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Ciencias Psicológicas

versão impressa ISSN 1688-4094versão On-line ISSN 1688-4221

Cienc. Psicol. vol.11 no.1 Montevideo jun. 2017

https://doi.org/10.22235/cp.v11i2.1345 

Artículos Originales

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE IDOSOS SOBRE FAMÍLIA

REPRESENTACIONES SOCIALES DE ADULTOS MAYORES SOBRE LA FAMILIA

SOCIAL REPRESENTATIONS ABOUT FAMILY OF THE ELDERLY

Janaína da Silva Gonçalves Fernandes1  2 

Beethoven Hortencio Rodrigues da Costa1  2 

Márcia Siqueira de Andrade3 

1 Centro Universitário FIEO, UNIFIEO. Brasil

2 CAPES. Brasil

3Centro Universitário FIEO, UNIFIEO. Brasil


Resumo

Realizou-se pesquisa de abordagem qualitativa norteada pela Teoria das Representações Sociais. Participaram 14 idosos aposentados, com idades entre 65 e 86 anos residentes na região oeste da grande São Paulo no Brasil. Para a coleta de dados foram utilizados questionário sociodemográfico e entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados pela Classificação Hierárquica Descendente, como apoio do software IRAMUTEQ, e posteriormente com a Técnica de Análise de Conteúdo. Foram identificados dois temas a partir do discurso dos participantes: educação familiar e perdas (afastamento dos filhos; e mudanças e morte). Considerou-se que o papel do idoso dentro do contexto familiar depende do sentido que eles possuem do próprio processo de envelhecimento. Na velhice ativa e autônoma a família precisa de ser protegida e educada. Em idosos fragilizados o sentido de família está relacionado a perdas.

Palabras-chave: envelhecimento; família; história de vida; idosos; representação social

Resumen

El propósito de este estudio fue identificar y analizar las representaciones sociales de adultos mayores sobre la familia. El abordaje fue cualitativo, basado en la Teoría de las Representaciones Sociales. Los participantes fueron 14 ancianos jubilados, con edad 65-86 años residentes en la región occidental de São Paulo, Brasil. Los datos fueron recolectados mediante cuestionario sociodemográfico y entrevista semiestructurada; y fueron analizados por la Clasificación Jerárquica Descendente, con soporte del software IRAMUTEQ, y posteriormente con la técnica de análisis contenido. Se han identificado dos temáticas a partir del discurso de los participantes: educación familiar y pérdidas (la partida de hijos, cambios y muerte). Se consideró que el papel de los adultos mayores dentro del contexto familiar depende del sentido que tienen del propio proceso de envejecimiento. Para la vejez activa y autónoma, la familia necesita ser protegida y educada. Para los adultos mayores fragilizados el sentido de la familia se relaciona con las pérdidas.

Palabras Clave: envejecimiento; familia; historia de vida; adultos mayores; representación social

Abstract

The purpose of this study was to identify and analyze the social representations of the elderly about family. A qualitative research was conducted, guided by the Theory of Social Representations. Participants were 14 elderly retired people, aged 65-86 years and residents in the western region of São Paulo, Brazil. Data were collected using a sociodemographic questionnaire and a semi-structured interview. The data were analyzed by the Descending Hierarchical Classification, with support of IRAMUTEQ software, and posteriorly with the Content Analysis Technique. Two themes have been identified from the participants’ discourse: family education and losses (departure of sons, and changes and death). It was considered that the role of the elderly within the family context depends on the sense they have of the aging process itself. In active and autonomous old age the family needs to be protected and educated. In fragilized elderly the sense of family is related to losses.

Keywords: aging; family relatives; life’s history; elderly; social representation.

Introdução

A questão do envelhecimento humano consta na literatura científica, dos últimos anos: várias abordagens nos âmbitos biológico, psicológico, econômico e social, apresentando diferentes assuntos que destacam que o envelhecimento traz mudanças e implicações tanto para a sociedade, quanto para os indivíduos idosos (Barros, Maia, & Pagliuca, 2011; Bezerra, Almeida, & Nóbrega-Therrien, 2012; Martins & Massarollo, 2008; Minayo & Coimbra Jr, 2002).

