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Lingüística
versión On-line ISSN 2079-312X
Lingüística vol.31 no.1 Montevideo 2015
Lingüística
Vol. 31-1, junio 2015: 25-37
ISSN 2079-312X en línea
ISSN 1132-0214 impresa
AS PEDRAS DO MEU LUGAR: UMA INCURSÃO NOS NOMES DE LUGARES COM ITÁ[1] NA AMAZÔNIA ORIENTAL
THE STONES FROM MY HOMEPLACE: AN INCURSION INTO THE NAMES OF PLACES CARRYING ITÁ THROUGHOUT THE ORIENTAL AMAZON
Raimunda Benedita Cristina Caldas
Universidade Federal do Pará - Campus Bragança-UFPA
José Guilherme dos Santos Fernandes
Universidade Federal do Pará-UFPA
O presente artigo discute relações semântico-discursivas nos nomes de lugares com Itá na Amazônia Oriental. Insere-se como parte de investigações linguísticas, cuja abordagem lexicológica pontua entre as demais investigações as relações interculturais dos litotopônimos nos contextos históricos e antropológicos dos povos formadores da região. A recorrência do nome Itá nas denominações de lugares na região da Amazônia Oriental é remetida à formação geológica do espaço, bem como à associação que a pedra – em Tupi-Guarani: itá representa na constituição lexical e cultural do povo formador dessa região. Os nomes selecionados, levantados em pesquisa de campo na região do Gurupi, entre a região do Pará e do Maranhão, foram analisados com respeito à origem e à motivação toponímica (Dick 1990, 1991), observadas como aspectos de interculturalidade nos estudos sobre esses nomes de lugares.
Palavras-chave: Litotopônimo ita, Amazônia Oriental, Motivação toponímica
Keywords: Litotopônimo ita, Oriental Amazônia. Toponimic motivation
This paper discusses semantic-discursive relations in names of places with the name Itá in Eastern Amazon. It is inserted within the domain of Linguistic research, whose lexicological approach is involved among the other investigations of intercultural relations of litotoponyms in historical and anthropological contexts of the peoples which formed that particular region. The recurrence of the name Itá in denominations of sites in the Eastern Amazon region is related to the geological formation of the area as well to what the word “stone” – in Tupi-Guarani: itá – represents in the lexical and cultural constitution of the peoples forming this region. The selected corpus, deriving from field research in the Gurupi region, located between the states of Pará and Maranhão, were analyzed with respect to their origins and to the toponymic motivation (Dick 1990, 1991), seen as intercultural aspects of the studies of these place names.
(Recibido: 31/1/14; Aceptado: 30/11/14)
1. Introdução
A região da Amazônia Oriental, considerada nesta pesquisa, abrange o território que compreende o nordeste do Estado do Pará e o noroeste do Estado do Maranhão. É certo que em se considerando sua totalidade, a Amazônia Oriental abarcaria todo o bioma a leste da Amazônia legal, o que implicaria em açambarcar, ainda, a metade ocidental do Maranhão, o sul e sudeste do Pará e o norte do Tocantins. Mas para fins desta pesquisa, interessa-nos o foco no Pará e no Maranhão, conforme as mesorregiões já aludidas, uma vez que é nesse espaço em que se intensificaram as relações interculturais entre indígenas e colonizadores europeus a partir do século XVII, pois por esse corredor se intensificaram as trocas entre Belém e São Luís, com finalidades econômicas e militares, o que moldou significativamente o espaço a partir de referências indígenas, pois estas etnias já habitavam quando os lusitanos aportaram nestas plagas, o que os forçou a utilizarem, entrementes sua língua, as referências, principalmente espaciais, dos que aqui já estavam.
Como forma de melhor se localizarem e realizarem trocas informativas acerca da terra, foi inevitável incorporar e interculturalizar ao sistema do colonizador as referências de quem era conhecedor ad hoc dessas paragens, os indígenas. Nessa área é marcante, em algumas localidades, a referência ao vocábulo litotopônimo[2] que envolve o elemento ‘pedra’ itá, geralmente compondo nomes com outros nomes de origem Tupi, podendo também haver, a partir deles, derivação com sufixos de origem portuguesa.
A diversidade de culturas estabelecidas entre o nordeste do Pará e o noroeste do Maranhão, por força de trânsitos e migrações das nações indígenas e depois pela acentuação dos contatos colonizadores, desde o século XVII, estabelecerá um primeiro amálgama cultural na Amazônia, o que faz da Amazônia oriental um imenso laboratório socio-histórico e cultural da região, no sentido de ter culturas em contato ou já permeadas, com suas construções discursivas narrativas e identitárias sedimentadas, e a constituição de seus saberes e fazeres há muito solidificada, mesmo que haja um constante processo de misturas, como cabe às culturas. Os litotopônimos são uma vertente dos contatos culturais e marcam uma memória arqueológica da região pelas palavras, e que, efetivamente, podem remontar a localização de sítios e espaços com traços da presença de uma história social e cultural da Amazônia.
