O bullying se tornou nos últimos anos um problema de saúde pública por afetar crianças e adolescentes em idade escolar, acarretando sérias consequências a saúde. Este fenômeno se constitui como uma subcategoria de violência, caracterizado por ações comportamentais intencionais de cunho agressivo e repetitivo e havendo assimetria de forças (Olweus, 2011, 2013). O bullying é um fenômeno prevalente em todo o mundo, por exemplo, um estudo realizado em 65 países identificou uma prevalência de 32,03 % (Man et al., 2022). Nessa linha, um estudo de revisão identificou que no Brasil as taxas de envolvimento com bullying chegam a 49,9 % para vítimas e 34,9 % para perpetradores (Garaigordobil et al., 2019).
O bullying pode ser entendido a partir da perspectiva do abuso de poder físico ou psicológico entre pares que é manifestado por meio de comportamentos e ações que envolvam prepotência e dominação pelo agressor e sentimento de impotência, medo, raiva, humilhação e submissão pela vítima (Olweus, 2013; Walters, 2020). Especificamente no contexto escolar, as ações ocorrem por meio de comentários maldosos, agressões físicas, exclusão social dos pares, apelidos, humilhação, dentre outras formas que podem afetar negativamente a vida acadêmica das vítimas (Granado et al., 2021; Hutzell & Payne; 2018). Em suma, o bullying pode ser caracterizado seguindo três critérios, a saber: ações comportamentais agressivas e propositalmente nocivas; praticadas de modo persecutório e repetitivo; estabelecidos por meio de uma relação entre pessoas de modo desigual, caraterizado por dominação (Monteiro et al., 2017; Olweus, 1994, 2011).
Ademais, as práticas de bullying podem caracterizar-se como diretas (e.g. insultos, apelidos, comportamentos agressivos, dentre outros), que pode ser subdividido pelas agressões físicas (aqueles relativos a ameaças ou contato físico direto) e verbais (no qual o perpetrador evoca comentários pejorativos com o intuito de difamar a imagem da vítima e (Cho & Lee, 2018). Já de maneira indireta, pode se manifestar de através do bullying relacional (exclusão e isolamento de uma pessoa do grupo e disseminação de fofocas de modo a prejudicar a imagem da vítima) (Granado et al., 2021; Kennedy, 2019) e do cyberbullying (considerado por alguns autores como um tipo de bullying que ocorre em ambientes virtuais) (Kennedy, 2019; Walters, 2020; Xie et al., 2023) que surgiu com advento da tecnologia da informação.
Na prática do bullying, observam-se diferentes atores socias que são caracterizados como: a) autores/perpetradores, aqueles que só praticam o bullying (Chicoine et al., 2021); b) aqueles que sofrem e são alvos do bullying, ou seja, as vítimas; aqueles que sofrem e praticam, caracterizados como como vítimas /perpetradores de bullying; e por fim, as testemunhas que convivem no ambiente onde a prática ocorre, presenciando-a, mas não sofrem e nem praticam bullying (Palomares-Ruiz et al, 2019; Zych et al., 2020).
Estudos prévios apontam possíveis consequências do envolvimento com bullying a exemplo de: diminuição do rendimento escolar, agressividade, automutilação, depressão, dentre outros problemas de ordem individual e relacional (Bokhari et al., 2022; Hutzell & Payne, 2018). Por exemplo, Santos et al. (2015) investigaram fatores relacionados ao bullying na percepção de professores e alunos do ensino fundamental e identificaram quatro categorias de consequências do bullying: aspectos físicos, aspectos psicológicos impactos na aprendizagem e problemas interpessoais. Além disso, tem se verificado que os efeitos do bullying vivenciado na infância e adolescência podem se estender por anos, chegando até a vida adulta (Monteiro et al., 2020; Nikolaou, 2021; Ttofi et al., 2011).
Tais achados evidenciam a gravidade dos impactos causados por esse fenômeno. No contexto do presente estudo cabe depreender maior atenção aos aspectos relativos à depressão que compreende a perda do interesse e prazer na realização das atividades cotidianas, seguido pela baixa autoestima e pelo sentimento de tristeza e em casos mais graves comportamento suicida (Babae et al., 2021; Ceballos-Ospino et al., 2019). Essa definição corrobora com o que é apontado pelos manuais diagnósticos como a CID-10 (OMS, 1994) e o DSM-5-TR (APA, 2023) que apontam alguns sintomas relacionados a depressão como humor deprimido, vazio ou irritável, seguido de alterações somáticas, perda de prazer e energia.
Cabe salientar que a depressão se apresenta como um dos transtornos mais comuns na população adolescente (OMS, 2019). Uma revisão sistemática realizada com 23 estudos e dados de 57.927 crianças e adolescentes identificou uma prevalência de depressão em 29 % da amostra (Ma et al., 2021). Ademais, deve-se considerar que a depressão nessa população é motivo de preocupação, tendo em conta que os sintomas são duradouros e causam prejuízos no processo de desenvolvimento humano, afetando várias funções e provocando danos psicossociais (Clayborne et al., 2019; Couto et al., 2021).