Em um estudo sobre história de vida e envelhecimento, são encontrados conteúdos que destacam as perdas, o desgaste e a desvalorização sobre as imagens construídas por idosos e a sociedade em relação à fase do envelhecimento, ou seja, é uma idade representada como sinônimo de prejuízos e não concebida como uma idade distinta. Os ganhos adquiridos no processo de envelhecimento, como é o caso da maturidade e da experiência, pouco se sobressaem perante a sociedade, produzindo desse modo, consideráveis impactos negativos da representação do idoso na sociedade (Lima & Coelho, 2011). Neste cenário, evidenciam-se elementos como, por exemplo, a estagnação e a falta de inclusão social que colaboram para o surgimento de sintomas psicopatológicos nos idosos.

Apesar desse cenário que fragiliza a imagem do idoso na sociedade, os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014) apontam que 64.1% dos idosos arcam com a responsabilidade financeira de muitas famílias brasileiras, contra 23.8% o cônjuge e 12.1% outra pessoa. Vale ressaltar que a renda domiciliar per capita de 43.2% dos idosos gira em torno de até um salário mínimo e 30.7% possuem menos de um ano de instrução escolar.

Silva, Farias, Oliveira e Rabelo (2012) explicam que a saúde mental do idoso pode ser negativamente abalada devido às perdas de certas habilidades, resultantes do declínio físico, o direcionando, assim, a dependência de conhecidos ou familiares. Ao lado disso, Cavalcante e Minayo (2012) apontam que a carência de apoio social e familiar pode prejudicar a qualidade de vida dos idosos. Isto se explica pela fragilidade de laços, que não os auxilia a lidar com ocorrências adversas como: perdas de entes queridos, doenças crônicas ou terminais, deficiências ou transtornos mentais, depressão, conflitos familiares e conjugais, isolamento social, abusos e desqualificações e sobrecarga financeira para garantir a manutenção da casa, a aquisição de medicamentos ou mesmo a contratação de cuidadores. Estes fatores aumentam os riscos de tentativas ou efetivação de suicídios em idosos.

Outra pesquisa aponta que em determinado contexto, o subsídio assistencial recebido por idosos tem sido atendido na maioria das vezes com a contribuição dos filhos (Oliveira, Oliveira Duarte, Lebrão, & Laurenti, 2007). Todavia, as mudanças culturais da sociedade nos padrões de divórcio e casamento, bem como a diminuição do número de filhos, contribuem para a redução da rede de apoio da família, gerando sobrecarga aos familiares, responsáveis pelos idosos (Del Duca, Thume, & Hallal, 2011). Neste sentido, independente do idoso possuir uma base familiar ou não, a escassez de recursos adequados dificulta o acesso às condições necessárias para tratar o idoso de forma apropriada.

Neste cenário, o envelhecimento pode ser apresentado a partir de dois aspectos: o idoso autônomo e ativo, ou seja, desempenhando atividades sociais; e o idoso fragilizado e dependente fisicamente e consequentemente socialmente (Maffioletti, 2005). Diante do exposto, se faz imprescindível pensar sobre a importância da família para os idosos. É difícil esclarecer um conceito único para família, considerando-se a diversidade de teóricos para defini-la.

O conceito de família constituído por pai, mãe e filhos surgiu simultaneamente ao sentimento de infância (Ariès, 1986). O idoso somente é retratado quando o autor está descrevendo as idades da vida, não sendo esclarecido com mais detalhes o seu lugar no núcleo familiar. Enquanto, Roudinesco (2002) analisa que a família atual constituída por pai, mãe e filhos assemelha-se com a imagem de família do século XVIII. Porém ressalta que essa constituição familiar passou por algumas transformações durante este período: relacionamentos arranjados, com intenção de acréscimo e repasse dos bens; casamento baseado no amor romântico recíproco, que assegura a educação dos filhos; e a união a partir de uma duração relativa, que pode ser exposta a divórcios, separações e recomposições conjugais. Nestes cenários, o idoso novamente é esquecido, e por sua vez parte não integrante do conceito de família. Assim, a definição de família está relacionada a um conjunto de indivíduos unidos entre si pelo casamento e a filiação, ou mesmo pela descendência.

Partindo da hipótese que o apoio da família é fundamental para que o idoso consiga enfrentar as adversidades inerentes à fase do envelhecimento uma questão mobiliza o presente estudo: Qual o papel do idoso no núcleo familiar na sociedade contemporânea? Para responder esta questão será utilizado como apoio a Teoria das Representações Sociais.