Em relação à localização geográfica da região, a ‘pedra’, ao formar uma composição com outras palavras, também do vocabulário indígena, indica informações sobre a forma, tamanho, cor, estado. Nesse sentido, o presente estudo aborda a relação da litotoponímia com uma variedade de informações geográficas para denominar lugares de vilarejos que se reportam a itá. Considera-se que a motivação toponímica de nomes de lugares, que indica a natureza física está relacionada a fatos descritos da realidade geográfica e, portanto, traduz um caráter preciso e utilitário do lugar. Esse fenômeno civilizatório só é possível quando dá passagem do estilo de vida do ser humano do nômade ao sedentário, uma vez que ao se fixar mais duradouramente em um espaço, houve a necessidade de se marcar as referências de localização em dado território, seja com finalidade econômica, militar ou religiosa, daí a origem das práticas e saberes que marcam a cultura enquanto conhecimento acumulado e repassado por gerações.
Os indígenas, por mais migrantes que continuassem sendo, por certo atuavam em espaço circunstanciado, mesmo porque havia outras nações em seu entorno. Essa relativa circunscrição espacial, os levou a ter amplo conhecimento acerca das especificidades do território, e as litotoponímias auxiliaram a melhor se locomoverem e interagirem com a natureza para fins de sobrevivência. Neste particular, afirma-se por uma cultura própria dos indígenas, como conhecimento gerado pela transformação e adequação da natureza aos seus interesses históricos de existência, pois “a cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos”, uma vez que “o homem foi capaz de romper as barreiras das diferenças ambientais e transformar toda a terra em seu habitat” (Laraia 1997: 49-50). Evidentemente que o nomear passou a ser atitude básica nesse processo adaptativo e de transformação da natureza em conhecimento para fins de sobrevivência, sendo as litotoponímias parte desse processo.
Essa caracterização de cunho físico-descritivo ainda pode se estender aos significados de ordem intercultural, que se interpõem ao contato de línguas, especialmente à caracterização de elementos culturais inseridos na língua do povo responsável pela nomeação de um lugar. Os espaços descritos na toponímia da Amazônia oriental indicam que as pedras movimentam a composição do lugar quer pela paisagem, quer pelo atributo instituído a itá ‘pedra’ para se reportar ao metal e, por conseguinte, à moeda.
2. O litopônimo itá ‘pedra’
Os nomes de lugares de origem mineral costumam refletir em sua constituição mórfica a natureza dos solos que os constituem. Dizem respeito à constituição física, ambiental e genérica das regiões da terra, assim como às questões de ordem histórica significativas de um povo, de uma cultura (Dick 1987: 192).
Vale ressaltar que a pedra é marcante em diferentes culturas. De modo amplo, sua significação remete aos poderes divinos e imutáveis, por suas características de dureza e imutabilidade, mas sua solidez não significa ausência de vida, uma vez que há indicações, na mitologia grega, de que “os homens nascem, após o dilúvio, das pedras semeadas por Deucalião”. (Lexikon1992: 156). Além disso, os meteoritos podem ser considerados como pedras vivas, pois se movimentam do céu para a terra, caindo nesta ou tangenciando-a. De modo mais específico, como na referência grega, na “tradição bíblica, em função de seu caráter imutável, a pedra simboliza sabedoria. Ela é frequentemente associada à água. Assim, Moisés, na entrada e na saída do deserto, faz surgir uma fonte batendo em uma pedra (Êxodo, 17, 6). Ora, a água simboliza também a sabedoria” (Chevalier et al. 1997: 701). Na tradição islâmica, “o costume de jogar pedras sobre um túmulo é muito difundido. A lapidação é considerada um meio de se lutar contra o contágio mau do erro e da morte. Esse rito mágico se islamizou: traz-se, em oferenda simbólica, uma pedra a um marabu” (idem: 700). Na Mongólia, existe a crença de que uma pedra traz o vento, a chuva, a neve e o gelo, o que nos dá a dimensão da importância da pedra como mediadora entre homens e natureza, indiciando os tempos para cada atividade humana. Há de se ressaltar também as distinções entre a pedra bruta e a pedra talhada, significando, grosso modo, a distinção entre as ações do ser humano e de Deus
A pedra bruta é a matéria passiva, ambivalente: se apenas se exerce sobre ela a atividade humana, ela se envilece (...); se, ao contrário, é a atividade celeste e espiritual que se exerce sobre ela, com vistas a fazer dela uma pedra talhada acabada, se enobrece. A passagem da pedra bruta à pedra talhada por Deus, e não pelo homem, é a passagem da alma obscura à alma iluminada pelo conhecimento divino. (Chevalier et al. 1997: 697)
Ainda há significações distintas para a pedra, segundo Chevalier et al. (1997), considerando-se as pedras furadas (proteção contra os malefícios e portadora de fecundidade, virilidade), as pedras de fogo (simbolizada pelo raio, instrumento de vingança divina), as pedras preciosas (transmutação do opaco ao translúcido, ou seja, da perfeição à imperfeição). Por fim, em analogia com a pedra, podemos considerar a montanha como extensão desta. Na mitologia dos orixás, da cultura afrodescendente, existe o orixá das montanhas, Oquê, que participa da origem do mundo, juntamente com Olocum (orixá dos mares, mãe de Iemanjá), Olofim (o Deus Supremo) e Oraniã (orixá das profundezas da Terra); observe como surge Oquê, na narrativa
No princípio, Olocum reinava só no mundo. Olofim fez o mundo de água e Olocum o governava. No princípio, tudo era o mar, tudo era Olocum. E Olofim andava entediado com a vastidão sem fim das águas. Foi então que Oraniã, com a força que lhe dera Olofim, fez surgir do fundo do oceano o primeiro monte de terra, a primeira colina sobre as águas, a montanha Oquê. Oquê, que quer dizer montanha na língua dos antigos, surgiu das profundezas dos mares para o prazer de Olofim e desde então, além das águas, passou a existir a terra de Oquê. (Prandi 2001: 192)
A taxonomia de natureza física estabelecida para estudar as pedras é a Litotoponímia. Os Litotopônimos, em um primeiro sentido, são referentes aos minerais e/ou constituição do solo, abarcam a paisagem local, um lugar cercado por pedras, as quais assumem peculiaridades que podem individuar o reconhecimento de um espaço. No segundo sentido, alguns nomes de lugar relacionam-se a fatores socioculturais que se inter-relacionam, como é observado por Dick (1987).
