mediação negligente, na qual há um distanciamento dos pais com relação aos filhos, que ficam sem informação alguma sobre os riscos da rede (CETIC, 2017).

Bronfenbrenner (2011) atentou-se para o fenômeno da expansão de computadores nas casas das famílias na segunda metade do século XX. Para o autor, o estudo do desenvolvimento humano só poderia ocorrer dentro de um determinado contexto, criticando investigações que visavam a compreender como as pessoas se relacionavam e se desenvolviam em ambientes artificiais, ou seja, “fora-de-contexto”. No contexto dos computadores e das novas tecnologias, por exemplo, recomendava compreender as relações familiares dentro desse cenário interativo, ou seja, de um ambiente com a presença desses elementos e nos quais as pessoas vivessem e interagissem, produzindo desenvolvimento. Assim, não basta conhecer o ambiente em que uma criança ou uma família estão inscritos, é necessário perceber o que ocorre nesse meio, suas semelhanças e diferenças com outros contextos, como se dão as interações e como estas repercutem no desenvolvimento.

Partindo do pressuposto de que cada faixa etária representa singularidades que vão exigir dos pais diferentes posturas, para que a mediação do acesso à rede seja condizente com as demandas postas, é premente questionar, como norte do presente estudo: como os pais têm lidado com o acesso à rede pelos filhos de 9 a 11 anos? A pesquisa TIC Online Kids em 2017 apontou que 70 % dos pais ou responsáveis acreditavam que as crianças e adolescentes faziam um uso seguro da internet no Brasil. Por outro lado, 50 % das crianças e adolescentes usuários da rede relataram que seus pais ou responsáveis sabem mais ou menos ou nada sobre suas atividades na internet (CETIC, 2018). A partir desse panorama, o objetivo deste estudo é compreender quais as percepções e experiências de pais e mães de crianças de nove a 11 anos acerca do uso da internet por parte dos seus filhos. No que se refere ao público abordado na presente investigação, as crianças, ainda que a coleta de dados aqui narrada tenha ocorrido em um cenário pré-pandêmico, tais apontamentos podem e devem ser apreciados a partir das transformações em curso mobilizadas pela pandemia da COVID-19, podendo compor orientações a pais, responsáveis, professores e gestores diretamente afetados e considerados nesse novo contexto interativo e educacional.

Método

Tipo de estudo e considerações éticas

Trata-se de um estudo exploratório, amparado na abordagem qualitativa de pesquisa e fundamentado no Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner, 1996, 2011; Bronfenbrenner & Morris, 1998), também conhecido pela sigla PPCT - pessoa, processo, contexto e tempo. A partir da integração desses diferentes vértices, os autores propõem o estudo do desenvolvimento humano em uma perspectiva sistêmica, considerando a necessidade de não apenas descrever os contextos nos quais o desenvolvimento ocorre, mas de que modo as características desses ambientes influenciam e são influenciadas pelas pessoas em interação. Nessa perspectiva, o desenvolvimento pode ser apreendido sempre que há mudanças de meio e/ou de papel, ou seja, em relação aos ambientes nos quais as pessoas interagem e/ou em relação aos papéis que elas assumem nessas relações, conceito este que recebe o nome de transição ecológica. Em consonância com a legislação brasileira (Resolução nº 466, de 12/12/2012 do Conselho Nacional de Saúde), este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (CAAE 82380418.5.0000.5154 e Parecer nº 2.586.184).

Participantes

Participaram do estudo 12 genitores (pais e mães), com média de idade de 40,33 anos, variando de 35 a 52 anos de idade, sendo de 10,16 anos a média de idade dos seus filhos. Esses genitores são provenientes de uma cidade do interior do Estado de Minas Gerais, Brasil. Na composição da amostra foi empregado o critério de saturação, ou seja, o número de participantes foi definido na medida em que as entrevistas foram respondendo suficientemente bem aos objetivos do estudo e os dados foram se repetindo. A opção por pais que residiam com pelo menos um filho entre nove anos e 11 anos 11 meses deu-se em razão de poder permitir uma maior compreensão de como se dão as interações em família, de forma a abranger os desafios da convivência diária frente às práticas parentais. Ressalta-se, ainda, que neste estudo adotou-se a nomenclatura “criança” para aquelas que possuíam de nove a 11 anos e 11 meses de idade. Tal critério está alinhado às pesquisas The Kids Online Brasil, que são feitas desde 2012 (CETIC, 2017; 2018). Neste estudo não foram entrevistados casais, apenas um membro da díade, haja vista que o objetivo não era comparar as experiências e práticas parentais dentro de uma mesma família. A Tabela 1 apresenta a caracterização da amostra.

Tabela 1: Caracterização da amostra (N = 12) 

Como podemos notar, a maioria das crianças (n = 9; 75 %) possui seu próprio celular, concentrando suas atividades na utilização das plataformas Youtube e Netflix, além de jogos on-line. Além disso, os pais se dividiram quanto à questão da utilização de instrumentos de monitoramento de conteúdos acessados pelos filhos, sendo que metade dos entrevistados utiliza tal recurso.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados foram a entrevista semiestruturada para pais de crianças e a entrevista estruturada, ambos desenvolvidos pelos próprios pesquisadores. No roteiro de Entrevista Semiestruturado foram abordadas temáticas referentes às percepções acerca do uso de internet pelos filhos, atitudes frente ao uso de internet, referências utilizadas para a mediação do acesso à rede e estratégias para mediação do uso de internet. O roteiro de entrevista estruturado abordou questões mais pontuais a respeito de modos e frequências do uso da internet.

