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Ciencias Psicológicas

versión impresa ISSN 1688-4094versión On-line ISSN 1688-4221

Cienc. Psicol. vol.11 no.2 Montevideo nov. 2017

https://doi.org/10.22235/cp.v11i2.1490 

Artigos Originais

Conjugalidade e coparentalidade tardia

Conyugalidad y coparentalidad tardía

Daiana Quadros Fidelis1 

Denise Falcke2 

Clarisse Pereira Mosmann3 

1,,Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Brasil fidelisdaiana@gmail.com dfalcke@unisinos.br clarissepm@unisinos.br


RESUMO

Resumo: Este estudo buscou compreender a transição da conjugalidade para a coparentalidade tardia em casais com dupla carreira. Teve âmbito exploratório, descritivo e qualitativo. Participaram cinco casais heterossexuais, ambos com profissionais, filho primogênito de até um ano de idade e com mais de 35 anos. Como critério de exclusão, não poderiam ter realizado tratamento de fertilização. Utilizou-se um questionário sociodemográfico e uma entrevista. Os resultados apontaram modificações nas relações conjugais e coparentais. O pai se mostrou presente durante a gestação e principalmente depois do nascimento do filho, dividindo as tarefas de cuidados e tarefas domésticas, refletindo altos níveis de acordo coparental e, boa qualidade conjugal. Os casais deste estudo ainda que com grande carga horária de trabalho se mostraram satisfeitos com seu emprego por terem flexibilidade, permitindo conciliar trabalho e parentalidade

Palavras chave: conjugalidade; coparentalidade; gravidez tardia; casal de dupla carreira; pesquisa qualitativa

RESUMEN

Resumen: Este estudio buscó comprender la transición de la conyugalidad a la coparentalidad tardía en parejas de doble carrera. Tuvo alcance exploratorio, descriptivo y cualitativo. Participaron cinco parejas heterosexuales, profesionales, hijo primogénito hasta un año de edad, y mujeres mayores de 35 años. Como criterio de exclusión, no podían haber hecho tratamiento de fertilización. Se utilizó un cuestionario sociodemográfico y una entrevista. Los resultados han señalado cambios en la conyugalidad y coparentalidad. El padre se mostró presente durante el embarazo y en especial después del nacimiento del hijo, compartiendo las tareas de atención, así como las tareas del hogar, lo que refleja los altos niveles de acuerdo coparental y una buena calidad conyugal. Las parejas de este estudio aunque con una alta carga horaria de trabajo, se mostraron satisfechas con su empleo por tener flexibilidad, lo que les permite conciliar trabajo y parentalidad

Palabras clave: conyugalidad; coparentalidad; embarazo tardío; parejas de doble carrera; investigación cualitativa

ABSTRACT

Abstract: This study aimed to understand the transition from conjugality to late coparenting in dual career-couples. Five heterosexual couples in which women got pregnant after aging 35 years old, displaying professional activities, and having a firstborn child aged up to one year old participated in the study. Exclusion criterion was participants who have undergone any type of fertilization treatment. Instruments were a sociodemographic questionnaire and a semi-structured interview. The results point out changes in marital and coparenting relations. Fathers demonstrated to be collaborative throughout gestation period and mainly after child’s birth, splitting care tasks with their wives, as well as home tasks, which were reflected in high levels of coparenting agreements articulated with good marital quality. Although the investigated couples demonstrated high workloads, the majority of them seemed satisfied about their jobs due to employment flexibility, thus parents were able to conciliate their career with parenting

Key Words: conjugality; coparenting; late gestation; dual career couples; qualitative investigation

Introdução

A transição da conjugalidade para a coparentalidade é um momento de grande importância no ciclo vital familiar, pois demanda uma reorganização do casal, já que gera alterações na imagem de si, do outro e da própria relação (Prati & Koller, 2011). Esse momento do ciclo evolutivo vital, enfocando a parentalidade, vem sendo estudado no contexto nacional e internacional há mais de 30 anos e os resultados indicam a importância do apoio emocional entre os cônjuges nesse momento, assim como o envolvimento de ambos no processo (Dorsey, Forehand, & Brody, 2007; Teubert & Pinquart, 2010; Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes, & Tudge, 2004; Piccinini, Gomes, Nardi, & Lopes, 2008; Menezes & Lopes, 2007; Lee & Doherty, 2007; Beltrame & Botolli, 2010). Especificamente acerca da transição para a coparentalidade, os estudos ainda são escassos. Sustenta-se a relevância de se estudar essa dimensão nesse processo, uma vez que, diferentemente da parentalidade, é um construto de natureza relacional entre os cônjuges/genitores.

A coparentalidade é entendida como uma partilha entre o casal no cuidado e nos deveres do(a) filho(a) (Feinberg, 2003). O subsistema coparental é formado com base em quatro dimensões: acordo ou desacordo nas práticas parentais, divisão do trabalho relacionado à criança, suporte/sabotagem do papel coparental e gestão conjunta das relações familiares.