De fato, os estratos designativos formados por ita atingem a uma amplitude considerável, levando-se em conta que o seu primitivo significado, pedra, viu-se acrescido de outro traço semântico, por força dos contactos inter-culturais, na época da colonização, dentro da fase linguística conhecida por “língua geral”. Ora, como os nativos, na época do descobrimento, encontravam-se, ainda, em período anterior ao do metal, sentiu o europeu necessidade de transmitir-lhe tal ideia através de um signo de seu próprio sistema de comunicação, fazendo-o, assim, por meio do elemento definidor do material mais resistente conhecido, no caso, a pedra, ou ita. (Dick 1987: 202-203)
É importante considerar, sobretudo, para uma melhor compreensão sobre que ângulo está sendo moldada essa visão, que esta análise parte de um levantamento sobre tais denominações que envolvam itá nas formas compostas presentes na região entre os rios Gurupi e Caeté[3], salientando aspectos do percurso histórico dos povos que habitam essa região. Por certo, a paisagem local envolve toda uma gama de valores das pedras no imaginário do povo da Amazônia Oriental. Nas áreas de demarcação indígena há lugar de pedra, como a denominação da aldeia Itarená, no Rio Gurupi, assim como, no espaço circunvizinho ‘pedra preta’ é Itapixuna. Tais denominações são visivelmente reconhecidas por moradores do lugar, o que torna peculiar a indicação, servindo de referência para quem deseja encontrar essa localização.
Cabe aludir que ao estudo da composição desses nomes há referência a conceitos dos acréscimos linguísticos atribuídos a itá ‘pedra’, a fim de representar os metais ouro, prata, aço, elementos incorporados ao conhecimento de povos indígenas e, por conseguinte, aos povos que formaram a região, bem como à extensão de significados atribuídos à itá ‘pedra’ no âmbito da tradução intercultural entre os povos que formaram o Caeté e a região do Gurupi.
Contudo, a formação litotoponímica com itá‘pedra’ não se restringe à Amazônia Oriental, recobre as informação toponímicas de várias regiões do Brasil. Assim, de acordo com Dick (1987), Teodoro Sampaio observa
tão grande é a tendência para denominação de lugares com o tema itá, que não raro acontece darem a esse radical a vocábulos que na verdade o não tem, provindo dai grande número de corruptelas, assim como Itaquaquicetuba por Taquaquicé - tuba, taquaral da espécie taquá – quicé; Itaguahy, por Taguá – hy, rio do tauá. (Dick 1987: 204)
3. O universo itá na Amazônia Oriental
A relação do homem com a paisagem imprime na cultura certa prototipicidade revelada por meio da toponímia de determinado lugar. O resultado da nomenclatura desses nomes diz muito sobre aspectos físicos e humanos que fazem parte de determinado espaço. Acrescenta-se que esses aspectos costumam ser revestidos de certa complexidade e imbricação. Ainda, acrescenta Dick (1990: 39), “a própria tipologia expressiva dos designativos poderia, entretanto, justificar, até certo ponto, uma configuração icônica, ou mesmo simbólica de sua significância”[4].
A descrição icônica corrobora que os nomes de lugares indicam as seguintes informações
Por serem iconicamente simbólicos[5], os nomes de lugares nos fornecem valiosas informações: i) aponta a origem histórica de povos antigos e a localização, com precisão, de sítios desaparecidos; ii) oferece descrições precisas de relevos, apontando paisagens que já tenham desaparecido em decorrência da ação antrópica ou da natureza; iii) indica a localização de nomes de rochas, estruturas do solo, locais antigamente minerados; iv) aponta um amplo corpus de nomes de lugares que se refere à fauna atual ou desaparecida; v) indica um vasto repertório popular que designa espécies vegetais; vi) fornece conhecimento sobre a vida religiosa, agrícola, etnológica, dentre muitos outros dados. (Santos et al. 2011: 11)
A referência ao litotopônimo ‘pedra’ com base Tupi itá contempla as mais variadas informações sobre os processos geomórficos sofridos pelas pedras, assim como os processos metafóricos sobressaídos das relações em diversos contextos, dos movimentos das águas sobre as pedras, valendo neste particular o ditado popular “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, da constituição morfológica do elemento pedra, assim como do ângulo de visão da pedra. Desse modo, é comum haver essa associação de pedra e água, ou mesmo dos diversos formatos, tamanhos e cores de pedras, emoldurando uma caracterização muito particular dos seguintes nomes de lugares – os topônimos.