Procedimento

Coleta de dados

Os participantes foram contatados a partir dos contatos sociais dos pesquisadores, sendo posteriormente indicados mediante o procedimento conhecido como bola de neve. O recrutamento também ocorreu via redes sociais, como o Facebook. Após a seleção dos participantes, foram explicados os termos de participação, ressaltando o caráter voluntário, sigiloso e anônimo do estudo. Feitos esses esclarecimentos os participantes foram convidados a ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Posteriormente foi iniciada a coleta de dados em ambiente reservado que assegurou a privacidade e o conforto material e psicológico dos participantes. As duas entrevistas foram aplicadas face a face em uma única sessão, sendo audiogravadas e posteriormente transcritas na íntegra, compondo o corpus analítico.

Análise dos dados

As entrevistas foram analisadas minuciosamente, destacando-se, em um primeiro momento, os eixos temáticos encontrados a partir das falas de cada um dos respondentes, ou seja, foi realizada uma análise vertical do material. Em um segundo momento, foi realizada uma análise horizontal de todas as entrevistas, elencando os pontos de semelhança e as diferenças entre as falas, também a partir dos eixos temáticos construídos. Para a análise qualitativa das entrevistas, foram utilizados os procedimentos propostos por Braun e Clarke (2006) e que visam a identificar, analisar e relatar padrões (temas) nos dados obtidos, permitindo a construção de eixos temáticos. A análise e a interpretação dos eixos temáticos foram pautadas no Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano (Bronfenbenner, 1996, 2011; Bronfenbrenner & Morris, 1998) e na literatura da área.

Resultados e Discussão

A partir da análise temática, os resultados foram agrupados em quatro eixos construídos a posteriori, segundo sua recorrência nos relatos (maior frequência de menções) e maior significação por parte dos participantes: (a) Como os pais estão mediando?; (b) Mudanças e permanências na qualidade de comunicação entre pais e filhos; (c) Privacidade: ter ou não ter?; e (d) Maiores desafios.

(a) Como os pais estão mediando?

Nesta categoria serão discutidas práticas, pensamentos e regras exercidas por pais com seus filhos a respeito de como utilizar a internet. De antemão é importante salientar que se denominam práticas educativas parentais os modos como os pais ou outros responsáveis que assumem a função parental orientam o comportamento de crianças (Silva & Pereira, 2018).

“Mudou muito né, hoje a pessoa se ela não quiser ter trabalho ela entrega o celular e a criança fica o tempo todo com o celular na mão, se ela quer ter paz ela liga o computador, é mais fácil você fazer isso do que brigar. Antigamente a gente dava um brinquedo, hoje não, hoje se a criança não quer brincar a gente dá internet” (Mãe 2).

Tendo em vista o trecho apresentado, é válido compreender que diante da inserção tecnológica no seio familiar, diversas transformações ocorreram, destacando-se as que cercearam as relações entre os membros. Essas transformações, apesar de conectarem pessoas geograficamente distantes, também podem promover afastamentos entre membros nas relações presencias principalmente no que tange ao modo como nos comunicamos em função da internet e das novas tecnologias. Um dos pontos marcantes quanto à mudança na comunicação quando pensamos no público infantil é o ato de brincar. A fala ilustrada pela Mãe 2 assinala este aspecto ao revelar que atualmente o brincar se resume à utilização de internet, fato já apontado pelos autores Dias e Costa (2012) que descrevem o brincar da criança contemporânea cada dia mais sincronizado com as novas tecnologias on-line.

Diante deste cenário em que a tecnologia tem invadido as casas, com a permissão dos pais, alguns fatores de proteção em saúde começam a ser repensados. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2016) na nova versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11) consta a inclusão do uso abusivo da tecnologia de jogos eletrônicos (o chamado gaming disorder) na seção de transtornos que podem causar vício. Ou seja, a dependência tecnológica dos jogos de videogames on-line e off-line passa a ser entendida como um transtorno. Nesse contexto, o papel dos pais se faz ainda mais importante, por serem as pessoas mais próximas e, portanto, mais capazes de identificar com antecedência os sintomas decorrentes do uso abusivo desses dispositivos.

A literatura tem reportado que a ausência constante dos pais na rotina diária dos filhos, mesmo sob a justificativa de que há uma falta de tempo para acompanhá-los em brincadeiras ao ar livre e falta de segurança em espaços que são públicos (CETIC, 2017), pode acarretar prejuízos às crianças. Com isso, atualmente, vemos cada vez mais, a mídia como a internet e a TV, bem como também a escola, dividindo o espaço de responsabilidade familiar e de socialização, anteriormente delegada quase que exclusivamente à família (Levy & Jonathan, 2010; Junqueira, 2014).