Este constructo difere do relacionamento conjugal, pois não contempla os aspectos legais, românticos, sexuais, emocionais e/ou financeiros da relação conjugal, os quais não tem relação com os cuidados da criança (Feinberg, 2003; Holland & McElwain, 2013; Jia & Schoppe-Sullivan, 2011), assim como é distinto da parentalidade, pois não se restringe aos estilos e práticas educativas do pai e da mãe em relação aos filhos (McHale et al., 2002).

Segundo a literatura, apesar de distinto da conjugalidade, os níveis de qualidade da coparentalidade decorrem da articulação entre características da relação conjugal e da parentalidade que resultarão na dinâmica coparental exercida entre os genitores (Morril, Hines, Mahmood, & Cordova, 2010). Nesse sentido, o apoio emocional entre os cônjuges tem sido destacado como de grande importância para a relação conjugal durante a gravidez, pois terá reflexos após o nascimento do bebê. Estudo nacionais (Menezes & Lopes, 2007) e internacionais (Lee e Doherty, 2007), sustentam que altos níveis de qualidade conjugal, na transição para parentalidade, são essenciais, pois estão associados ao maior envolvimento do pai com os filhos. Ressalta-se que o estabelecimento dessa dinâmica deve ser anterior à transição, já que as dificuldades inerentes ao processo são inevitáveis.

Assim, identifica-se que é consenso na literatura a importância da conjugalidade na transição para coparentalidade e em consequência para o ajustamento psicológico das crianças e o funcionamento familiar (Dorsey et al., 2007; Teubert & Pinquart, 2010; Lamela, Nunes-Costa, & Figueiredo, 2010). Entretanto, esse subsistema precisa ser compreendido em um contexto atual de múltiplas demandas. Os casais, na atualidade, estão conciliando a vida pessoal, conjugal, familiar e profissional, o que acarreta em sobrecarga, consequência da multiplicidade de papéis (Lamela et al., 2010).

Questiona-se, então, como ocorre a transição da conjugalidade para a coparentalidade no contexto de dupla-carreira dos cônjuges, que estão trabalhando em turno integral (Heckler & Mosmann, 2014). Demandas da vida pessoal, conjugal, profissional e também os cuidados com os filhos geram desafios e sobrecargas (Aryee, Srinivas, & Tan, 2005; Demerouti, Bakker, & Schaufeli 2005) caracterizando um dos maiores desafios na vida das famílias de dupla carreira, o que tem levado muitos casais a adiar a maternidade/paternidade.

Há estudos indicando que muitas mulheres estão postergando ter filhos, pois querem primeiro se estabilizar financeiramente, focadas em solidificar a carreira e obter sucesso profissional para, depois, pensar em engravidar. Esta prorrogação da maternidade é feita até que se tenha a condição que o casal considera apropriada para esta responsabilidade ou, até mesmo, a opção pela não maternidade (Grzywacz, Almeida, & McDonald, 2002).

O adiamento da maternidade/paternidade também tem ocorrido por opções não referentes à vida profissional, como mostra a pesquisa feita por Ronchi e Avellar (2011). Os resultados indicaram que a decisão por ter filhos mais tarde foi tanto da mulher quanto do homem, vinculada ao desejo de realizar outros planos antes de ingressar na parentalidade. Dentre as causas para as gestações tardias, acima dos 35 anos, destaca-se a extensa disponibilidade de métodos contraceptivos, o tardar do matrimônio, a maior incidência de divórcios, a vontade de alcançar um nível educacional e profissional mais elevado, de conquistar segurança e independência financeira, de realizar sonhos, desfrutar de viagens e entretenimento e o aprimoramento de técnicas de fertilização artificial (Zavaschi, Costa, Brunstein, Kruter, & Estrella, 1999; Schupp, 2006).

No estudo de Bauer e Kneip (2013), a tomada de decisão por filhos tardiamente entre casais esteve associada à consonância de desejos dos dois parceiros. Estudos indicam que essa sintonia se associa à bons níveis de qualidade conjugal que trazem maiores níveis de ajuste coparental após o nascimento do filho (McHale & Rotman, 2007; Vanalli & Barham, 2012). Esse ajuste aparece na literatura também associado ao maior envolvimento paterno nesse contexto de múltiplas demandas (Piccinini et al., 2004; Beltrame & Botolli, 2010). Os resultados indicam que os cônjuges relatam prestar apoio emocional e material às suas esposas durante a gravidez e as mesmas revelam satisfação. Devido à grande jornada de trabalho, os cônjuges acabam tendo pouco tempo de lazer com os filhos, mas avaliam demonstrar-se afetivos e dizem que, quando estão presentes, compartilham com suas esposas as responsabilidades pelas crianças.

