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Introdução
A inclusão de mulheres no mercado de trabalho é um assunto recorrente que vem crescendo com o passar dos anos, o que gera impactos em esferas sociais e econômicas, além de trazer debates sobre relações de gênero, a qual se destacam também a diferença salarial e o grau reduzido de oportunidades dadas às mulheres de ascensão profissional (Paz, 2015; Prado, 2018; Valadares et al., 2022; Minasi, Mayer e Santos, 2022).
Na perspectiva da divisão sexual do trabalho, o trabalho reprodutivo aumentou a dependência da mulher, fazendo assim que o Estado e os empregadores usassem do salário masculino como forma de conduzir o trabalho das mulheres (Federici, 2019). Continuando nesta perspectiva de ordem marxista, Hirata (2021) amplia esta discussão e o insere na categoria a qual ela denomina como “trabalho do cuidado”, onde é abordado que a divisão sexual do trabalho sustenta não só a força de trabalho, mas também a de reprodução social.
Associando-se às contribuições de Federici (2017, 2019) e Hirata (2021), Hooks (2019) amplia esta perspectiva ao nortear que a libertação de mulheres está relacionada ao reconhecimento do poder constituinte da sociedade pela descriminação sexista que elas sofrem a partir de mecanismos de opressão oriundos da estrutura patriarcal, base importante da constituição do sistema capitalista de produção. Apontando o reconhecimento dessa força, Hooks (2019) destaca que o exercício desse poder é o passo constituinte e importante para as mulheres no processo de libertação e, consequente, da ruptura da divisão sexual do trabalho.
Portanto, é recorrente a necessidade de entender que o sexismo tem parcela nesse debate. Desta forma, um conceito ilustrativo que é utilizado para remeter a essa problemática em relação à carreira profissional e ao sexismo é o “glass ceiling” ou “teto de vidro”, entendido na análise bibliométrica empreendida neste artigo como um fenômeno social (Minasi, Mayer e Santos, 2022), o qual se tem o primeiro registro e esforço de conceituação no ano de 1986 em uma reportagem do Wall Steet Journal com o título de “The glass ceiling: why women cant seem to break the invisible barrier that blocks them from the top jobs”, relacionando a maior dificuldade de ascensão das mulheres na hierarquia organizacional empresarial por conta do seu sexo (Botelho, Bölter e Scherer, 2019).
O conceito “teto de vidro” é utilizado para elucidar e ilustrar alegoricamente que a probabilidade das oportunidades das mulheres avançarem para cargos mais elevados na hierarquia organizacional é bem inferior em relação aos homens (Cotter et al., 2001; Elacqua et al., 2009; Carneiro et al., 2021). Entendendo, a escala hierárquica como uma escada, a subida é interrompida por um anteparo, um teto, o qual não se consegue ultrapassar, mas permite visualizar que há mais degraus acima até a chegada ao topo. A constatação empírica da divisão sexual do trabalho, a qual implica na configuração de barreiras que constituem em óbices para ascensão profissional de mulheres no âmbito corporativo vem progressivamente sendo objeto de estudo relevante no âmbito acadêmico, considerando o Norte Global e o Sul Global (Alatas, 2003; Dirlik, 2007) geopolítico da produção do conhecimento científico, conforme mostram os trabalhos de Grangeiro et al. (2021), Kataria, Kumar e Pandey (2021), Singh et al. (2023) e Veelen e Derks (2022). Connell (2012) tipifica o Sul Global como o conjunto de países marcados historicamente sob o jugo do colonialismo e do neocolonialismo e estruturados socialmente e economicamente através de marcos fincados em bases possuidoras de elementos promotores de grandes desigualdades em padrões de vida entre seus habitantes.
A partir da revisão de literatura, observa-se um crescente interesse acadêmico no estudo do fenômeno do “teto de vidro” e a sua relevância temática e importância social para estudos de gênero no campo dos estudos organizacionais.
Posto isto, o artigo em questão propõe-se a analisar a produção acadêmica sobre o “teto de vidro” através de uma pesquisa bibliométrica utilizando metadados do portal Web of Science, permitindo um mapeamento temático e geopolítico do fenômeno em questão, considerando que ele é a base para o cálculo do Journal Citation Reports (JCR), considerado no Brasil a principal métrica de mensuração do impacto das produções acadêmicos, permitindo também inferências sobre a internacionalização da produção nacional.