Ainda que o papel da família nesse processo esteja sendo constantemente discutido, a mediação por parte dos pais continua sendo fundamental (Grizólio & Scorsolini-Comin, 2020). O modo como as crianças interagem na internet e usam as tecnologias digitais frequentemente promove nos pais preocupações quanto aos riscos possivelmente envolvidos e mesmo em relação à mediação necessária para regular esse uso/acesso/frequência, como pode ser observado nas falas a seguir:

“Peço para ela me falar quem entra em contato com ela quem não entra, geralmente ela me pergunta: mãe uma pessoa assim me chamou, e eu falo não, bloqueia se você não conhece. Já ensinei ela bloquear já no Instagram, no WhatsApp eu ensinei ela bloquear e converso com ela” (Mãe 4).

“Por exemplo, videogame eles podem jogar só no final de semana durante duas horas, então a gente na hora que acabou o videogame, desliga. Tem a programação automática, senão eles querem jogar o dia inteiro” (Mãe 2).

Acerca desses trechos, é necessário entender que é importante para a criança ter um direcionamento dos pais quanto a como e quanto utilizar a internet, priorizando a necessidade de uma rotina que os oriente. A criança depende da família para se sentir amparada e, dessa forma, precisa de hábitos domésticos como referência que ordenem seu cotidiano (Scholz, Scremin, Bottoli & Costa, 2015), o que também atravessa o modo como se relacionam com essas tecnologias. Como pudemos observar nas entrevistas, essas rotinas e regras são definidas em família, podendo variar entre posturas mais ou menos restritivas.

Essas regras são construídas a partir tanto de experiências particulares na interação entre esses sujeitos (pais e filhos) no microssistema família, mas também são influenciadas por experiências ocorridas em outros sistemas dos quais essas pessoas não participam (exossistema) e orientadas pelo modo como o macrossistema representa o que são essas regras, o que é família e o que é ser pai/mãe nesse contexto atual (Bronfenbrenner, 2011). A compreensão sistêmica desses vértices é que permitiria acessar o modo como essa mediação se dá em cada família, balizando também orientações no sentido do estabelecimento de relações mais saudáveis e baseadas na troca e no diálogo.

A SBP em 2016 lançou um manual de orientação para pais, crianças, adolescentes, professores, escolas e pediatras. Entre as sugestões presentes no documento destacavam-se as que faziam referência ao tempo de tela, isto é, o tempo que as crianças utilizam a tecnologia digital. A orientação é que o período de tempo seja limitado e que esteja em consonância com o desenvolvimento biopsicossocial da criança, preocupação evidenciada pela fala da Mãe 2, que aciona o desligamento automático do videogame em função da necessidade de impor um limite diante desse uso. Além do estabelecimento de limites para a criança, a presença efetiva dos pais na orientação é indispensável, havendo uma necessidade de equilibrar as horas gastas on-line com atividades ao ar livre, brincadeiras, exercícios, ou contato direto com a natureza (SBP, 2016).

A presença de regras que possuam sentido e uma rotina programática para a criança são importantes, pois naturalmente seu desenvolvimento ocorrerá de forma progressiva, a partir de um processo sequencial de etapas ao longo do ciclo vital, de tal forma que os resultados desenvolvimentais que emergem em um dado momento se constituem na base sobre a qual a etapa seguinte se estrutura (Bronfenbrenner, 2011). Sendo assim, é necessário que os pais possam ser pontes estruturantes para o amadurecimento dos filhos. Um dos meios para alcançar essa proposta é a mediação, possibilitando a estruturação desenvolvimental necessária para a fase seguinte.

O excerto de fala da Mãe 4 aponta um exemplo de mediação ativa e trata-se de uma prática educativa relacionada a conversas abertas que visam orientações acerca dos modos de se usar a internet com segurança. Sobre essa prática, aponta-se que uma comunicação de proximidade com os filhos tem muito mais eficácia do que regras rígidas a respeito do uso de internet (Álvarez, Torres, Rodriguez, Padilla & Rodrigo, 2013).

“A gente tem que ter uma medida, não ser muito rigoroso e nem muito permissivo ou liberal, porque... eles têm que ter aquela confiança que se aparecer uma coisa diferente, nos chamar. Não chamar o amiguinho ou um colega, mas perguntar pra gente” (Pai 1).

“Eu tento ver como está o comportamento dela e avaliar o tempo porque ao mesmo tempo que eu trabalho a questão da confiança com ela, se eu ficar igual uma polícia 24 horas o que que vai adiantar vai ser uma troca desleal né” (Mãe 5).

Nesses excertos de fala, podemos ver claramente a priorização de uma relação de confiança com os filhos, ao invés de implementar regras rígidas e controladoras a respeito do uso de internet. Nesse sentido, podemos perceber que um dos principais pontos de discussão quando estamos falando de mediação é a qualidade de comunicação estabelecida entre pais e filhos. Na fala do Pai 1 observamos a existência de uma medida para essa mediação, descrita por ele em termos de um equilíbrio entre rigor e permissividade. No entanto, podemos problematizar que essa postura mais equilibrada nem sempre se dá de modo ordenado ou ausente de conflitos. Assim, por mais que os pais façam tentativas quanto a educação virtual, muitas vezes eles podem se sentir ambivalentes em como fazê-lo, demandando uma postura permanente de avaliação em relação à mediação. Então não há como estabelecer o mesmo modelo de mediação durante todo o desenvolvimento dos filhos.