Tabela 1: Topônimos com ita (na tabela)[6] [7]
O nome Itacupim é o representativo da imagem icônica da denominação, é parte do que se apresenta como fator físico preponderante. A paisagem dará pistas para os nomes rememorem o que se sobressai no lugar. Logo, a imagem das pedras perfuradas pela ação do tempo, frequente na toponímia desse lugar, na região adjacente ao Gurupi, redimensiona a observação dos aspectos característicos encontrados por essa nomeação. Nesse sentido, o nomear é motivado pelas características da paisagem da região. De acordo com Dick (1992: 18) “o que era arbitrário, em termos de língua, transforma-se, no ato do batismo de um lugar, em essencialmente motivado, não sendo exagero afirmar ser essa uma das principais características do topônimo”.
A imagem da pedra assemelha-se à do ninho, da casa de cupim, na qual os furos em torno do mineral desvelam a metáfora. A base de observação compõe a paisagem local e a destaca entre as outras pedras da região.
Em Itacupé é marcante o olhar acerca da morfologia das pedras. A localização está relacionada ao dorso das pedras, ou necessariamente, o lugar tem como referência as costas das pedras, nas quais se pode estabelecer o espaço pontual das rochas.
Itapixuna é o nome de um lugar no qual a caracterização da cor da pedra é o destaque. A composição evidencia que há rochas diversificadas, entretanto, nesse lugar a especificidade é a pedra preta. Enquanto, Itá-açu destaca o tamanho da pedra, a proporção entre as outras confere a açu a caracterização de grande.
Em Itabocal a discussão sobre a origem do nome é mais controversa, podendo haver uma ou outra narrativa do nome ser relacionado à taboca. Nesta acepção, no dicionário Houaiss (2010) o verbete ‘taboca’ apresenta a seguinte definição:
taboca: substantivo feminino
1 Rubrica: angiospermas.
m.q. taquara ('designação comum')
2 Derivação: por extensão de sentido. Regionalismo: Nordeste do Brasil.
vara de bambu usado para erguer a rede sobre os ombros, no transporte de pessoas
3 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: pesca. Regionalismo: Nordeste do Brasil.
vara de bambu usado para pescar.
A relação estabelecida com a origem do nome leva-nos a esclarecer que a literatura sobre os empréstimos de palavras de origem indígena tem sido bastante polemizada por estudiosos dessas línguas. Para confirmar que a discussão sobre a etimologia dessas palavras, por vezes, está distante das traduções encontradas nas obras de referência, basta conferir a observação de Rodrigues
As palavras de origem ameríndia é que têm estado expostas a maior número de especulações e, por isso mesmo, é com respeito a elas que reina maior confusão. Uma medida desta confusão dá o dicionário etimológico de nomes próprios de Antenor Nascentes (1). Sem propor étimos “próprios”, mas limitando-se a registrar e selecionar criticamente o que já existe, não pôde Nascentes fazer senão um registro de dúvidas, onde o leitor é advertido da implausibilidade da etimologia de quase cada verbete de procedência ameríndia. De facto a investigação etimológica das palavras brasileiras de origem indígena é ainda muito precária. Não só o dicionário de Nascentes teve de conformar-se a ser uma obra ineficiente quanto a essas palavras, mas muitos bons estudos linguísticos têm sido prejudicados na parte em que tratam dos brasileirismos, por apoiarem-se sem a devida cautela em trabalhos etimológicos que gozam de fama, mas que não podem gozar de muito crédito. (Rodrigues 1958:1-2)
(1) Antenor Nascentes, Dicionário etimológico da língua portuguesa, tomo II (Nomes próprios), Rio de Janeiro, 1952.
Embora persistam descrições controversas para origem desse topônimo, este estudo levou em conta a composição das rochas da região, parecendo plausível estabelecer a relação com a caracterização da pedra itá + boc = rachar + al = sufixo coletivizador do português, indicando lugar que concentra uma coleção de tais pedras. A base lexical, neste caso, aponta para esta análise. Também concorrem para esta análise exemplos de outras obras, como as de Barbosa (1951) e Tibiriçá (1984) que descrevem itaboca como:
Tabela 2: Itá em obras lexicográficas (na tabela)[8]
Em Itamataré associamos o nome de lugar à ideia do itá ‘pedra’ como metal, por sua vez relacionado atualmente ao lugar de negócios. Afinal, o construto do nome ‘matar’ pode ser a forma atual do empréstimo metal, do português, adaptado à forma metar, usada pelos falantes do Tupí[9], que pode ser equiparado ao metal, moeda corrente, cujo nome é bem conhecido entre povos indígenas na região do Gurupi. Nesta região tamataré é tradução para ‘dinheiro’.