Embora a participação masculina nos cuidados com os filhos e nas tarefas do lar seja cada vez mais equilibrada com o envolvimento feminino (Lavee & Katz, 2002; Coltrane, 2000; Dessen & Braz, 2000), as mulheres ainda se dedicam duas vezes mais que os homens a cuidar das crianças, lavar e passar roupas, fazer compras no supermercado, limpar a casa, entre outros. (Baxter, Hewitt, & Haynes, 2008; Hernandez & Hutz, 2010; Vanalli & Barham, 2012). Questiona-se se, atualmente, a opção pela gestação após os 35 anos, com os cônjuges já estabilizados profissionalmente, pode ocorrer em um ambiente em que ambos possam dispor de mais tempo para o compartilhamento de tarefas após o nascimento dos filhos. Além disso, o suporte por parte do local de trabalho torna-se fundamental.

Os resultados de Oliveira, Galdino, Cunha e Paulino (2011) que analisaram qualitativamente a experiência da gravidez em mulheres após os 35 anos mostram que já consolidadas financeiramente e em uma união conjugal estável, essas mulheres puderam escolher diminuir sua carga horária de trabalho e tiveram condições de estar mais perto dos seus filhos. Os resultados do estudo de Cruz e Mosmann (2015) que objetivou compreender as percepções de casais sobre sua relação conjugal na transição para parentalidade no contexto de gestação planejada, corroboram essa perspectiva. Os casais relataram que o tempo de relacionamento anterior à parentalidade e o fato de já terem realizado seus planos acadêmicos e profissionais foram fundamentais para que ambos estivessem mais disponiveis e o processo de transição ocorresse de forma menos desgastante para o casal.

Por outro lado, alguns estudos relatam que as dificuldades no processo de transição para a coparentalidade seriam as mesmas do que em gestações de casais antes dos 35 anos, associadas ao cansaço físico devido às poucas horas de sono, agregadas às tarefas domésticas e, também, uma diminuição do investimento na carreira profissional, que implica em alto custo financeiro. Além disso, destaca-se o desgaste na relação conjugal desses casais que demoram mais para ter filhos, pois muitas vezes, viveram um tempo significativo somente entre eles, se ressentindo mais por passar menos tempo a dois, o que se reflete na sexualidade (Soares, 2012; Matos & Magalhães, 2014).

Identifica-se que as implicações emocionais decorrentes desse contexto de gestação acima dos 35 anos e dupla-carreira na transição da conjugalidade para a coparentalidade ainda necessitam mais estudos nacionais. Considerando esse cenário de transformações, buscou-se investigar a transição da conjugalidade para a coparentalidade tardia em casais com dupla carreira.

Materiais e Métodos

Delineamento

Foi realizada uma pesquisa qualitativa, exploratória.

Participantes

Participaram deste estudo cinco casais heterossexuais com filho primogênito, concebidos por mulheres com mais 35 anos, ambos com atuação profissional e residentes na região metropolitana de Porto Alegre. O número de cinco casais foi definido pela dificuldade encontrada de acessar casais que preenchessem os critérios de inclusão da amostra e que se sentissem à vontade para falar de suas vivências, uma vez que muitas mulheres após os 35 anos já passaram por tentativas de engravidar, as quais não foram bem sucedidas, gerando desconforto para elas. Foram critérios de inclusão: cônjuges que estivessem casados, ou morando juntos há, pelo menos, dois anos; tivessem apenas um filho de até um ano de idade; exercessem dupla carreira. Como critérios de exclusão, os participantes não poderiam ter passado por nenhum tipo de tratamento de fertilização, já que se buscava investigar casais que optaram pela gestação após os 35 anos, não sendo decorrência de nenhum impedimento biológico.

Como mostrado na tabela 1, os participantes apresentaram idades entre 33 a 56 anos, com carga horária de trabalho a partir de 35 horas semanais. Com relação a escolaridade dos casais, dois concluíram o ensino médio, quatro possuem ensino técnico e quatro, graduação. Em relação ao estado civil, apenas um casal não está em união estável ou casado, apenas morando junto. Dos cinco casais participantes, três deles as mães encontravam-se em licença maternidade, e consequentemente as crianças estavam sob seus cuidados. Os outros dois casais, as crianças já frequentavam a escola.

Tabela 1: Caracterização Familiar 

Procedimentos éticos e coleta de dados

Após a aprovação do estudo pelo Comitê de Ética da Universidade sob parecer número 15/231 se deu início a coleta de dados. O processo de seleção dos participantes foi feito por conveniência. Os participantes foram contatados e convidados a participar da pesquisa, o casal assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e respondeu a entrevista realizada pela pesquisadora.

Instrumentos

- Questionário de Dados Sociodemográficos. Desenvolvido pelas autoras da pesquisa, buscou a obtenção de informações sobre a família, como nível de escolaridade, tempo de relacionamento, informações profissionais.