A comunicação aberta tem sido apontada como o melhor caminho, quando pensamos em um controle de risco (CETIC, 2017). Na pesquisa realizada pelos autores Li, Dang, Zhang, Zhang e Guo (2014), fatores como expressão sincera de respeito e de amor foram vistos como instrumentos de proteção.

É relevante destacar que a proteção excessiva pode limitar as oportunidades oferecidas pela rede, que poderiam ajudar no crescimento, autonomia, responsabilidade e resiliência da criança. Ainda é importante estar atento ao ambiente que cerca os filhos, pois a mediação parental sozinha não é suficiente para proteger e orientar. É necessário, portanto, uma interlocução com a escola e a consideração dos pares como influenciadores potenciais (Shin & Lwin, 2017). A partir de uma perspectiva bioecológica, podemos compreender que a interação entre os diferentes sistemas (micro, meso, exo e macrossistema) permite não apenas a construção de práticas de mediação, mas também das percepções desses sujeitos diante das características desses ambientes.

(b) Mudanças e permanências na qualidade da comunicação entre pais e filhos

Nesta categoria os pais relatam algumas percepções a respeito das singularidades de sua própria geração e a dos seus filhos, evidenciando dificuldades de comunicação e relacionamento com os pais. Fica evidente que apesar da inserção da internet ter engendrado novos desafios para os pais, também havia dificuldades em sua geração.

“Eu acho assim, que a gente não pode partir de uma perspectiva só melancólica, de ficar falando que naquela época era melhor, né. Porque houve, também, as dificuldades, né. Por exemplo, na minha relação com os meus pais, é, não tinha internet, mas afetivamente não era tão próximo e a gente não conversava tão abertamente como eu converso com as minhas filhas. (...) Então, eu acho que são lugares, são momentos históricos diferentes” (Mãe 7).

Como podemos perceber pela fala da Mãe 7, as práticas parentais não acontecem de forma desvinculada do momento sócio-histórico, colocando em destaque o papel do macrossistema, responsável pela transmissão da cultura, mas também do tempo histórico representado pela sucessão de gerações (Bronfenbrenner, 2011). Anteriormente, o modelo patriarcal predominava, no qual o estilo autoritário fazia com que os pais assumissem uma autoridade inquestionável. Com o tempo, surgiram novas formas de consolidação familiar, com outras maneiras de ser-família. As relações passam a ser menos hierarquizadas e mais participativas (Silva & Pereira, 2018), ainda que aspectos considerados mais tradicionais sejam mantidos.

A internet ocupa um papel importante nas mudanças ocorridas, pois houve uma transformação no modo de se comunicar, as informações passam a não serem mais frontais ou lineares do tipo emissor-receptor. Agora o processo comunicativo ocorre em rede como ecossistema e, portanto, sujeito a relações com outros ecossistemas. Esse modelo de comunicação conecta pessoas, territórios, meio ambiente e natureza (Di Felice, 2012). Assim, houve uma necessidade de adaptação e de entendimento da nova realidade, contexto este que acabou requerendo da sociedade uma ressignificação dos papéis familiares (Scholz et al., 2015).

Para o modelo bioecológico, o contexto que nos cerca pode ser determinante quanto aos nossos modos de lidar com cada situação, mas pressupõe também um dinamismo que nos permite reagir e produzir diante dos ambientes ecológicos dos quais fazemos parte. Como afirmado por Bronfenbrenner (1996), o desenvolvimento se dá em uma “acomodação progressiva, mútua, entre um ser humano ativo, e as propriedades mutantes dos ambientes imediatos em que a pessoa vive, conforme esse processo é afetado pelas relações entre esses ambientes e pelos contextos mais amplos em que os ambientes estão inseridos” (p. 18).

O que podemos perceber é que apesar dos ambientes terem se modificado, a comunicação entre pais e filhos ainda continua sendo determinante quando estamos falando de educação. A comunicação ganha uma nova roupagem a partir da democratização da internet. No entanto, quando pensamos nas dificuldades parentais para se lidar com a rede, o vínculo que se estabelece entre pais e filhos parece ser mais determinante do que outras justificativas, como por exemplo, a de que os pais se sentem reféns da tecnologia, ou mesmo que o mundo está perigoso ou não têm tempo. Lembrando que a ausência de proteção desse público pode acarretar consequências permanentes (CETIC, 2017).

Experiências ruins com práticas educativas de cunho restritivo podem promover nos pais a tentativa de educar seus filhos de modo diferente do que vivenciaram com seus próprios genitores. A partir disso, os pais podem ser mais flexíveis, ponderando restrições que até seriam importantes para o desenvolvimento dos filhos. Nesse movimento, pais e mães acabam colocando ao alcance das mãos tudo o que os filhos desejam, delegando a terapeutas e professores a tarefa de educar (Junqueira, 2014).