Diante do exposto, cabe acrescentar que a maioria dos estudos realizados não tem como foco de investigação as consequências do bullying para os perpetradores. No estudo de revisão conduzido por Lutrick et al. (2020) os autores investigaram a prevalência de sintomas depressivos em vítimas de bullying. Foram selecionados 17 estudos. Todos os estudos encontrados demonstraram relação entre vitimização de bullying e depressão em crianças e adolescentes. Além disso, a literatura destaca a relação bidirecional entre bullying e depressão, em que o envolvimento com bullying pode aumentar os sintomas depressivos o que pode deixar o indivíduo vulnerável a novos casos de bullying (Klomek et al., 2019).
Esses dados, evidenciam a necessidade de explorar as pesquisas científicas dos últimos anos que tem abordado como objeto de estudo a prevalência de depressão em perpetradores de bullying. Nesse sentido, a presente revisão busca responder a seguinte pergunta de pesquisa: qual a relação entre bullying e depressão em perpetradores de faixa etária infantil e adolescente no contexto escolar? Assim, o objetivo geral desse estudo é conhecer a relação entre perpetração de bullying e depressão em crianças e adolescentes no contexto escolar.
Materiais e Método
O desenho do estudo foi realizado através da estratégia mnemônica População, Conceito e Contexto (PCC), que auxilia na identificação dos principais tópicos da pesquisa (Parker et al., 2021). A partir da PCC definiu-se a pergunta de pesquisa desse estudo: em População elencou-se as crianças e adolescentes; o Conceito englobou a relação entre perpetração de bullying e depressão; e o Contexto publicações de pesquisas nos últimos 5 anos (2018-2022). Nesses termos, para atender a proposta do estudo foi desenhado o procedimento metodológico de revisão de escopo (scoping review) em consonância com o protocolo de Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR). Assim, a scoping review é um tipo de estudo que visa realizar um levantamento da literatura disponível sobre uma temática específica (Grant & Booth, 2009).
Fontes de informação
Para a etapa de busca na literatura foram estabelecidas as bases de dados: PsycInfo, Medline, PsycArticles e Scopus. Os artigos que não estavam disponíveis na íntegra foram solicitados diretamente aos autores através do Researchgate. A busca mais recente foi realizada no dia 03 de maio de 2022.
Estratégia de busca
A estratégia de busca utilizada foi: (perpetrators OR agressor) AND (bullying OR cyberaggression OR Cyberbullies OR bull*) AND (depression) AND (adolescente OR children) AND (educational OR school OR students).
Critérios de elegibilidade
Utilizou-se como critério de exclusão as publicações enquadradas nas seguintes características: teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso, capítulos de livro, estudos com participantes da amostra apresentando idade acima de 18 anos, revisões em geral e estudos de caso. Os critérios de inclusão foram: pesquisas que abordam diretamente o contexto escolar; estudos que falam da relação direta entre perpetração/perpetração-vitimização de bullying e depressão em crianças e adolescentes. Foi estabelecido também a coorte temporal em que os artigos foram publicados: últimos cinco anos (2018 a abril de 2022). O período de interesse justifica-se pela necessidade de averiguar o que tem sido publicado a respeito da temática na atualidade, sendo provável que as publicações de anos anteriores constem em outras revisões.
Seleção de fontes de evidência
O resultado das buscas foi exportado para o software Rayyan-Intteligent Systematic Review, especializado no tratamento de dados para estudos de revisão. Na primeira etapa da seleção foi realizado a exclusão dos artigos duplicados. Na segunda etapa, dois revisores avaliaram independentemente títulos e resumos. Após isso, o texto na íntegra dos artigos considerados relevantes ou pouco claros foram avaliados por dois revisores usando um formulário padronizado, as discrepâncias foram resolvidas por consenso ou por terceiros.
Itens dos dados e síntese dos resultados
Os principais dados extraídos foram nome dos autores, ano, tamanho da amostra, idade dos participantes, contexto do bullying (bullying tradicional ou cyberbullying), instrumentos utilizados para coleta de dados, tipo de estudo e país de origem. Os resultados foram apresentados conforme dois eixos temáticos: relação preditora e bidirecional entre perpetração de bullying e depressão e associações entre perpetração de bullying e depressão.
Resultados
As buscas foram realizadas em cada uma das bases de dados de acordo com os critérios supracitados, o que gerou como resultados iniciais 315 publicações, sendo 80 artigos pela PsycInfo; 146 artigos pela Medline e 86 artigos pela Scopus. Ao fim do processo de localização e filtragem dos artigos, observou-se que dos 315 artigos, 96 artigos estavam duplicados, e por esse motivo foram excluídos, restando 219 publicações. Após a leitura de títulos e resumos, e atendendo aos critérios de seleção do material encontrado, restaram 53 publicações científicas, 43 foram lidas na íntegra e 10 foram excluídas por estarem indisponíveis. Assim, 26 artigos foram considerados adequados para o estudo atual (Figura 1).
Os 26 estudos selecionados para análise foram selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade. A avaliação e síntese das informações referentes ao material da presente revisão serão demonstradas na Tabela 1 2 3.