- Entrevista sobre coparentalidade. A entrevista semiestruturada sobre coparentalidade contém 31 questões e comtempla os seguintes eixos: Conjugalidade, Compartilhamento de Cuidados, Engajamento em atividades com a família e Carreira. Foi desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Transtorno do Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Transtorno do Desenvolvimento -NIEPED-, 2006) e adaptada para contemplar o objetivo do presente estudo.

Procedimentos de análise dos dados

Utilizou-se a análise de conteúdo, que segundo Minayo (1994), é um procedimento de análise de dados que visa examinar a comunicação com o intuito de obter indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção das mensagens. As entrevistas gravadas e transcritas foram submetidas à análise de conteúdo, e as categorias definidas de forma mista, a priori e a posteriori (Franco, 2005). As categorias a priori foram baseadas na entrevista sobre coparentalidade e as a posteriori emergiram das entrevistas.

Resultados e Discussão

A estrutura das categorias e subcategorias utilizadas estão apresentadas na tabela 2. As falas dos participantes foram transcritas na íntegra e discutidas à luz do referencial teórico proposto na introdução.

Tabela 2:Estrutura das Categorias e Subcategorias 

Conjugalidade

Esta categoria aborda conteúdos referentes a como os casais se relacionavam antes e após da maternidade/paternidade, sua dinâmica conjugal, e as transformações após o nascimento do filho(a).

Antes do nascimento do filho(a)

Antes do nascimento do filho(a) Paula e César relatam que saiam bastante, eram ativos e participavam de um grupo de moto. Corroborando essa ideia, Maria fala “É bem aquela coisa de rotina mesmo, que mudou. Vamos sair de noite? Vamos, sem paradeiro, sem dar satisfação” (Maria, casal - 2).

Célia e Renato confirmam essas ideias ao indicar que, antes de ter a sua filha, o casal focava em seus interesses, eram ativos e gostavam de viajar.

Essas falas vão ao encontro dos resultados da pesquisa feita por Ronchi e Avellar (2011), que apontaram que os casais atualmente desejam realizar outras atividades antes de ingressar na parentalidade, desfrutar de sua liberdade, realidade que também vivenciaram os casais do presente estudo.

Por outro lado, Maria e Júlio dizem que antes da gestação sua dinâmica não era muito diferente, que o que mudou foram questões da rotina, que agora é mais organizada, como expressam as falas: “Não sei se muito diferente do que a gente é agora, na verdade, em termos de nível de relacionamento é basicamente a mesma coisa” (Júlio, casal - 2).

Cabe ressaltar que apesar dessas mudanças apontadas pelos cônjuges na transição da conjugalidade para coparentalidade, isso não se expressou em divergências e conflitos. Esse resultado corrobora as pesquisas de Menezes e Lopes (2007), e de Lee e Doherty (2007), em que os resultados mostraram que altos níveis de qualidade conjugal, na transição para parentalidade, são essenciais, para que se mantenha a satisfação com o relacionamento, apesar das dificuldades inerentes a esse processo. Entretanto, o estabelecimento dessa dinâmica deve ser anterior à transição.

Os casais do presente estudo já experimentavam bons níveis de satisfação conjugal antes do nascimento dos filhos, com conflitos inerentes a qualquer relacionamento a dois: “Era bom, era brigando, mas era bom” (Roberto, casal - 5). Após, ocorrem conflitos esperados, mas que não impactam de forma significativa na satisfação conjugal: “De vez em quando acontece uma briguinha ou outra, mas isso é normal, mas fora isso tá sempre bem” (Marcos, casal - 3).

Após o nascimento do filho(a)

Além de não relatarem altos níveis de conflito, os casais referem maiores níveis de satisfação após o nascimento do filho(a). Paula e César dizem que estão mais unidos após o nascimento do filho, experimentando maiores níveis de satisfação conjugal. Paula justifica que agora eles têm que trabalhar unidos cuidando do filho, assim que tiveram a notícia da gravidez a união ficou mais sólida e seu marido está mais atento a ela, como a mesma relata:

“É porque a gente tem que trabalhar junto, cuida dele junto, então eu acho que a gente está mais unido ainda, a partir da hora que a gente ficou sabendo que eu estava grávida, e ele começou a prestar mais atenção em mim né, cuida mais de mim, e isso a mulher gosta né, então acho que deu uma boa crescida no relacionamento.” (Paula, casal - 1).

Maria e Júlio argumentam que sua vida conjugal está bem, que sempre que podem conseguem sair e se distrair: “Dentro do tempo que a gente consegue ficar junto, tá tudo bem, quando dá as avós estão por perto, a gente consegue deixar ela pra dar uma voltinha e tal” (Júlio, casal - 2).