Moscovici (2012) define as representações sociais como um conjunto de informações, opiniões, atitudes e crenças sobre determinado objeto. Socialmente produzidas, por meio da linguagem, as representações sociais se apresentam como guia eficaz para uma visão de mundo, por serem marcadas por valores que são correspondentes ao sistema sócio ideológico e a história do grupo.

Por serem elaborações psicológicas e sociais, as representações sociais são construídas por meio das interações sociais e possuem uma dupla função: tornar familiar o que é estranho e compreensível o que é invisível. Isso permite definir que as representações sociais podem contribuir com uma visão funcional do mundo que permite aos idosos dar sentido ao comportamento e compreender a realidade por meio do próprio sistema de referência e adaptar-se e, assim, definir um lugar para si.

Para que ocorra esse processo dinâmico, a estruturação das representações sociais é percebida a partir da formulação de dois conceitos básicos: a objetivação e a ancoragem. A objetivação e a ancoragem são dois processos que se complementam, pois enquanto o primeiro procura esclarecer como se estrutura o conhecimento do objeto, indicando verdades precisas e criando a realidade em si, a ancoragem dá a ele uma significação, intervindo no determinismo e transformando essas verdades, ou seja, a objetivação constrõe a realidade em si e a ancoragem lhe proporciona significação (Moscovici, 2012).

Segundo Moscovici (2012), a objetivação reproduz uma ideia abstrata a uma imagem concreta, elaborando um conceito. Enquanto que a ancoragem possui uma relação dialética com a objetivação, pois com base em conhecimentos prévios procura classificar, categorizar e nomear aquilo que não é familiar, oferecendo movimento entre o cognitivo e o social da representação, assinalando o caráter dinâmico das representações.

Portanto, o objetivo desse estudo é identificar e analisar as representações sociais de idosos sobre família. Esse estudo espera, dessa forma, contribuir no sentido de indicar qual o papel do idoso na sociedade contemporânea no núcleo familiar.

Método

O método utilizado na fase de investigação foi o estudo qualitativo, pautado na abordagem da Teoria das Representações Sociais. Esta escolha se justifica por considerar que esta teoria permite a integração das características objetivas do objeto, as experiências prévias do indivíduo e o sistema de normas e valores (Moscovici, 2012).

Participantes

Constituiu a amostra deste estudo 14 idosos aposentados residentes na região oeste da grande São Paulo no Brasil, com idades entre 65 e 86 anos, sendo oito do sexo feminino e seis do sexo masculino. Em relação ao grau de instrução formal 50% (n=7) dos idosos declararam ter cursado o ensino fundamental incompleto. Enquanto que a outra metade da amostra, 28.6% (n=4) possui ensino superior completo e 21,4% (n=3) possui ensino médio completo. Quanto à renda mensal, os participantes do G1 declararam um valor médio de 4,9 salários mínimos.

Dentre os participantes 5 (35.7%) declarou ser viúvo, 5 (35.7%) casado, 2 (14.3%) solteiro e 2 (14.3%) divorciado. Em relação à habitação 5 (35.7%) morava com os filhos, 5 (35.7%) morava com o esposo/a e 4 (28.6%) residia sozinho/a. O número de filhos variou entre 2 e 9 filhos, com uma média de 3 filhos por participante. Sobre religião 11 (78.6%) informou ser católica, 2 (14.3%) evangélica e 1 (7.1%) afirmou ser espírita.

Os critérios estabelecidos para participação foram: ter 65 anos ou mais de idade; ser aposentado; aceitar participar da pesquisa; assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os idosos que apresentassem algum tipo de prejuízo cognitivo que pudesse comprometer a compreensão da entrevista foram excluídos do estudo.

Instrumentos

Este estudo utilizou um questionário com questões fechadas e objetivas, para a melhor caracterização dos participantes. Foi aplicada ainda entrevista semiestruturada cujo roteiro contemplou dados subjetivos que se referem às atitudes, valores, opiniões e sentimentos peculiares às experiências dos entrevistados relacionadas à história de vida familiar.

Três questões foram propostas a cada participante, na seguinte ordem: Quais as suas lembranças da infância e das demais fases da sua vida? Comente sobre sua família. Quais os valores que considera importante para serem transmitidos de uma geração para outra na sua família? Essas questões consideram a temporalidade que representam o passado, o presente e o futuro para estes idosos sobre o tema família.