Para que a investigação sobre o nome Itamataré pudesse ser elucidativa, foi necessário retomar o método de formação do vocábulo a partir das seguintes constituições: (1) semântica: representação icônica, que diz respeito à semelhança entre a imagem do “real” com as qualidades com que se quer estabelecer semelhança; (2) morfológica: as palavras são compósitas de elementos locais, como ita = ‘pedra’ e (t)e = ‘de verdade’ e um elemento estrangeiro: ‘metal’; (3) fonológica: o elemento estrangeiro metal passou pela adaptação fonológica das palavras locais, assim, em ‘metal’, /l/, inexistente em Tupí, é adaptado a /r/ e há assimilação vocálica da última vogal /a/ para a primeira vogal, como se pode observar: metal < metar < matar. Este percurso foi retomado por meio de outro nome, já descrito por viajantes, o qual mantinha a base [matar-] com o sufixo ‘rana, que indica o similitivo, dado de Cunha (1978), conforme indicação do nome na tabela 1, em nota de rodapé. Nessa acepção, metar pode dizer respeito tanto a ‘metal’, ‘armamento’, quanto como moeda corrente.
Bastante singular é o nome Itamoari, lugar às proximidades de Itamataré. É conhecida comunidade quilombola, portanto, sem muitas informações sobre a base lexical do nome do lugar. Os estudos sobre a área identificam a identidade desse povo. (Marin et al. 2009)
Havendo poucas informações a respeito da forma do topônimo Itamoari[10], a localidade Itamoari, em alguns mapas Itamauri, partimos para referência de Ribeiro (1996), na obra Diários Índios: os Urubus-Kaapor, com o nome Itamoary, conforme se pode acompanhar
Itamoary é também remanescente de quilombo. Teve seus tempos de riqueza, como Camiranga, quando as minas de Montes Áureos estavam sendo exploradas. Hoje é uma “taperada”, menos de dez casas habitadas e toda a gente vivendo de uns canteiros abertos na mata, a que chamam roças, e mal dão para mantê-los vivos e cobertos de farrapos. Uma das plantações a que mais se dedicam e com melhor resultado econômico, embora nessa microscópica escala gurupiense, é a maconha.
O velho Itamoary do mocambeiro Agostinho, que descobriu minas e trocou o que sua fantasia lhe inspirou por bom ouro e depois se tornou o centro produtor de um fumo que chegou a ter nome célebre, hoje dá mandioca e maconha. Bem pouca, aliás, mas como a maconha alcança cem cruzeiros por quilo e não custa plantar e colher, vai dando para o gasto e para o comércio. (Ribeiro 1996: 76)
De acordo com o trecho seguinte da viagem, Ribeiro (1996) evidencia a importância da pedra na composição paisagística do lugar, descreve o movimento das águas em uma região cercada por pedras, como se observa no trecho “Saímos de Itamoary (16) já às sete horas, porque logo adiante há uma corredeira violenta e os homens queriam atravessá-la com sol”. (Ribeiro 1996: 77)
Também há referência na obra ao lugar como ponto de comércio, descrito por um húngaro em Itamoray, como em “Itamoary é o melhor lugar desse rio pra se negociá. Sempre aparece argum oro pra compra e os garimpeiro dão argum movimento”. (Ribeiro 1996: 77)
4. O significado itá ‘pedra’ na relação intercultural Tupi x Português
No campo de estudos lexicais devemos considerar que as questões linguísticas estão intimamente relacionadas às de ordem cultural. Desse modo, convém que o levantamento desse estudo seja estabelecido com base de estudos interculturais, entendendo-se interculturalidade como a relação entre culturas mediante o diálogo e o reconhecimento mútuo de seus valores e modos de vida, no sentido de se alcançar a solidariedade criativa, sem necessariamente ocorrer a fusão das culturas.
A chamada para o levantamento etimológico interfere decisivamente no estabelecimento da tradução, especialmente por se tratar de culturas tão diferenciadas, como as em questão. O tratamento lexical comporta a equivalência apenas enquanto uma relação aproximada de intercâmbio, porém o estudo necessita de um aparato mais amplo, a fim de correlacionar conceitos, significados e formas que contemplem a compreensão estabelecida pelos usuários em contato. Assim
Para trazer ordem e segurança a este campo de estudos, deve-se rever caso por caso, palavra por palavra, mediante aplicação de seguros critérios etimológicos e, evidentemente, com conhecimento – não apenas do léxico, mas também da estrutura e da história – das línguas-fontes. Entretanto, começar pela revisão de tudo o que se tem publicado parece trabalho muito moroso e pouco compensador. O mais indicado é primeiramente estabelecer uma grande quantidade de étimos seguros, bem documentados. Um dos maiores defeitos metodológicos dos trabalhos existentes é a falta de documentação. Uma vez feita esta, poder-se-á rever criticamente o que já foi escrito sobre cada caso particular. Além disso, desde que se disponha de algumas centenas de étimos bem documentados, será possível deduzir as mudanças fonéticas que sofreram as palavras indígenas ao adaptar-se ao português do Brasil, e o conhecimento dessas mudanças servirá de base às hipóteses para reconstituição. (Rodrigues 1951: 2)
As palavras formadas por itá nesta mostra foram analisadas a partir dos critérios semânticos, morfológicos e fonológicos das línguas-fonte, cuja base assenta-se na documentação de línguas indígenas na região do Gurupi. Para fins de reconstituição do léxico e, por sua vez, de estrutura e história do tupí e do português tais palavras foram analisadas desde a observação da natureza, da organização dos conceitos até as adaptações fonéticas das formas das línguas em contato.