A falta de uma comunicação saudável em família pode prejudicar o uso positivo de internet. O diálogo entre pais e filhos pode ser uma estratégia de prevenção (Appel, Holtz, Stiglbauer & Batinic, 2012), sobretudo considerando que essa é uma intervenção que ocorre no microssistema, ou seja, no meio em que as pessoas em desenvolvimento têm uma participação ativa, o que promove ações com maior potencial de mudança e de implicação para o desenvolvimento. Na literatura científica, é consenso que a família pode estar intimamente relacionada aos problemas que crianças e adolescentes possam ter, de cunho afetivo e comportamental (Bernal, 2012; Terres-Trindade & Mosmann, 2016). Nesse contexto, é importante perceber que dentre os principais fatores de uso problemático de internet (UPI) estão estilos disfuncionais de parentalidade, tais como falta de coesão e falta de comunicação (Patrão et al., 2016).

(c) Privacidade: ter ou não ter?

Nesta categoria serão discutidos pontos de vistas diversos a respeito da privacidade que crianças deveriam ou não ter quando estão acessando algum conteúdo na internet. Os entrevistados destacam dois posicionamentos principais: o primeiro deles sugerindo que, enquanto pais, não devem invadir a privacidade dos filhos, respeitando-os; e o segundo de que a preservação dessa privacidade pode colocar os filhos diante de riscos.

“Acho que essa questão dos softwares é uma invasão de privacidade total, eu acho também foi instaurado um pânico tão grande na sociedade e as pessoas querem ficar vendo o tempo todo que tá acontecendo e também não é assim, o que tiver de acontecer vai acontecer mesmo você tendo aquele software lá” (Mãe 2).

No trecho de fala da mãe 2, há um repúdio aos softwares de monitoramento do uso de internet, no qual ela se expressa contrariamente à inserção de monitoramento do conteúdo que a criança acessa. Assim, posiciona-se em defesa da privacidade dos filhos na internet sem o controle dos pais. Os programas de bloqueio e filtragem de sites ou não resultam em proteções efetivas, ou impedem o acesso de conteúdos inofensivos e até mesmo educativos (Monteiro, 2008). Para este autor vale muito mais desenvolver na criança uma visão crítica a respeito do que se trata a internet, de modo a orientar e ensinar a lidar com esse novo mundo, evitando as suas ameaças, mas também aproveitando da melhor forma as suas oportunidades.

O uso de internet passou a fazer parte do cotidiano das famílias e as pessoas têm que reformular seus significados e valores (Hintz, 2001). O objetivo é saber alertá-los para o que pode pôr em xeque a sua integridade física, psicológica ou o seu processo educativo, sem impedir o contato com essa realidade. Fazê-lo seria como não permitir que uma criança saísse à rua para não correr o perigo de ser atropelada ou assaltada. Hoje, os novos usuários de internet se tornaram uma realidade incontornável, sendo necessária a informação que permita alcançar esse conhecimento (Monteiro, 2008).

Enquanto a televisão gerava um alarde semelhante à internet de hoje, naquela época as crianças eram meros sujeitos passivos receptores de toda informação incontrolável da TV. Já na era da internet os usuários possuem autonomia para trocar, parar, repetir, optando por acessar conteúdos de acordo com os seus gostos e preferências (Monteiro, 2008). O que vem sendo bastante discutido na contemporaneidade é que mesmo sem deixar os cuidados essenciais que pertencem aos responsáveis, é dada cada vez mais importância à autonomia das crianças. A opinião infantil que antes era ignorada agora passa a ser fundamental (Silva & Pereira, 2018).

“Ela é muito inocente ainda sabe assim de não ter nenhum pouco de malícia eu converso muito com ela eu sou muito preocupada com ela essa questão da pedofilia, do abuso... então eu prezo mais pela segurança dela do que pela privacidade nesse momento da vida dela quando ela ficar um pouco mais velha a tendência gradualmente e ficar um pouco mais relaxada, mas por enquanto não” (Mãe 4).

“Criança não pode ter privacidade. Tipo, senha no celular, não pode ter. Ou postar, ter algum aplicativo que tem senha... fazer uma coisa escondido da gente, senão não pode ter privacidade. Engraçado... muito perigoso internet” (Pai 2).

Os excertos de fala da Mãe 4 e do Pai 2 apontam para uma preocupação recorrente no acesso à internet por crianças, assinalando que a privacidade nessa idade não é necessária, pois a prioridade seria a proteção e não a autonomia. Acerca desse trecho, sabe-se que a capacidade de discernimento da criança para selecionar os conteúdos adequados para se visitar na internet, bem como a sua capacidade para julgar a segurança do fornecimento de informações on-line, deve ser lapidada pelos pais a partir da mediação parental ativa, isto é, manter um bom canal de comunicação com os filhos, no sentido de oferecer um espaço de confiança e de orientação (Lwin, Stanaland & Miyazaki, 2008). No entanto, somente o diálogo pode não ser suficientemente efetivo para crianças, indicando a necessidade de regras claras sobre o uso da rede.