No entanto, a proposta de indicadores bibliométricos deve ser problematizada e não apenas ser tomada absolutamente como índices quantitativos, não passíveis à análise crítica, normalmente associada aos dados qualitativos. Para Barreto (2013), mesmo com as ressalvas apresentadas anteriormente, a bibliometria tornou-se o campo parametrificador da avaliação científica e indicador da estratégia a ser adotada para incremento do impacto mundial de autores, instituições e periódicos, sendo considerado para o autor um simulacro da campo da cienciometria. Isto torna claro que a mensuração em questão apenas foca os âmbitos da publicação e da citação. Dependendo da base de dados, o panorama torna-se mais problemático e crítico. No Brasil, esse processo assume características alarmantes para a capilarização da pesquisa científica, pois a pesquisa acadêmica urdiu-se praticamente ao avanço e crescimento da Pós-Graduação stricto sensu.
Metodologia
A estratégia desta pesquisa será a busca de referências bibliométricas (e consequente produção de indicadores) a partir do conceito “teto de vidro”, tendo como base os periódicos cadastrados na base de dados Web of Science. Para este estudo, será considerada a hipótese adotada pelos órgãos governamentais responsáveis pelo financiamento e avaliação da produção acadêmica, os quais posicionam esta base como a mais relevante em termos de impacto e internacionalização da produção científica brasileira (Barreto, 2013).
Para a confecção dos indicadores bibliométricos foram adotados os softwares R e Bibliometrix no intuito de revelar dados relevantes a partir das palavras chaves buscadas nos periódicos da base em questão, utilizada no dia 12 de janeiro de 2023.
A escolha do portal Web of Science deu-se pela amplitude em termos de número de revistas indexadas internacionalmente e das áreas de conhecimento abrangidas. Tal escolha é corroborada pelo fato de que, para fins de avaliação da qualidade das publicações dos Programas de Pós-Graduação no Brasil, adota-se a métrica JCR, calculada a partir do desempenho da revista em termos, dentre outros parâmetros, o número de citações em periódicos indexados pelo Web of Science.
O software R é uma linguagem de programação de código aberto e gratuito na qual é possível realizar diversas funções estatísticas e análise de dados (Barbosa, Gebert e Kist, 2019). Para a presente pesquisa, foram adotados o pacote Bibliometrix e a função Biblioshiny, ferramentas de código aberto e que possibilitam realizar apurações bibliométricas de análises quantitativas com dados reunidos em bases científicas por meio de interface gráfica baseada na web ou scripts.
Como critérios de inclusão e exclusão dos metadados, foram realizados os seguintes passos:
Busca por palavras-chaves: (“glass ceiling” or “ceiling glass”) and (“woman” or “women” or “girl”) and (“career” or “gender inequality”)
Tipo de acesso: Aberto
Ano de publicação: 1993 a 2022
Idiomas: Sem distinção
Tipo de documento: Artigo em periódico
Campos de metadado: Tópico (título, resumo, palavras-chave do autor e o Keywords plus)
Na base de dados da Web of Science foram encontrados 264 artigos entre os anos de 1993 e 2022. Após o refinamento dos dados colhidos, no intuito de eliminar trabalhos que adviram de forma redundante, chegou-se ao total de 204 artigos como input para o uso no software.
Análises bibliométricas e a crítica analítica
Nesta parte do artigo, pretende-se apresentar os resultados da análise bibliométrica e suas críticas. Ao longo da análise dos resultados, revela-se que tal análise necessita ser promovida através de lentes que não as tomem como essências. Estabelecer redes rígidas de recorrência e impacto entre periódicos e artigos acaba se tornando em um exercício de reforço dos procedimentos colonialistas da produção do conhecimento científico, conforme alerta Barreto (2013).
Os primeiros resultados após o uso do Bibliometrix foram sistematizados na tabela 1. Em síntese, ao todo, foram identificados artigos de 170 periódicos e 468 autores. Constatou-se também que 60 artigos possuem somente um autor e que o primeiro trabalho publicado é datado de 1993.