As formas incorporadas por empréstimo recebem adaptações de natureza fonética. Por exemplo, a forma itá pode sofrer mudança fonética e participar de processo compositivo e, com isso, sua tradução do tupi para o português em sua forma reduzida ta pode não parecer tão evidente, pelo menos como mostram algumas descrições de nomes de lugares, como Taquandeua, Caratateua. Se observarmos com atenção as obras lexicográficas que apresentam a forma itá, veremos a obscuridade da questão, a saber, embora mencionado em dicionário de língua portuguesa, não constam exemplos de queda no antepositivo itá, conforme é referendado no verbete do Dicionário Houaiss (2010).
ita- elemento de composição
antepositivo, do tupi i'ta 'pedra, ferro, p.ext., elemento que se caracteriza pela dureza', pode ocorrer sob a f. -ta, com mudança e ger. supressão da sílaba pretônica, constituída apenas de vogal; em voc. atestados no vern. do Renascimento para cá, entre os quais itaberaba, itabirítico, itabirito, itacuruba, itaimbé, itaipava, itajuba, itamembeca, itamotinga, itaoca, itapeba, itapecerica, itapicuim, itaquatiara, itaúba, itaúna
No caso particular do exame em questão, a relação intercultural contida na formação de nomes de lugares com o nome itá, de origem Tupi, na tradução para o português pode desvendar conceitos relacionados a inovações tecnológicas, como por exemplo, a consistência do nome itá ‘pedra’ é o signo representativo de conceitos de ouro, prata e aço, por exemplo. Assim, Itá também incorpora outros significados ao ser parte da denominação, uma vez que ouro e prata foram adotados como moeda. Dick (1987) indica na obra Vocabulário na Língua Brasílica (VLB)[11] vários significados associados a itá.
Desse modo, cogita-se, a partir dessa associação, que há valores econômicos incorporados à pedra. Nesse hibridismo português + indígena ocorre o acréscimo de novas informações a partir da própria língua brasílica. Do mesmo modo, os valores econômicos são indicados pelos jesuítas pelo viés da religião, uma vez que os metais são categorizados como partes do pecado original e a tradução cultural acompanha tais valores das inovações na formação dos nomes, conforme é registrado no VLB
Num primeiro momento, registrado no Vocábulo da Língua Brasílica (VLB), a introdução de elementos culturais europeus realizou-se, como se afirmou, através dos próprios significantes indígenas, semanticamente diversificados. Aos primeiros termos, adicionaram-se acepções novas, ou diferentes substâncias de conteúdo, que atendessem mais de perto aos fatos culturais em aquisição. Citem-se, como exemplo, estas incorporações ideológicas:
Pecado original – Itâ (VLB) – pedra (sentido incorporado ao da pedra, material mais duro conhecido pelo índio que ainda não atingira a idade dos metais). Tal incorporação originou uma serie de compostos, traduzidos nos seguintes exemplos:
Aço - It’-eté - ferro excelente
Chumbo - Itá-membeka - metal mole
Estanho - Itá-jyka - metal flexível (Dick 1987: 108)
A questão que se interpõe nesta análise é acepção de itá ‘pedra’ destituída do conceito básico de elemento duro para assumir valores monetários dos elementos metálicos e de sua forma e importância, como ocorre com Itamataré.
Do mesmo modo, é fácil compreender que o nome Itajúba jará e Itâ rerú são traduzidos no Dicionário Anônimo (1896) como ‘homem rico’ e ‘tesouro’, respectivamente. Recobrem-se nesse universo traduções para itá que incorporam nas novas formas novos valores, como nos exemplos: itá: pedra = ferro = metal; itaiuba: pedra amarela = ouro = moeda = dinheiro; itaiutinga: ouro branco = prata; itaiunema: ouro (ou moeda) fedorento = cobre; itaiyka: pedra rija (mas maleável) = estanho; itamembeka: pedra mole = esponja = chumbo; itanema: pedra fedorenta = cobre. Assim como, itâitinga também consta com a tradução para ‘pedra mármore e toda a semelhante’ (VLB).
Câmara Júnior (1998: 104-105) assegura que o empréstimo imprime ações de traços linguísticos diversos do sistema tradicional. Um fator preponderante nessa relação é o condicionamento social ocasionado pelo contato entre povos de línguas diferentes. Esse condicionamento pode ocorrer por coincidência ou por contiguidade geográfica, ou, à distância, por meio do intercâmbio cultural. No caso da contiguidade geográfica ocorrem os empréstimos íntimos e a língua que fornece o empréstimo constitui o substrato, um superstrato ou um adstrato.