Procedimentos Éticos

Esta pesquisa foi encaminhada para avaliação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário FIEO (Protocolo nº 935.424/2015).

Procedimento de análise dos dados

As entrevistas foram analisadas pela técnica da Classificação Hierárquica Descendente, com auxílio do software IRAMUTEQ (Interface de R pour analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) (Camargo & Justo, 2013; Mutombo, 2013). Este programa analisa a coocorrência das palavras nos segmentos de texto, organizando e dividindo em classes o conteúdo a partir de correlações estatísticas por meio do teste de qui-quadrado (x2 ). Com base nesse teste, o programa realiza uma Classificação Hierárquica Descendente (CHD) que é apresentada na forma de uma árvore denominada dendrograma, indicando os eixos dos discursos, as classes lexicais e suas oposições. As classes são apresentadas com as palavras que as compõem e seus respectivos qui-quadrados (x2). Esse tipo de tratamento permite identificar discursos distintos a respeito do objeto, bem como analisar as inter-relações entre eles. A partir do dendrograma, é possível fazer relações entre as classes e identificar semelhanças e diferenças nos seus conteúdos. O programa apresenta ainda os trechos de discursos em que as palavras classificadas foram ditas, possibilitando ao pesquisador compreender o contexto do discurso.

Para a obtenção da Classificação Hierárquica Descendente (CHD) primeiramente os depoimentos foram preparados no programa Open Office, constituindo o corpus para análise conforme orientação do Tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ (Camargo & Justo, 2016) em que cada entrevista é digitada abaixo de linhas de comando com o intuito de separar cada Unidade de Contexto Inicial (UCI), o que equivale aos conteúdos semânticos individuais dos participantes e as variáveis sociodemográficas (sexo, idade, estado civil, escolaridade, religião, habitação, número de filhos e renda declarada).

O conjunto das UCIs constitui um corpus. Para o processamento do corpus foram selecionadas as categorias gramaticais verbo e substantivo de forma a captar ações e ideias (concretas ou abstratas) explicitadas no depoimento dos participantes. Foram delineadas como formas suplementares as demais categorias gramaticais: adjetivos, advérbios, artigos, conjunções, pronomes, preposições e formas não reconhecidas.

Posteriormente, a CHD executou cálculos cruzando os segmentos de textos e as palavras por meio da associação estatística do qui-quadrado (x2 ) e desenhou as áreas lexicais estabelecendo um recorte das diversidades, de forma que as classes lexicais não fossem o único aspecto visualizado pelo pesquisador. O dendrograma se baseia na análise das similaridades, destacando as co-ocorrências de maneira específica com as outras formas de uma classe, possibilitando uma visualização global da inclusão das formas (MUTOMBO, 2013). A co-ocorrência pode ser definida como a presença simultânea de dois ou mais itens lexicais em um conjunto ou na mesma área. E com a correlação entre dois ou mais itens, ou seja, a proximidade desses itens, extraem-se colocações que são combinações usuais de uma palavra para outra dentro de uma frase que aproxima os termos. Além de fazer uma análise lexical quantitativa, tendo a palavra como unidade, permite considerar às mesmas a partir dos respectivos contextos de ocorrência e estruturação temática.

A presente abordagem foi proposta, para identificar as representações sociais de idosos sobre família, uma vez que permite o estudo conexo da partilha de conhecimentos que ocorre na comunicação e a produção de representações sociais. De tal modo, a partir do apoio da Técnica de Análise de Conteúdo é possível estabelecer relações e transposições entre o nível lexical e o nível representacional. Finalmente, possibilita a análise dos pontos de ancoragem, que dizem respeito às adaptações individuais dessas representações em função da história explicitada por cada membro do grupo (Franco, 2012; Lima, 2008; Nascimento & Menandro, 2006). Neste sentido as diferentes classes que emergiram do corpus do texto representam o espaço de sentido das palavras narradas e podem sugerir elementos pertencentes às representações sociais desses idosos sobre o tema família.