Seguindo nesta mesma direção, Célia e Renato dizem que após o nascimento da filha estão com mais tarefas, mas se sentem satisfeitos com esta dinâmica nova: “Olha... tá bem mais tumultuada, mas dá um sentimento que está completa” (Célia, casal - 4). Estes dados vão ao encontro do estudo de Bossardi (2011) que quanto mais satisfeito com o relacionamento conjugal, mais o pai se envolve com cuidados básicos com os filhos, o que retroalimenta positivamente a dinâmica conjugal e familiar.

Por outro lado, Roberto indica que a mudança foi significativa na conjugalidade, especialmente a vida sexual ficando restrita em função da falta de tempo e do cansaço: “Nossa, era muito intenso assim o negócio, era bem intenso, a gente tinha uma vida nossa bem diferente e hoje é quando da né, quando dá, quando não tá cansado” (Roberto, casal - 5).

As falas de Leticia e Marcos corroboram o casal anterior e descrevem que a vida sexual após o nascimento da filha está parada, pois em alguns momentos a filha acorda e necessita de cuidados, como relatam: “Tá meio parado né amor? A gente namora quando dá, e também é difícil da gente sair” (Leticia, casal - 3).

Este período de transição é significativo no ciclo vital familiar pois gera alterações na imagem pessoal, do outro e da relação. Assim os cônjuges que antes podiam dispor de suas vidas e desejos, agora precisam se reorganizar e estabelecer novos papéis (Prati & Koller, 2011).

Observa-se que os casais relataram mudanças expressivas na conjugalidade, e para alguns essa transformação aparece de forma mais incisiva, trazendo mais repercussões negativas. Isso porque o espaço conjugal é o que sofre mais restrições, especialmente para esses casais que, por escolha, demoraram mais para ter filhos. Muitas vezes, viveram um tempo significativo somente entre eles. Assim, alguns casais se ressentem mais por passar menos tempo enquanto casal, o que se reflete na sexualidade e para outros não, a coparentalidade parece ter aproximado mais o casal, produzindo um sentimento de união no relacionamento a dois (Soares, 2012; Matos & Magalhães, 2014).

Coparentalidade

Esta categoria abrange questões relativas ao compartilhamento nos cuidados com o filho(a). Ao contrário da relação conjugal, a relação coparental é triádica, pois envolve o par parental e o filho(a) estabelecendo uma dinâmica específica (Feinberg, 2003; Holland & McElwain, 2013; Jia & Schoppe-Sullivan, 2011).

Paula e César expressam que dividem as tarefas relacionadas ao filho, não sobrecarregando um ou outro, como evidenciam as falas a seguir:

“Eu dou mamá, ele pega, faz arrota, ou então ele dá banho e eu arrumo a cama, a gente tá bem dividindo nessa etapa assim não deixando tudo de um lado, se um vê que o outro tá cansado, pega o bebê e toma conta, e vai dormir, como ele fez quando ele chegou hoje, ele viu e ficou com o bebê e eu fui dormir, então estamos dividindo” (Paula, casal - 1).

Leticia e Marcos corroboram essa fala e dizem estar dividindo as tarefas em relação à filha, conforme o tempo que cada um dispõe:

“É porque assim, [...] ele coloca roupa dela pra lavar e dobra roupa dela, às vezes eu coloco, às vezes eu dobro, ele fica com ela pra mim poder tomar banho, para mim comer, eu fico com ela, a única coisa assim que eu faço é a parte de dá banho e fazer a troca, mas o resto ele participa” (Leticia, casal - 3).

Célia e Renato também dividem as tarefas em relação à filha, mas referem que já faziam isto desde o início do relacionamento, antes do nascimento da filha: “Se chega em casa e não conseguiu lavar a louça eu vou dar um jeito de lavar a louça, vou esperar a Lara dormir vou lá e adianto o serviço” (Renato, casal - 4). “É desde o início, sempre dividimos tudo, se eu não tive tempo de dar banho nela ele dá, tranquilamente” (Célia, casal - 4).

Maria e Júlio dizem não ter tarefas especificas de cada um, o que é mais específico é em relação à noite, que durante a semana Maria assume, e nos finais de semana Júlio toma conta da filha:

“[...]Olha, a gente não tem tarefas específicas de um ou específicas de outro, a única coisa que a gente tem mais específico são as madrugadas durante a semana por causa do meu trabalho, aí [... ] nas madrugadas da semana ela cuida e nas madrugadas que não estão relacionadas que no dia seguinte não é dia útil aí eu dou uma folga pra ela, mas o resto das atividades com ela são bem divididas assim, na verdade é quem tá com ela no momento, pra não ficar tudo um no outro” (Júlio, casal - 2).

Em relação às tarefas de buscar e levar o filho(a) ou ir a médicos, os casais também têm uma organização que, em alguns casos, envolve a família extensa. No caso de Renato, que não tem como levar a filha para escola, pois está trabalhando, Célia assume este papel e quando Renato está em casa, sempre busca a filha: “Quanto ao levar, ele não tem como, porque ele tá trabalhando daí sempre é eu que levo com o apoio do meu pai e da minha mãe e pra buscar se ele está em casa ele vai” (Célia, casal - 4).