Portanto, o empréstimo linguístico configura-se quando emprestamos uma palavra ou traço linguístico de outra língua. E, nesse caso, esse traço ou palavra não fazia parte do inventário da língua que emprestou.
Outro aspecto imprescindível para a compreensão da tradução intercultural diz respeito à compreensão e conhecimento acerca das formações das palavras. A composição, por exemplo, traduz o intercâmbio de formas, que seguem uma constituição morfossintática na língua de origem do vocábulo. Rodrigues (1951) chama atenção para esse particular
Um dos aspectos do Tupi antigo mais importantes para quem quiser dedicar à investigação etimológica, é sem dúvida o processo de composição nesta língua predominantemente incorporante. De igual importância é, também, a derivação por meio de afixos; [...]
A um composto por incorporação do epíteto[12] pode incorporar, ainda, outro epíteto, que qualifica o composto anterior como um todo; p. ex.: t. itá I “metal + t. iúb I “amarelo” = itáiúb (aspecto nominal itáiúba “metal amarelo, isto é, ouro, dinheiro")+ t. ting I “branco” = itáiutínga, “dinheiro branco, isto é, dinheiro de prata (lit. “metal-amarelo branco). (Rodrigues 1951: 7-8)
5. O universo itá com a abundância prevista pelo sufixo -teua ~ -deua
Outro aspecto característico de lugares do Gurupi e adjacências é a quantidade de topônimos formados com o sufixo -teua ~ -deua, sufixo que designa abundância. Nesse universo também estão as pedras, as quais remetem à noção antes mencionada neste artigo, reafirmando a indicação de haver muitas rochas, presentificadas na formação de compostos com a forma sufixal -teua ~ -deua, ficando esta última forma sonora em virtude da raiz terminar em vogal nasal, também de natureza sonora.
A referência à abundância do elemento ‘pedra’ demarca a geomorfologia da região. As pedras influenciam nos ambientes, tanto pela extravagância do elemento, quanto pela exuberância e peculiaridade do local. Destacamos no quadro a seguir três lugares em que há abundância dessas pedras.
Tabela 3: Topônimos com itá + -teua ~ -deua (na tabela)[13]
Itapuriteua traduz-se como lugar de muitas cachoeiras, estas carregam na base lexical do nome itá ‘pedra’ o papel designador de movimento, no qual a água pula, ferve na pedra. A peculiaridade do local confere o cenário cercado por quedas d’água.
Os elementos naturais reunidos costumam ser associados, identificados nas localidades em questão ainda que por relação metafórica, como é o caso de Caratateua. Essa associação ao nome do lugar conduz à extensão de significados atribuídos a observações sobre esse lugar. Assim
Para nós, os nomes deveriam sempre consignar uma carga sugestiva, suficiente o bastante para imprimir ao local que identificam uma característica própria ou uma nota peculiar, cujas razões fossem de fácil apreensão. Quantas vezes um simples termo descritivo pode vir a significar mais que determinadas construções linguísticas, distantes do falar do homem comum. E essa “marca” inconfundível de adequação a um lugar que conferirá ao designativo a qualidade de “topônimos”, em sua mais pura acepção. Consequentemente, as áreas toponímicas daí oriundas serão muito mais facilmente detectadas, vindo a se constituir em elementos seguros de estudo, não só de uma época como das concepções nela dominantes. (Dick 1987:75)
Em Taquandeua a peculiaridade diz respeito à consistência das pedras, bem como à sua coloração. Devido à transformação fonética sofrida pela composição de itá + cuã + deua, na qual a supressão de i- em posição pretônica, a forma ta conserva a constituição do nome ‘pedra’.
Tabela 4: Itaquá em obras lexicográficas
Considerações
Os lugares levantados neste estudo intercruzam informações sobre culturas diversificadas, as quais, em decorrência das diferentes etnias que povoaram a região, formam um cenário pelo qual cultura e história ‘rolaram’ como pedras. Nesse sentido, depreende-se que a mistura de culturas se reflete na toponímia, esta nem sempre conhecida ou apreciada sob a investigação de quem reconhece no nome do lugar as propriedades atribuídas por quem o nomeou. E pode-se afirmar que a toponímia se configura como importante nuance de processo intercultural, pois a nomeação implica, em nosso caso, em referência de identidade dos povos em contato linguístico (Diez et al. 2011).
Os topônimos cruzam informações históricas na identidade do local e para que a pesquisa da toponímia evidencie esse cuidado, a experiência com as pedras, nos lugares com Itá levou-nos a muitos caminhos, dentre os quais a buscar informações nos escritos dos viajantes, dos missionários para que se pudesse reconhecer o mapa da região. Um ponto interessante deste estudo foi o acompanhamento dos mapas antigos, nos quais esses nomes constavam, e dos mapas atuais sobre municípios que compreendem Pará e Maranhão.