Quanto à questão da vigilância e privacidade, a SBP (2016) apontou que é necessário ter um diálogo com as crianças a respeito das regras, sobre o que é seguro acessarem, evitando que haja exposição e compartilhamento de informações pessoais. Há um incentivo para o monitoramento de sites, programas, aplicativos e vídeos que as crianças acessam. Em uma linguagem mais técnica o documento orienta a utilização de softwares ou programas que sirvam de filtros de segurança e monitoramento de palavras.

Em contraponto, estudos indicam que os softwares de restrição de conteúdo são mais indicados para os pais que não estão tendo sucesso em suas respectivas mediações, geralmente as mediações permissivas ou restritivas demais. Enquanto que os pais que utilizam de uma mediação que preze pela boa comunicação, geralmente estarão mais blindados de possíveis eventos de divulgação de dados pessoas e exposição na internet. Dessa forma, o estilo parental estaria diretamente relacionado ao risco que a criança correria ao acessar a internet (Lwin et al., 2008).

(d) Maiores desafios

Nessa categoria os pais relatam quais os maiores desafios quando o tema em questão é a educação dos filhos na era da internet. Os maiores focos de preocupação se concentraram na extensão ilimitada de conteúdos na internet, o que dificulta a supervisão, a falta de referências quanto a como e quando mediar o uso de internet e a falta de obediência dos filhos.

“Eu acho que a gente fica no conflito enorme entre estar protegendo demais estar protegendo de menos, eu acho que o desafio da minha geração na maternidade na paternidade é exatamente esse saber até onde proteger até onde deixar, porque a gente viu experiências que protegeram demais e não deu certo e aí viraram adultos que não sabem fazer nada. (...) a gente fica tentando equilibrar entre esses dois mundos, um de superproteção que a gente sabe que não dá certo e o outro de uma proteção um pouco mais mediada” (Mãe 4).

A fala da mãe 4 relata um desafio quanto a mediação dos conteúdos acessados, revelando que não há como estabelecer regras muito bem delimitadas, pois as necessidades vão se modificando com o passar do tempo. Dessa forma, os pais vão utilizar de diversos tipos de mediação ao longo de seu exercício da parentalidade. Em uma pesquisa os pais relataram utilizar, em geral, a mediação ativa por meio do diálogo e regras mais restritivas em situações específicas como, por exemplo, quando a família está jantando, ou quando é detectado a utilização de sites de risco. A comunicação aberta foi tida, pelos pais, como o melhor caminho a ser seguido (Symons, Ponnet, Walrave & Heirman, 2017).

Os pais estão ainda tentando se adaptar às novas formas de comportamento dos filhos, como, por exemplo, quando ficam surpreendidos quando estes afirmam ter centenas de amigos on-line ou, ainda, quando têm que lidar com a revolta dos filhos por sanções ou restrições em relação ao uso do smartphone. Não há uma compreensão muito clara do que compõe essas novas formas de se relacionar, nem uma aceitação de que elas podem se modificar continuamente. Ainda se buscam referências nas antigas formas de brincar, jogar, aprender e se relacionar, mesmo com o aumento da produção de conhecimento sobre os nativos digitais (Monteiro, 2008).

Diante desse contexto, nos dias atuais vivenciamos um fenômeno intitulado “fragilização das funções parentais”, caracterizado por pais que sentem culpa, dúvida e insegurança com relação à forma como se posicionam diante do que podem, devem ou não fazer com os filhos. Assim, é necessário compreender quais determinantes históricos, socioculturais e econômicos contribuem para esse comportamento dos pais atualmente (Zanetti & Gomes, 2011). Essa perturbação presente na família fez com que os pais passassem a desconfiar de suas competências para educar seus filhos, uma vez que seus saberes são desqualificados em relação aos dos especialistas. Assim, essas autoras afirmam que está cada vez mais presente a dificuldade que os pais têm de dizer “não”, pois esperam que o social e a mídia o façam.

“O maior desafio, na minha opinião, é obediência. É um desafio muito grande porque... acaba que as crianças, hoje em dia, por elas verem muitos filmes, séries, desenho, elas criam um super-herói pra elas. Elas têm uma imagem de alguém que é super-herói. E as vezes, essa imagem rouba o papel do pai, imagem do pai e da mãe, entendeu? Antigamente falava assim: o que você quer ser? Ah, meu pai é mecânico. O que você quer ser? Eu quero ser mecânico quando eu crescer, né. Hoje em dia não, a criança quer ser... já não vê a profissão do pai, não entende, não quer seguir a carreira do pai. Quer seguir as séries que eles veem na televisão, na internet, essas coisas assim” (Pai 2).

As transformações tecnológicas fizeram com que inevitavelmente as pessoas tivessem que se adaptar, adquirindo novos valores, formando uma geração de “nativos digitais” que não conseguem imaginar a vida sem o uso da tecnologia (Cartaxo, 2018). A internet, grande responsável por tais mudanças, impactou principalmente a rapidez com que as informações circulam (Shimazaki & Pinto, 2011), afetando inevitavelmente o mundo infantil.