Resultados e discussões

O corpus analisado sobre o tema família é composto de 14 entrevistas, que o programa repartiu em 225 segmentos de texto (contexto de enunciação da palavra), que continham 1325 palavras que ocorreram 7815 vezes, com uma frequência média de ocorrência de 3.21% por palavra e uma frequência média de 34.73% de ocorrência por seguimento de texto. A análise da Classificação Hierárquica Descendente reteve 56 unidades de segmentos de textos das 225 presentes no corpus, ou seja, foram consideradas 75.11% dos seguimentos de textos (n=169). Este aproveitamento indica boa consistência e adequação do conteúdo submetido para análise. Após a redução dos vocábulos às suas raízes obtiveram-se 912 lematizações (presença simultânea de dois ou mais itens lexicais na mesma área), que resultou em 677 palavras analisáveis e 227 palavras suplementares.

Após a concretização da Classificação Hierárquica Descendente foram identificadas três classes distribuídas em dois eixos: o primeiro, composto pela classe 3 com 31.36% dos seguimento de textos, e o segundo eixo composto pelas classes 1 (33.14% dos seguimentos de textos) e pela classe 2 (35.5% dos seguimentos de textos).

Cada eixo é apresentado no dendrograma (figura 1), com a categorização da classe, o valor percentual dos seguimentos de textos em relação ao total do corpusanalisado, e as palavras que mais se destacaram das três questões dirigidas aos participantes em suas respectivas classes.

Para respeitar a classificação hierárquica descendente, que emergiu por meio do processamento dos depoimentos com o apoio do software IRAMUTEQ, a apresentação dos resultados e das discussões discorre conforme a divisão e ordem estabelecida pelo programa. São também apresentadas as relações das palavras que emergiram nas classes entre si, no formato de recortes do corpus utilizando os trechos mais significativos de cada classe.

Primeiro eixo: Educação Familiar

A classe 3 categorizada como “Educação familiar” corresponde a 31.36% dos seguimentos de textos em relação ao total de depoimentos analisados. Essa classe é formada por depoimentos de idosos de ambos os sexos e de diferentes níveis de escolaridade.O conteúdo dessa classe apresenta algumas palavras que exemplificam o teor dessa categoria: “bom”, “gosto”, “idade”, “ensino”, “achar”, “ensinar”, “mundo”, “mau”, “respeitar”, “importante”, “difícil”, “profissão”, “coração”, “ajudar”, “honestidade”, “neto” e “estudar”. Essas palavras são indicadores da importância da educação do indivíduo estar ancorada no ambiente familiar. Os trechos a seguir esclarecem este conhecimento:

O primeiro ensino não é o da escola, mas sim o de casa. Sempre ensinei para os meus filhos respeitar todo o mundo e estudar para ser alguém na vida (idoso de 77 anos, ensino fundamental incompleto).

Cada filho tem sua profissão. Consegui o que eu queria, porque teve um que foi difícil para estudar. Há os percalços, mas está bom, gosto da minha família do jeito que é. Agora os netos tem que encontrar o caminho deles, como pessoa mais velha procuro ajudar e mostrar (idosa de 69 anos, ensino superior completo).

Ariès (1986) posiciona a infância como um construto construído nos últimos dois séculos, uma vez que anteriormente, a esta época a educação voltava-se em torno das tradições e garantia de descendência. Neste sentido, a educação de base familiar está vinculada aos valores culturais e históricos vigentes em cada contexto ou época. No caso dos participantes do presente estudo é possível inferir, que a educação familiar foi direcionada para a valorização do ensino formal escolar como caminho para a colocação profissional.

Figura 1: Dendrograma representativo das repartiçoes em clases, percentagem e palavras que se destacaram nos discursos dos idosos. 

Os modelos contemporâneos de família, a figura materna possui um trabalho externo, independente da situação de união ou separação conjugal, enfraquecendo o suporte aos filhos. Aos idosos ativos cabe à função de cuidador dos netos, e muitas vezes atuarem como colaboradores na renda financeira da família (Martins, 2013; Santos & Dias, 2008). De tal modo os idosos contribuem no ambiente familiar, ao amenizar as dificuldades cotidianas da família e influenciar os seus membros com os seus valores, a partir de uma educação intergeracional.

Maffioletti (2005) afirma que o idoso possui um papel importantíssimo na família, pois a partir de seus próprios questionamentos com o passado, ele tem por interesse tranquilizar os problemas do tempo presente, para confrontar-se com adversidades passadas. Assim sendo, a troca intergeracional contribui para ambas as gerações, já que o idoso atualizado pode colaborar com sua experiência nas dificuldades que os mais jovens enfrentam, e simultaneamente se sentir útil. Todavia, para este intento o idoso precisa estar atualizado e conectado com as questões do tempo presente.