Roberto e Júlia são bem flexíveis, quando um não pode buscar, o casal se comunica. Já o casal Marcos e Leticia, em relação a levar e buscar a filha na vó, os dois fazem juntos.

Como podemos perceber, os casais mostram apoiar um ao outro nas tarefas em relação ao filho (a), havendo uma divisão entre os cônjuges. Chama atenção que a maior parte das questões coparentais relatadas pelos casais, referem-se a tarefas com os filhos. Isso provavelmente expressa o momento do ciclo vital, com filhos ainda muito pequenos, não havendo demanda para expressão de outras dimensões coparentais. A literatura indica que o apoio coparental entre os cônjuges se expressa também em maiores níveis de satisfação conjugal e tem repercussão mais significativa do que cônjuges que dividem apenas as tarefas domésticas, mas não às tarefas relativas aos filhos (Piccinini et al., 2004; Beltrame & Botolli 2010). Dessa forma, a coparentalidade é de grande importância, compreendendo o equilíbrio entre o envolvimento paterno e materno, para a qualidade desse processo de transição.

Compartilhamento de tarefas domésticas

Essa subcategoria abrange como os casais tem dividido as tarefas domésticas após o nascimento do filho(a), ressaltando um processo igualitário. Paula diz que César realiza muito e até mesmo na gestação já fazia, por já ter perdido um bebê, a mesma estava com algumas limitações e com a barriga já grande, mas sempre que podia e pode faz.

“Quando estava grávida, eu não estava fazendo nada aqui dentro, ele estava fazendo tudo, o que eu podia eu fazia, porque estava bem grande a barriga e eu estava com muitas limitações, mas é dividido realmente” (Paula, casal - 1).

Marcos fica com os afazeres da comida, e responsável pela cachorra que o casal tem, enquanto Letícia toma conta da filha e da limpeza da casa:

“Ele lava louça de noite, arruma o café e eu fico com ela, ele tem a responsabilidade da cachorrinha dele, e eu fico com a Rafa, a limpeza assim da casa eu faço, eu varro, eu passo pano tiro pó, a gente tem uma pessoa que ajuda, mas no dia-a-dia a gente divide” (Leticia, casal - 3).

Célia e Renato também contam com ajuda de uma secretária do lar, mas relatam que no dia-a-dia os dois dividem: “Tem uma moça que vai uma vez por mês que faz a faxina pesada mesmo, mas no dia-a-dia é nós dois” (Célia, casal - 4).

Em relação às tarefas domésticas, Maria e Júlio dizem dividir bem também, que nos momentos que um está assumindo a Mariana ou outro aproveita para fazer alguns afazeres domésticos: “Quem não tá com a Mariana (risos), normalmente a gente vai dividindo assim, eu mais louça e roupa, ela mais passar pano essas coisas assim, também é meio revezamento assim” (Júlio, casal - 2).

Diferentemente dos outros casais, que contam com apenas algum auxílio nas tarefas domésticas, Júlia e Roberto tem ajuda em tempo integral. Uma babá cuida da filha diariamente e realiza também tarefas domésticas, e uma secretária do lar duas vezes por semana, que deixa tudo organizado, até mesmo a comida, pois Júlia diz não saber cozinhar, como representa a falar a seguir:

“Sem contar que eu nem sei né, nem sei fazer comida. Daí ela deixa comida pronta e eu esquento e sirvo as coisas que têm, e dou comida pra ela... Então assim, de casa a gente não tem tanta coisa” (Júlia, casal - 5).

Identifica-se que os homens de alguns casais desse estudo se empenham em igualdade às mulheres na tarefas do lar, em contraponto ao postulado por alguns autores (Baxter et al., 2008; Hernandez & Hutz, 2010), que relataram que, apesar do homem estar colaborando mais nas tarefas de casa, as mulheres ainda se dedicam duas vezes mais para cuidar das crianças, lavar e passar roupas, fazer compras no supermercado, limpar a casa, etc. Entretanto, ressalta-se que o mais recente desses estudos é do ano de 2010, inferindo-se mudanças nesses processos ao longo do tempo.

A maior participação dos homens nas tarefas domiciliares é um preditor da satisfação conjugal (Lavee & Katz, 2002; Coltrane, 2000; Dessen & Braz, 2000), o que pode estar associado aos bons níveis de qualidade conjugal relatado pelos casais desse estudo, somado aos bons níveis de coparentalidade experimentados. Por outro lado, alguns casais, quando perguntados se algumas das atividades já geraram algum conflito, afirmaram que sim coincidindo com os autores Vanalli & Barham (2012), que as mulheres ainda sentem que contribuem mais que os homens nas tarefas de casa e reportam sobrecarrega.