O fosso geracional parece agravar-se e o choque entre adultos e jovens tem sido, por vezes, demasiado evidente. Uma relação que, para os jovens, já é incontornável, aos olhos dos adultos surge quase como uma obsessão ou uma extrema dependência, até porque, neste quadro, a distinção entre aprendizagem e divertimento ainda é tênue (Monteiro, 2008). Para Zanetti e Gomes (2011), na contemporaneidade as crianças pequenas desafiam constantemente a autoridade dos pais, apresentando um comportamento muito mais intenso no que se refere à indisciplina do que em crianças de gerações anteriores.

Em seu novo contexto, as crianças crescem em um mundo que se afigura desconhecido para os pais, mundo este onde são elas próprias que, de acordo com os seus interesses, selecionam o tipo de informação a assimilar, construindo os seus modelos de conhecimento, crescimento e sociabilidade. A autonomia que predominou no modo como os mais jovens se apropriaram das novas tecnologias, a forma como aprenderam sozinhos a fazer uso dessas ferramentas, superando os adultos, deu-lhes uma sensação de independência e acabou por lhes conferir um poder que não parecem minimamente dispostos a perder (Monteiro, 2008). Compreender o modo como o macrossistema (história, cultura, contexto global) mostra-se presente nas interações familiares mostra-se uma necessidade, sobretudo em uma perspectiva desenvolvimental cujo foco é sistêmico, o que pressupõe ultrapassar discussões centradas em aspectos psicológicos individuais de pais e seus filhos (Bronfenbrenner, 2011).

Há que se destacar, por fim, que os possíveis conflitos emergentes em relação a essa questão, do uso da internet, também se remetem a outras experiências em família e ao manejo de regras e de orientações que podem variar a cada lar e também sofrer a influência das diferentes gerações e de marcadores socioeconômicos. Permitir a construção da autonomia das crianças sem que as mesmas sejam expostas a riscos parece ser um desafio narrado pela maioria dos entrevistados em se tratando do acesso à internet, compondo uma temática premente tanto no campo da Psicologia do Desenvolvimento como no da parentalidade.

O desenvolvimento progressivo da autonomia nas crianças deve ser acompanhado por mudanças no modo como os pais respondem a esse processo, permitindo também que os filhos possam assumir novos papéis e ampliar quantitativa e qualitativamente suas participações nos ambientes nos quais interagem e se desenvolvem. Esse processo contínuo permitiria, segundo Bronfenbrenner (2011), transições ecológicas tanto como evidências de que o desenvolvimento ocorreu/está ocorrendo quanto como convites para novos aprendizados e amadurecimento.

Embora este estudo tenha sido conduzido antes do período pandêmico, aventa-se que as reflexões e preocupações parentais em relação à mediação do uso de internet por parte de seus filhos ainda é uma questão premente. Obviamente que essas discussões também deverão ser endereçadas em estudos futuros já considerando o trânsito da pandemia e seus efeitos, uma vez que todos os membros da família passaram a dialogar de modo mais profundo com a internet e com as novas tecnologias, quer seja pelo trabalho remoto (home-office), pelo ensino remoto e, principalmente, pela maior convivência entre os membros da família e pelo papel preponderante da internet e das relações virtuais nesse contexto (Lemos, Barbosa & Monzato, 2020; Soto, Moreno & Rosales, 2020; Vila, 2020). Nesse sentido, é importante que estudos como o aqui apresentado possam acompanhar as mudanças dessas famílias na pandemia, até mesmo podendo permitir ressignificações em torno da parentalidade, da mediação e da relação com a internet e as novas tecnologias.

Considerações Finais

O objetivo deste estudo foi o de compreender quais as percepções e experiências de pais e mães de crianças brasileiras de 9 a 11 anos acerca do uso da internet por parte dos seus filhos. Tendo isso em vista, pôde ser observado que os pais têm se preocupado com o uso de internet dos filhos, implementando regras, principalmente quanto à quantidade de horas que podem ser acessadas, e proporcionando-lhes uma rotina a ser seguida.

Nas entrevistas, muitos pais fizeram algumas reflexões sobre as mudanças na comunicação em família diante da inserção da internet no cotidiano. A esse respeito cabe-nos ponderar sobre a própria realidade socioeconômica e cultural das famílias e a construção dos espaços de sociabilidade e de convivência entre pais e filhos diante de novos marcadores, como a internet, os casais de dupla-carreira, o papel da escola, a virtualização das relações, entre outros. Discutir as mudanças observadas de uma geração a outra pode trazer elementos essenciais para pensarmos não apenas os efeitos da internet e das novas tecnologias, mas como a parentalidade vai se transformando em resposta a novos contextos e desafios em família.

Houve também um contraponto interessante entre as falas dos participantes quanto à privacidade de acesso à rede. Enquanto alguns pais assinalaram veementemente que achavam inaceitável invadir a privacidade dos filhos para controlar o que acessam e como acessam, outros afirmaram que criança não deve ter privacidade, mas sim ser protegida dos riscos pela supervisão vigilante dos pais. Por fim, os pais relataram os maiores desafios com relação à criação dos filhos na era da internet. Dentre os fatores, podemos destacar a incerteza desses pais sobre como mediar o acesso, se dialogando ou impondo restrições. Também foi evidenciada a dificuldade de obediência das crianças nos dias atuais, que dão mais créditos aos seus ídolos midiáticos do que aos pais.