Em versão atual a pesquisa ainda encontra muitos desafios acerca do conhecimento sobre a região, sobretudo pela ausência de informações sobre certos nomes de lugares pesquisados, pelo menos no que diz respeito à motivação toponímica, pois nem sempre há explicação sobre o que levou o lugar a ser nomeado, bem como ciência de que o nome seja do conhecimento dos moradores desse espaço. Acredita-se que a busca pelo conhecimento sobre a história do lugar seja capaz de nos informar um pouco mais sobre essa região, logo se constitui como fundamental na apreensão e conhecimento para o Projeto Vozes da Amazônia Oriental[14]. A toponímia é um dos aspectos que evidencia a identidade, a memória e o saber nos diversos contextos da interculturalidade.
Referências
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[1] O acento gráfico na palavra Itá indica a sílaba tônica a fim de evitar a tendência à leitura com intensidade na penúltima sílaba, como em português.
[2] Na taxonomia de Dick (1990) os litotopônimos dizem respeito à denominação física, de natureza mineral, constitutiva dos solos e rochas existentes numa dada região.
[3] A região do Gurupi, na fronteira norte dos estados do Pará e Maranhão, é historicamente dividida em dois domínios geocronológicos (Rb-Sr, K-Ar): um paleoproterozóico (Cráton São Luís), outro neoproterozóico (Cinturão Gurupi). Dados geocronológicos em zircão (evaporação de Pb), recentemente disponibilizados, além de dados inéditos aqui apresentados, contemplam a maioria das unidades litoestratigráficas e litodêmicas regionais e, juntamente com poucos dados de Sm-Nd em rocha total, mostram ser o período entre 2,0 e 2,2 Ga a época de formação da quase totalidade das unidades rochosas (juvenis ou não). Nas proximidades da Zona de Cisalhamento Tentugal tornam-se fortemente miloníticos, o que levou Pastana (1995) a considerar essa porção muito deformada e aflorante no domínio Gurupi como outra unidade (Tonalito Itamoari). Visto que a única diferença é o grau de deformação, essas rochas são, neste trabalho, consideradas como parte da Suíte Tromaí. (Klein et al. Síntese geológica e geocronológica do Cráton São Luís e do Cinturão Gurupi na região do Rio Gurupi (NE-Pará/NW-Maranhão) Geol. USP, Sér. cient. v.3 São Paulo ago. 2003)
[4] "Por mais que a autora, aqui, utilize os termos ícone e símbolo com "certa" sinonímia, gostaríamos de lembrar que na semiótica peirciana estes termos são distintos, mesmo que complementares. Nesta lógica, por ícone entende-se o signo que estabelece relação de semelhança ou analogia com o objeto, ser ou ideia representados; já o símbolo se constrói a partir da relação de convencionalidade e arbitrariedade entre o signo e o objeto, ser ou ideia que representa".
[5] Novamente símbolo e ícone são tratados de modo complementar pelas autoras.
[6] No Dicionário histórico das palavras portuguesas de origem Tupí de Cunha (1978) Tamatarana. s.f. Var.: 6-7 tamotarana, tamatarana, 7 tamoatarana [< T. * itaetarana < ita ‘pedra’ + etara ‘metara’ + rana ‘semelhante’ ~ cp. METARA].
[7] Ribeiro (1996) menciona o lugar Itamoary.
[8] Na Morfologia do verbo tupi, de Rodrigues (1953) a indicação de aspectos situa o verbo plural pela reduplicação monossilábica do tema, obtém-se um verbo plural, que significa a realização múltipla do processo, ou sucessiva ou simultaneamente. Assim a repetição de -bo indica o aspecto frequentativo -boboca significa rachar-se em muitas partes.
[9] Adotamos a convenção de acento em Tupí para marcar a sílaba tônica.
[10] “Itamoary teve as terras demarcadas e tituladas em 1998, abrangendo 5.037,7 ha, fato político que mobiliza Camiranga e Bela Aurora a rever o modelo de titulação. Ambas estão confrontadas com um sistema de apropriação da terra e de usufruto dos recursos que se revelou desarticulador das estruturas sociais e culturais originadas da formação de povoados em terras de preto”. (Marin et al. 2009)
[11] Vocabulário na língua brasílica, 2ª Ed. revista e confrontada com o Ms. fg. 3144 da Biblioteca Nacional de Lisboa, por Carlos Drummond. 1º vol. (A-H), Boletim nº 137 da Faculd. de Filos. Ciências e Letras da Univ. de S. Paulo (Etnografia e Tupi-Guarani nº 23), S. Paulo, 1952; 2º vol. (I-Z).
[12] Na incorporação por epíteto, o tema do adjetivo segue o do substantivo ou do verbo que ele qualifica, com o qual constitui um todo que se comporta como qualquer substantivo ou qualquer verbo simples. (Rodrigues 1951: 7)
[13] Na Morfologia do verbo tupi, de Rodrigues (1953) a indicação de aspectos situa o verbo plural pela reduplicação monossilábica do tema, obtém-se um verbo plural, que significa a realização múltipla do processo, ou sucessiva ou simultaneamente. Assim a repetição de -bo indica o aspecto frequentativo -boboca significa rachar-se em muitas partes.
[14] Projeto integrado do Curso de Letras da UFPA, que reúne pesquisadores do Campus de Bragança e de Castanhal, cujo propósito é estudar, de modo interdisciplinar, a região da Amazônia Oriental.