Letícia diz que já houve, pois se considera “briguenta” e quer as coisas depressa e se sente por vezes sobrecarregada:

Já gerou [conflito], a gente já brigou por causa das tarefas, eu sou muito briguenta, Porque eu acho que ele poderia ajudar um pouco mais ou ser mais ágil na execução da tarefa. E eu sou nervosa né, eu quero as coisas pra ontem, e aí às vezes dá conflito por isso né” (Leticia, casal - 3).

O casal Célia e Renato dizem ter alguns conflitos, mas que resolvem conversando. “Sim, sempre tem um comentário, sempre eu que faço isso ou tipo, faz tu então um pouco e não fica dizendo pra eu fazer! (Risadas) Mas a gente sempre conversa depois e nos acertamos” (Célia, casal - 4).

Esses relatos evidenciam que as mulheres tendem a demandar que os homens façam as tarefas à sua maneira e ao seu tempo, o que pode terminar gerando conflitos. Entretanto, nos casais desse estudo, essas questões são conversadas e resolvidas, o que segundo Vanalli & Barham (2012), impacta positivamente na relação conjugal. As falas a seguir evidenciam essa dinâmica: “A gente se comunica, um põe a mesa, o outro vai lá e tira” (Paula, casal - 1). “Eu acho que não foi nada muito ensaiado antes, foi surgindo as coisas e foi indo meio que automático tem dias que eu tô super cansada, que eu não consigo nada assim, e ele me apoia totalmente” (Célia, casal - 4).

Quando perguntado como os cônjuges se sentem delegando tarefas um ao outro, não mostrando ter dificuldades e se mostram satisfeitos: “É uma coisa tranquila pra gente” (Paula, casal - 1).

Identifica-se que a maior parte dos homens, desse estudo, mostraram-se participativos nas tarefas do lar. Para estes casais, a divisão foi ocorrendo naturalmente e fazem na medida que tem tempo, embora para alguns casais gere pequenos conflitos, parece estar havendo uma divisão relativamente igualitária e se mostraram satisfeitos.

Dupla - Carreira / Duplo - Trabalho

Esta categoria contempla a carreira dos casais e as repercussões do nascimento do filho(a) que passaram a demandar mais flexibilidade para fazer frente às exigências. Alguns casais têm trabalhos que os exigem significativamente e relatam isto nas falas a seguir:

“No meu trabalho, eles exigem bastante, tem muito trabalho. Então às vezes se tu estiver dispersa e acaba não dando conta e acaba esquecendo das datas, prazos e alguma coisa que é importante que deveria ser feito e tu acaba não fazendo” (Leticia, casal - 3).

“O meu é bem assim, como dizer, tem emoção e tem de tudo, porque trabalho na emergência, mas deixo tudo lá, mas sempre acaba ficando algo, quando é criança mexe com a gente” (César, casal - 1). “Assim, [...] eu estou pensado em mudar de trabalho, porque eu já estou perto de me aposentar eu quero uma coisa menos estressante, mais tranquila que não me absorva muito. Porque eu quero ter mais tempo pra família também [... ]” (Renato, casal - 4). “[... ] ah eu tenho 30 e poucos funcionários né, então, cada dia é um pepino, é um problema, é um... eu me estresso muito” (Roberto, casal - 5).

Alguns autores consideram que toda essa sobrecarga do trabalho profissional, pode ocasionar falta de energia ou fadiga implicando na motivação em outros papéis, como o familiar e domiciliar (Aryee et al., 2005; Demerouti et al., 2005).

O equilíbrio entre a vida profissional e familiar ainda é um dos maiores desafios na vida das famílias de duplo-emprego ou de dupla carreira, segundo a literatura (Grzywacz et al., 2002). As falas a seguir evidenciam essas repercussões:

“Nas atividades domésticas pra mim influencia, porque eu me sinto desanimada, eu não tenho coragem às vezes de fazer as coisas que tem pra fazer, antes da Rafa, eu fazia as coisas sozinha chegava do trabalho e fazia, limpava a casa, às vezes ele chegava do curso 22h/23h e eu ainda tava faxinando e hoje em dia eu não tenho mais essa disposição de fazer” (Leticia, casal - 3).

“Eu acho que sim, não tanto o trabalho do hospital, mas o de cuidadora, como sou uma das responsável então eu tenho que ficar muito tempo no celular, fazendo escala da semana, resolvendo estes imprevistos de última hora às vezes isso é muito desgastante, a minha filha quer atenção. O Pedro também já reclamou várias vezes que eu fico só no telefone, agora eu tenho me policiado mais e quando necessário eu peço mais respeito né” (Célia, casal - 4).

Nota-se nas falas anteriores que, com a chegada dos filhos, muda a dinâmica entre o trabalho e as tarefas do lar, já que o cuidado da criança é prioridade. O cansaço faz com que as tarefas domésticas, por exemplo, fiquem em segundo plano.