Como pôde-se perceber não há um consenso quando a temática em questão envolve as práticas educativas parentais destinadas à mediação do uso de internet pelas crianças. Como o fenômeno estudado ainda pode ser considerado recente, os pais ainda se sentem desamparados e sem referências para educar seus filhos nesse quesito, haja vista que tais desafios não encontram ressonância em suas próprias histórias de vida e nas práticas que foram empreendidas pelos seus genitores no passado. Por isso, investigações que apresentem experiências de pais nesse contexto são bastante válidas para comporem as novas referências sobre o fenômeno.

Dessa forma, este estudo possibilitou a discussão de percepções de pais a respeito do uso de internet das crianças e pode contribuir com as pesquisas acerca da parentalidade, fornecendo parâmetros para que pais possam se beneficiar com as experiências apresentadas. Ainda assim, os dados aqui não podem ser generalizados, pois também podem refletir elementos socioeconômicos dos entrevistados, além de aspectos da parentalidade vivenciados nesse contexto cultural, tendo o recorte de uma cidade de médio porte do interior do Estado de Minas Gerais, no Brasil.

Em que pesem essas limitações, os dados assinalam a transição desses pais diante de um fenômeno complexo que atravessa a parentalidade. Essa transição parece ser um fenômeno grupal na contemporaneidade. Se anteriormente as novas tecnologias não emergiam como uma questão que mediava a relação pais e filhos, hoje apresenta-se como um elemento que compõe o modo como essas pessoas, em família, interagem, comunicam-se e produzem práticas de educação e de cuidado.

Além disso, essa reflexão torna-se ainda mais premente se considerarmos as recentes modificações promovidas pela pandemia da COVID-19 e de alcance global. Nesse novo contexto interativo, essa mediação tem se tornado cada vez mais importante, haja vista marcadores importantes como a continuidade dos processos de ensino e aprendizagem de modo remoto, a maior quantidade com que as crianças passam em casa junto dos pais e a necessidade de uma nova organização familiar para que as crianças permaneçam na escolarização e os pais continuem seus processos laborais. As discussões sobre os marcadores socioeconômicos desse período também podem e devem vir à baila em investigações futuras, permitindo novas considerações sobre a mediação.

Há a necessidade de estudos que façam uma interlocução com a escola de modo a possibilitar um paralelo entre as principais demandas e necessidades de professores e pais, ampliando as inteligibilidades acerca do assunto. Estudos comparativos a respeito das práticas educativas adotadas por pais e mães também podem contribuir com a temática, assim como estudos que explorem as famílias com casais divorciados ou mesmo com filhos que residam com apenas um dos genitores, permitindo o cotejamento de diferentes práticas de mediação que incidem sobre uma mesma criança e seus reflexos no desenvolvimento.

Aprofundar o diálogo com o modelo bioecológico pode ser um norteador no sentido de lidar com a complexidade que envolve a temática. Nesse modelo, os contextos não são estáticos, mas justamente dinâmicos, permitindo uma apreensão do processo e das mudanças desenvolvimentais. A partir da pandemia, por exemplo, aventa-se que a mediação parental possa ter se tornado mais presente no contexto familiar, haja vista a emergência do ensino remoto e híbrido. Investigar esse processo é uma recomendação para estudos vindouros.

Em relação às implicações para a prática, este estudo revelou que o modo como os pais têm realizado a mediação do uso de internet junto aos seus filhos é permeado por dúvidas, podendo gerar conflitos em relação ao exercício da parentalidade e às consequências futuras dessas mediações. Destaca-se que esses modelos devem dialogar com cada contexto tendo em mente os elementos que atravessam a compreensão do sistema familiar. A partir do modelo bioecológico podemos destacar a necessidade de cotejamento dos quatro vértices - pessoa, processo, contexto e tempo - de modo articulado. Isso envolve implicar mais cenários nessa relação, para além da família, como a escola e as próprias interações estabelecidas na internet de modo dinâmico e profundamente marcado pela pandemia. Essa perspectiva sistêmica pode ser útil para reflexões e intervenções clínicas e educacionais que ultrapassem o foco em aspectos psicológicos particulares de cada família, priorizando a complexa integração dos vértices na promoção do desenvolvimento.

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Correspondência: Fabio Scorsolini-Comin, Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail: fabio.scorsolini@usp.br

Como citar este artigo:Grizólio, T. C. & Scorsolini-Comin, F. (2021). Crianças na rede: percepções de pais e mães de crianças sobre o uso de internet. Ciencias Psicológicas, 15(2), e-2238. doi: https://doi.org/10.22235/cp.v15i2.2238

Participação dos autores: a) Planejamento e concepção do trabalho; b) Coleta de dados; c) Análise e interpretação de dados; d) Redação do manuscrito; e) Revisão crítica do manuscrito. T. C. G. contribuiu em a, b, c, d; F. S-C. em a, c, d, e.

Editora científica responsável: Dra. Cecilia Cracco.

Recebido: 17 de Agosto de 2020; Aceito: 28 de Setembro de 2021

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