Segundo eixo: Perdas

O segundo eixo apresenta o aspecto fragilizado dos idosos, a partir da narração das perdas enfrentadas no ambiente familiar. A trajetória de vida do ser humano implica no início e um término. Este percurso misterioso é indissociável de aprendizados, ganhos e perdas. Porém, o que mais importa neste eixo é compreender o modo como os indivíduos lidam com as perdas, dificuldades, mudanças, separações e desilusões encontradas neste trajeto (Fernandes, Montiel, Andrade, Bartholomeu, Cecato, & Martinelli, 2015; Lima, Viana, & Lazzarini, 2011).

A classe 1 categorizada como “Afastamento dos filhos” corresponde a 33.14% dos seguimentos de textos em relação ao total de depoimentos analisados. Essa classe é formada pelos depoimentos de idosos de gênero predominantemente masculino e com maior nível de escolaridade. O conteúdo dessa classe apresenta algumas palavras que exemplificam o teor dessa categoria: “levar”, “dia”, “filho”, “viver”, “dar”, “precisar”, “orgulho”, “casado”, “mulher” e “só”. Essas palavras são indicadores sobre a relação dos idosos com os filhos crescidos. Os trechos a seguir confirmam esta observação:

Tenho orgulho dos meus filhos, ainda sou casado com uma mulher que me aguenta há quarenta anos. Hoje em dia estamos sozinhos, pois os filhos foram cada qual para um lado (idoso de 69 anos, ensino superior completo).

Vivo bem com a minha mulher e temos um casal de filhos que já são todos casados. Só moro eu e ela (idoso de 65 anos, ensino superior completo).

Uma perda é significativa quando ocorre o afastamento de um vínculo anteriormente existente. Esta perda passa a ser sentida a partir do momento que se percebe que é algo que não retornará. No caso do afastamento dos filhos esta perda não está ligada diretamente a perda ou morte de um filho, mas sim de uma época cotidiana que não voltará. Nesta classe os idosos expressam que moram com as companheiras de longa data, mas apesar da declaração de orgulho dos filhos, ou melhor, da boa criação que foram capazes de transmitir, lastimam-se do afastamento destes filhos. Para desvencilhar-se do luto primordial, Herrmann Freud (2006) explica que é necessário renunciar da nostalgia de autossuficiência e humanizar-se. O afastamento dos filhos apresenta-se como a perda de si mesmo, e neste conflito representacional há uma busca de transferir a ausência do objeto no qual o indivíduo estava vinculado, que neste caso são os filhos, para novas relações substitutivas. Este processo é necessário para que o idoso não se fragilize e seja atingindo por distúrbios, depressões ou isolamentos.

Por outro lado, é complicado para o idoso desprender-se dos filhos e procurar outras interações, uma vez que eles fazem parte da sua própria identidade, da sua história de vida. Por se tratar de uma mudança profunda nas suas ideias, crenças e práticas cotidianas, esta elaboração precisa ser gradualmente construída pelo idoso.

A classe 2 categorizada como “Mudanças e morte” apresenta 35.5% dos seguimentos de textos em relação ao total de depoimentos. Esta classe é formada pelos depoimentos de idosas predominantemente do sexo feminino e com menor nível de escolaridade. O conteúdo dessa classe apresenta algumas palavras que exemplificam o teor dessa categoria: “ficar”, “ano”, “mãe”, “pai”, “cidade”, “começar”, “sair”, “falecer”, “deixar” e “voltar”. Essas palavras apontam como a interferência de mudanças no ambiente familiar e perdas de entes queridos foram representadas por estas idosas. Os trechos a seguir fornecem uma imagem da construção dessas representações.

Eu tinha sete anos idade quando nós viemos para a cidade. Foi em uma época de muita batalha que meu pai faleceu e eu fiquei com o meu irmão (idosa de 65 anos, ensino fundamental incompleto).

Na época que vim para a cidade de São Paulo, aos vinte anos de idade, comecei a trabalhar para ajudar meu pai em casa, porque a minha mãe faleceu quando eu ainda era menina (idosa de 69 anos, ensino fundamental incompleto).