Nesse contexto, o apoio por parte do local de trabalho pode diminuir o estresse e também funcionar como aproximação dos papéis profissionais e familiares, promovendo a flexibilidade e a ajuda para esta integração. Os estudos de Barnett (1998) e de Jacobs e Gerson (2004) ressaltam que perceber o apoio do supervisor em relação a questões familiares, mesmo que informal, tem uma repercussão na redução do conflito entre o profissional e familiar, como podemos notar nas falas a seguir.

“O dele é bem mais tranquilo que o meu neste sentido, teve um dia que a Lara, ficou doente, e ele teve que ficar em casa com ela, pois eu não podia, tenho uma jornada dupla, então o dele é mais flexível que eu neste sentido” (Célia, casal - 4).

Além disso, identifica-se que alguns casais, como Júlio e Leticia, após a maternidade/paternidade, diminuíram sua carga horária de trabalho, optando em não trazer mais trabalho para casa, assim podendo passar mais tempo com o seu filho(a). Esse dado evidencia os achados da pesquisa de Oliveira et al. (2011) que já estabilizados financeiramente e em uma união conjugal sólida, os casais puderam escolher diminuir sua carga horária de trabalho para ter condições de estar mais perto dos seus filhos.

“Pra mim influenciava bem mais antes da Mariana nascer, porque eu demorava muito mais pra desligar, depois que a Mariana nasceu pra mim zerou bastante coisa nesse sentido assim [... ] Atualmente chego e a chave já tá desligada, porque ela já exige atenção e também a parte de gostar de tá com ela de brincadeira” (Júlio, casal - 2).

Estes resultados evidenciam que os casais têm uma grande carga de trabalho semanal, e que alguns deles deixaram de trazer tarefas para casa para se dedicarem cada vez mais aos filhos, mudando sua relação com o trabalho, assim identificamos que, apesar de o trabalho ser desgastante, eles estão satisfeitos por terem uma flexibilidade, como mencionado acima. Embora o exercício profissional seja imprescindível à sustentação econômica da família, as obrigações familiares se impõem, demandando flexibilidade para a adaptação.

Considerações finais

O objetivo do presente estudo foi compreender a transição da conjugalidade para a coparentalidade tardia em casais com dupla carreira, o que considera-se ter sido alcançado. Entretanto, salientamos que os achados devem ser compreendidos considerando as características socioeconômicas e culturais da amostra investigada.

Nesse contexto, os resultados indicam transformações nas relações conjugais e coparentais. Especialmente, ressalta-se que os pais do presente estudo se mostraram significativamente envolvidos no desenvolvimento emocional e comportamental dos filhos, característica, antigamente, mais atribuída às mulheres. Além disso, os mesmos demonstraram participação que se iniciou já durante a gestação, sendo incrementada após o nascimento, dividindo os cuidados da prole com a esposa. Esta divisão mais igualitária das tarefas referentes aos filhos e ao lar demarcam a importância de altos níveis de acordo coparental que se refletem em bons índices de qualidade conjugal. Também é importante salientar que o fato dos filhos ainda serem pequenos, faz com que algumas dimensões da coparentalidade não sejam visíveis, o que provavelmente se expressará com o passar dos anos, em repercussão às demandas educativas e o cotidiano da relação triádica.

Na transição da conjugalidade para a coparentalidade, os casais do presente estudo sofreram mudanças em sua rotina, antes da maternidade/paternidade eram mais ativos sexual e socialmente, mas isso não acarretou conflitos significativos entre eles. Por outro lado, diferente do postulado pela literatura, alguns casais percebem-se mais satisfeitos na conjugalidade após o nascimento do filho, devido a sensação de união promovida pelo exercício da coparentalidade. Ressalta-se que os casais desse estudo têm filhos menores de um ano de idade, período de necessidade intensa de cuidados, o que talvez promova esse maior apoio e suporte coparental.

Chama atenção a grande carga horária de trabalho dos participantes do estudo e o fato de que a maior parte deles não contar com expressivo auxílio, seja da família extensa ou de profissionais, e ainda assim não reportaram queixas significativas de sobrecarga ao ter que conciliar a carreira e a maternidade/paternidade. Nesse processo, a flexibilidade por parte do trabalho, havendo a possibilidade de diminuir a carga horária para passar mais tempo com seus filhos, se constituiu como fonte expressiva de apoio.

Este estudo poderá contribuir para futuros programas de intervenções remetendo a importância do desempenho positivo da coparentalidade para a qualidade conjugal e o desenvolvimento da prole. Por fim, destaca-se importância de serem efetuados mais estudos nacionais sobre esse fenômeno, como estudos quantitativos, para um mapeamento de um número maior de casais.

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Recebido: 01 de Fevereiro de 2017; Revisado: 21 de Junho de 2017; Aceito: 09 de Agosto de 2017

Correspondencia: Daiana Quadros Fidelis. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Rua Visconde de São Leopoldo,80 - 93025-400 São Leopoldo, Brasil

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