Analisando a evolução das produções cientificas ao longo dos anos, é possível perceber, com o auxílio das Figuras 1 e 2, que o tema começa a ser abordado ainda na década de 1990, mais especificamente no ano de 1993, tendo um incremento mais robusto a partir da década de 2000. Em específico, a partir de 2017, verifica-se uma escalada vigorosa de artigos referentes ao “teto de vidro”, o qual ainda se mantém.
Corroborando a análise sobre o crescimento do número de trabalhos sobre o tema nos últimos anos, identifica-se que, no ano de 2019, 28 trabalhos foram publicados, seguido pelos anos de 2021 (26), 2020 (24) e 2022 (18). No entanto, este número de trabalhos não representa necessariamente uma maior dispersão de países de origem dos periódicos em questão, mantendo-se o padrão das recorrências permanecerem nos países do Norte Global, além da incorporação de periódicos os quais, pela proposta de seus títulos, deveriam ser publicados nos países do Sul Global; fenômeno tal a ser discutido mais à frente.
Posteriormente, estabeleceu-se um ranking dos periódicos onde mais foram encontrados artigos sobre o tema nos periódicos indexados na Web of Science. A tabela 2 mostra que os periódicos que mais publicaram artigos nesta área são voltados a estudos de gênero (algo perfeitamente esperado): (i) Gender in Management, com 7 trabalhos publicados, e (ii) Gender Work and Organization com 4 trabalhos. Por fim, uma constatação que se verifica é que os periódicos listados e voltados a regiões do Sul Global (aqui, mais especificamente ao sudoeste asiático) são editados na Suíça. Isto é, o controle continua a mostrar sua eficácia. Independente do periódico, ele é publicado em países do Norte Global.
Contudo, observando os dados da tabela 3, estratificados através dos 10 periódicos com mais citações de artigos sobre “teto de vidro”, o número de artigos publicados sobre o tema e o número absoluto de citações a estes artigos, possibilita-nos inferências relevantes sobre o número de trabalhos e o alcance na comunidade acadêmica, mais uma vez apontando para a geopolítica da produção e difusão científica. Não necessariamente, o periódico que mais publicou trabalhos sobre o tema é aquele com maior número de citações. Pelo contrário, no caso em questão, a revista com o maior número de publicações, Gender in Mannagement, sequer encontra-se presente na tabela 2, representando que suas publicações no assunto possuem reduzido alcance no meio acadêmico.
Por outro lado, a segunda revista com o maior número de publicações, Gender in Mannagement, possui o maior número de citações, mas (aparentemente) difusa em quatro trabalhos. O aspecto intrigante deste levantamento é a revista Annals of Surgery (publicada nos Estados Unidos), a qual somente publicou um artigo sobre o tema, que foi o mais citado pelos periódicos inclusos na tabela 3, com um total de 301 citações. Isto é, estar presente na base Web of Science e sendo uma revista editada no Norte Global não significa propriamente a garantia de busca e leitura junto aos pesquisadores que publicam em periódicos desta base, o que nos possibilita inferir sobre todos os óbices que artigos publicados em revistas do Sul Global tem em serem lidos e utilizados como referências na comunidade acadêmica internacional (Barreto, 2013).
A tabela 4 apresenta os artigos mais citados pelos periódicos da base Web of Science, informando também a média de citações por ano (média aritmética do total de citações em relação à quantidade de anos decorridos do ano da publicação até o relativo à pesquisa bibliométrica em questão). Os quatro artigos mais citados não estão nas revistas relacionadas com mais artigos publicados sobre o tema (tabela 3). Somente o quinto artigo mais citado foi publicado em um periódico constante na tabela 3 (no caso, a revista Gender Work and Organization). Continuando a análise dos dados da tabela 4, apenas cinco estão em periódicos com maior número de artigos sobre o tema (tabela 3). A posição destes artigos são:
Esses dados permitem inferir que o elemento mais importante na escolha de um artigo para ser citado não é a revista, mas o artigo e seus autores em si. Cabe pontuar que há o peso da relevância de periódicos com afinidades mais refinadas ao tema em questão, porém dependente de quem publica, reforçando então os mecanismos coloniais da produção do conhecimento, agora voltados aos autores que se tornam cânones em determinadas temáticas, orientando a busca e citação de artigos. Esta constatação reforça um ciclo vicioso entre autores e revistas encontrados nas bases consideradas principais de periódicos científicos, localizadas em sua totalidade no Norte Global (Barreto, 2013; Del Vechio, 2017; Lander, 2015).