Os depoimentos das idosas resgatam memórias da infância, que remetem o pesar pela finitude dos próprios pais, que acarretou mudanças nos seus contextos de origem. Estas lembranças apresentaram-se carregadas de sentimentos de desamparo, por constatarem a fraqueza do ser humano. Cocentino e Viana (2011) explicam que para sobreviver os filhos necessitam da proteção dos pais desde o nascimento, e consequentemente, atribui-se aos pais o ideal de força e onipotência. Desse modo, é difícil para os filhos aceitarem, principalmente na infância, o declínio físico dos pais.

Com a constatação da perda pode-se ocorrer conflitos, que dificulta para o indivíduo lidar com as eventuais ou inerentes mudanças em suas trajetórias de vida. A velhice é uma mudança inerente à vida, destino possível para ser enfrentado pelo ser humano. Os idosos enfrentam perdas diversas nessa etapa da vida, tais como: perda da força física, do trabalho e de familiares. Essas mudanças na trajetória de vida dos idosos não são bem aceitas, por estarem vinculadas a estas perdas significativas, levando-os a desenvolverem perspectivas negativas da vida. De tal modo, o desafio do idoso é o de adaptar-se e elaborar estas perdas, a fim de conseguir ressignificar o passado, e seguir por caminhos que possibilite a descoberta de novos projetos de vida (Fernandes & Barone, 2016).

Conclusões

Atendendo ao objetivo deste estudo que foi identificar e analisar as representações sociais de idosos sobre a família, os resultados vieram reforçar que a partir dos ganhos e perdas adquiridos durante a trajetória vivenciada pelos participantes idosos, a fase da velhice pode apresentar elementos de contribuições e desvantagens no núcleo familiar.

Foi possível identificar que o papel do idoso na família não está vinculado às variáveis sexo e nível de escolaridade. Isso se explica a partir da inferência do conteúdo das entrevistas, que apresentaram expressões fortalecidas ou fragilizadas em ambas as variáveis. De tal modo, o papel do idoso dentro do contexto familiar depende de sua condição subjetiva.

Por meio de uma expressão mais ativa e fortalecida, esses idosos demonstram desempenhar a função de protetores dos filhos e descendentes, bem como, influenciar diretamente, por meio da transmissão de seus valores, na educação familiar. Enquanto que os aspectos fragilizados do discurso destes idosos apresentam dificuldade em lidar com as perdas e mudanças sofridas, como é o caso do afastamento dos filhos e a morte de familiares. Neste sentido pode-se inferir que as representações sociais desses idosos sobre família estão pautadas conforme o sentido que eles possuem do próprio processo de envelhecimento: na velhice ativa e autônoma a família precisa de ser protegida e educada; na velhice fragilizada o sentido de família está relacionado a perdas.

Completando, pode-se assegurar o apoio da família como primordial para amparar o idoso do risco de um sofrimento psíquico, e assim, possibilitá-lo a readaptação, elaboração e enfrentamento de possíveis perdas sofridas na velhice. Esta fase da vida requer cuidados e atenção, dos familiares para permitir a valorização, inclusão e fortalecimento do idoso nos contextos familiar e social, e, por conseguinte, uma melhor qualidade de vida. Convém ressaltar ainda, que apesar dos aspectos fragilizados, os idosos podem contribuir para educação intergeracional, a partir de suas experiências e valores construídos em suas trajetórias de vida.

Os dados apresentados podem contribuir para se repensar o papel do idoso no núcleo familiar na sociedade contemporânea. Contudo, o fato das entrevistas terem sido norteadas para identificar somente os elementos explicitados pelos participantes, pode-se apontar este procedimento como limitação desse estudo. Sendo assim, sugere-se para maior aprofundamento sobre o tema, outros estudos que considerem representações sociais implícitas ou mascaradas sobre o fortalecimento do idoso, bem como programas que busquem o fortalecimento dos vínculos familiares. Este procedimento poderia facilitar a inter-relação familiar, para lidar tanto com os idosos ativos, quanto os idosos fragilizados existentes na sociedade contemporânea.

Referências

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Recebido: 10 de Dezembro de 2016; Aceito: 30 de Março de 2017

Correspondencia: Janaína da Silva Gonçalves Fernandes. Centro Universitário FIEO - UNIFIEO. Brasil. Correo electrónico: janainagoncalves80@yahoo.com.br

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