Mapeando os artigos publicados e seus autores, constata-se que três possuem maior número de artigos sobre “teto de vidro” (Derks, B.; Guillaume, C.; Pochic, S.). Os três artigos publicados por B. Derks trazem estudos nos âmbitos da psicologia social e gênero e coautorias com K. Faniko e N. Ellemers. Já os autores C. Guillaume e S. Pochic produziram os seus três artigos referentes ao tema com abordagem em trabalho e gênero. Diante do universo retratado pela análise bibliométrica, não há condições de se estabelecer uma linha temporal de avanços e recuos sobre o número de publicações em assuntos específicos sobre o tema “teto de vidro”. Consideramos mais proveitoso utilizar os dados fornecidos pela análise bibliométrica no que tange às perspectivas dominantes.
Para análise de conteúdo, optou-se pelo exame dos grafos, estabelecendo então uma perspectiva imagética para tal empreendimento, diferente do que normalmente é aplicado, por conta do alto grau de dispersão para o estabelecimento de categorias mais herméticas.
A figura 2 ilustra a ocorrência de duas perspectivas predominantes nos artigos sobre “teto de vidro”. Em azul e vermelho, a rede se desenvolve em assuntos comuns aos ambientes corporativos (como desenvolvimento de carreira e liderança) e seus desdobramentos psicológicos. Em verde e roxo, a rede se estrutura nos âmbitos da discriminação sexual. Com isso, o núcleo de debate sobre o “teto de vidro” conforma-se a partir da discriminação (e, consequente divisão sexual) de gênero e das consequências no ambiente corporativo, incluindo os aspectos psicológicos.
Considerando a filiação institucional do autor principal do artigo, mapearam-se os 15 países com mais autores dentro desse campo de estudo: Estados Unidos (54); Reino Unido (16); Espanha (13); Índia (10); Austrália (9); Itália (8); Holanda (8); Canadá (6); França (6); Turquia (6); Brasil (5); Alemanha (5); Suíça (5) e Coreia do Sul (4). Destes quinze países, apenas três (Índia, Turquia e Brasil) estão situados geopoliticamente no Sul Global, conceito cuja estrutura geral é delineada em Dirlik (2007) e refletida no âmbito acadêmico por Alatas (2003).
A produção cientifica de um país é um dado muito relevante em uma pesquisa bibliométrica, para que seja possível identificar onde e quem são os pesquisadores devotados à temática e suas redes de relação. Dessa forma, foi identificado que, pelo mapa cartográfico ilustrado na figura 3, há uma geopolítica epistêmica de base neocolonial (Lander, 2015). Dos quinze países como maior produção e redes de colaboração, apenas três pertencem ao Sul Global (Índia, Turquia e Brasil), sem qualquer produção científica em colaboração mútua na perspectiva Sul-Sul (Connell, 2012), estabelecendo-se apenas como países satélites epistemológicos na temática.
Esta posição periférica é corroborada ao se verificar o número de citações de artigos produzidos por país, considerando a filiação do autor principal. A tabela 5 mostra, por exemplo, que os três países onde se verificam os maiores números de citações no período analisado, foram os Estados Unidos (3046), Reino Unido (729) e Australia (561). No caso de países do Sul Global, o país mais próximo deste indicador é a China (156), mas com uma produção pequena, onde os autores locais se autorreferenciam e a participação internacional no fluxo de colaboração entre autores é periférica.
Mapeando esta rede de colaboração em forma de grafo, a figura 4 corrobora a análise até aqui empreendida. A exceção é a produção de colaboração Sul-Sul (no caso, Índia e Emirados Árabes Unidos). Porém, observando as ordens visuais de grandeza do grafo, esta colaboração possui grau de impacto irrelevante.
Findando a análise, fez-se o levantamento sobre as palavras-chaves adotadas pelos autores e os termos mais adotados no corpo dos artigos. Constatou-se que o termo “teto de vidro” é utilizado na pesquisa no título e nas palavras-chave, mas não é retornado recorrentemente ao longo do corpo dos artigos, conforme mostra a nuvem dos termos mais adotados no corpo dos artigos (figura 5). A análise do fenômeno aponta para o fato deste termo ser acionado no início dos artigos como forma de conceituação da situação problema analisada nos artigos.
Considerações finais
A pesquisa e a análise bibliométrica suportadas pelo uso do pacote Bibliometrix em conjunto com o Software R Studio identificaram que o tema “teto de vidro” possui relevância a partir do momento em que ele se torna objeto de investigação em diversos países com uma produção com alto grau de difusidade entre os periódicos indexados pela base de dados Web of Science configurando um panorama assimétrico entre as publicações oriundas e referenciadas de autores e periódicos situados nos países do Sul Global. Este panorama encerra por fomentar e reproduzir circuitos hegemônicos de fluxos econômicos globais e a ordem geopolítica mundial das potências, resvalando então na produção de conhecimento e com repercussão na geopolítica do conhecimento (Del Vechio, 2017).
Mesmo com este limitante da base de dados, o qual comprova a ineficiência do uso das chamadas bases de dados mundiais, com altíssimo grau de direcionamento na produção científica, os resultados ao menos mostraram que as preocupações basilares para o estudo do “teto de vidro” são as mesmas que as verificadas em artigos de revisão sobre o mesmo campo em produções científicas do Sul Global: a produção do “teto de vidro” no ambiente corporativo (público e privado) e suas consequências na divisão sexuais do trabalho, além dos efeitos na busca por capacitação para a tentativa de superação deste óbice, bem como das distorções psicológicas sociais. O problema não está na bibliometria, mas nas bases de dados consideradas relevantes para o estabelecimento de índices, os quais são adotados para mensurar os impactos desta produção e orientar a distribuição dos parcos recursos econômicos para os centros de pesquisa dos países periféricos e posicionados como subalternos epistêmicos.
Os resultados das análises bibliométricas evidenciaram um claro protagonismo de pesquisadores do Norte Global na produção intelectual sobre a temática “teto de vidro”. A base de dados dos periódicos indexados pela Web of Science acaba por corroborar este impacto da produção de pesquisadores situados nos países do Norte Global. Conforme observado ao longo do texto, pode-se concluir, neste caso, que as localidades dos autores e dos periódicos são as mesmas, pertencentes aos países situados no Norte Global. Este mesmo fenômeno ocorre quando se utiliza a base de dados SCOPUS (Kataria, Kumar e Pandey, 2021; Singh et al., 2023), outra que está no mesmo patamar da Web of Sciense.
Os desenhos das redes ilustradas ao longo do trabalho refletem isso, visto que o maior número de artigos publicados por país é de autores principais localizados no EUA, reafirmando as considerações postas por Nunes et al. (2021).
Retornando à questão da geopolítica epistêmica, não se pode simplesmente descartar o impacto, a produção a relevância da produção científica sobre o “teto de vidro” (bem como para outras temáticas) nos países do Sul Global (Botelho, Bölter e Scherer, 2019) Em primeiro lugar, conforme analisa Gingras (2016), faz-se necessário debater os marcos referenciais que estabelecem o impacto de uma produção científica. Eles não são monolíticos. Reduzir esta análise a métricas obtidas em uma base de dados internacionalizada cria vieses, de acordo com a origem dos periódicos que compõem o arcabouço de títulos. Sobre a dimensão e a relevância da produção científica de pesquisadores do Sul Global é imperativo na análise a inclusão de bases de periódicos de alcance regional e/ou acesso gratuito, como o Latindex, Google Acadêmico e o Directory of Open Access Journals (DOAJ), ampliando a capilaridade das redes de países a serem escrutinadas, bem como seu acesso pelos pares em todos os países, independente do montante de recursos destinados à pesquisa científica, que inclui, evidentemente, o acesso à produção acadêmica.