No que diz respeito ao contexto de bullying, 9 estudos avaliaram especificamente o cyberbullying, 13 apenas o bullying tradicional (ou face a face) e 5 cyberbullying e bullying tradicional juntos. No que tange ao papel de bullying, selecionou-se estudos que tratam de dois tipos, perpetrador (exceto, Huang et al., 2021) e perpetrador-vítima (indivíduos que assumem os dois papéis; Chou et al., 2020; Le et al., 2019; Hong et al., 2019; Huang et al., 2021; Wu et al., 2021). Vale ressaltar que apenas 1 estudo (Huang et al., 2021) analisou apenas a perpetração-vitimização, todos os demais analisaram essa variável e a perpetração em conjunto ou apenas a perpetração.
Quanto ao tipo de estudo e de bullying, os estudos mostraram-se diversificados. Desse modo, no tipo de estudo, 18 são quantitativos, sendo que 17 são transversais e 1 caso-controle (Uçary et al., 2020). Ademais, 9 estudos são longitudinais (Turliuc et al., 2020; Wu et al., 2021; Walters & Espelage, 2018; He et al., 2022; Chicoine et al., 2021; Zhang et al., 2020; Le et al., 2019; Huang et al., 2021; Hong et al., 2019).
Com relação a origem dos estudos, identificaram-se diferentes locais: China (He et al., 2022; Huang et al., 2021; Tian et al., 2018; Wang et al., 2020; Wu et al., 2021; Zhang et al., 2020); Romênia (Boca-Zamfir & Turliuc, 2020; Turliuc et al., 2020); Estados Unidos (Benton et al., 2021; Walters & Espelage, 2018); Turquia (Uçary et al., 2020); Canadá (Chicoine et al., 2021; Holfeld et al., 2019); Espanha (Cañas et al., 2019; Estevez et al., 2019); Paquistão (Mansoor & Shahzad, 2020; Naveed et al., 2019); Itália (Donato et al., 2021); Taiwan (Chou et al., 2020; Hu et al., 2019; Liu et al., 2021) ; Suécia (Hellfeldt et al., 2020); Bolívia (Garaigordobil et al., 2020); Vietnã (Le et al., 2019); Coreia do Sul (Hong et al., 2019); País Vasco (Garaigordobil & Larrain, 2020).
Quanto as categorias de análise foram selecionadas duas: 1. Relação preditora e bidirecional entre perpetração de bullying e depressão; 2. Associações entre perpetração de bullying e depressão. Os detalhes podem ser analisados na Tabela 2.
Relação peditora e bidirecional entre perpetração de bullying e depressão.
Nessa categoria foram incluídos 10 artigos que avaliaram as relações bidirecionais entre perpetração de bullying na depressão e vice e versa: perpetração-vitimização predizendo depressão (Le et al., 2019; Wu et al., 2021); perpetração predizendo depressão (He et al., 2022; Liu et al., 2021; Tian et al., 2018; Turliuc et al., 2020; Wu et al., 2021; Zhang et al., 2020); depressão predizendo perpetração (He et al., 2022; Turliuc et al., 2020; Walters & Espelage, 2018; Zhang et al., 2020); depressão predizendo perpetração-vitimização (Huang et al., 2021).
Associações entre perpetração de bullying e depressão.
Nessa categoria foram incluídos 16 estudos que identificaram associações entre as variáveis: perpetração-vitimização e depressão (Chou et al., 2020; Hong et al., 2019); perpetração e depressão (Benton et al., 2021; Boca-Zamfir & Turliuc, 2020; Cañas et al., 2019; Chou et al., 2020; Donato et al., 2021; Estevez et al., 2019; Garaigordobil et al., 2020; Garaigordobil & Larrain, 2020; Hellfeldt et al., 2020; Holfeld et al., 2019; Hong et al., 2019; Hu et al., 2019; Mansoor & Shahzad, 2020; Naveed et al., 2019; Uçary et al., 2020; Wang et al., 2020).
Discussão
Muita atenção vem sendo dada a questão do bullying em crianças e adolescentes, nesse cenário, a relação entre perpetração do bullying e depressão se mostra relevante. Nos 26 estudos incluídos nessa revisão houve considerável variação nas medidas e resultados citados. Nas pesquisas, as análises de dados são quantitativas. Além disso, as amostras são, em sua maioria, de adolescentes.
A relação preditora entre perpetração e depressão se apresentou de forma bidirecional. A perpetração/perpetração vitimização como variável preditora da depressão, foi identificada (He et al., 2022; Le et al., 2019; Liu et al., 2021; Turliuc et al, 2020; Wu et al., 2021; Zhang et al., 2020). Esses dados estão de acordo com o modelo de risco interpessoal que em síntese aponta que o envolvimento com bullying leva a depressão (Krygsman & Vaillancourt, 2017; Ttofi et al., 2011). A depressão como variável preditora de perpetração/perpetração vitimização obteve resultados significativos (Huang et al., 2021; Zhang et al., 2020) e estão em consonância com o modelo orientado por sintomas, que afirma que primeiro os jovens ficam deprimidos para só depois se envolverem em bullying (Wu et al., 2021; Krygsman & Vaillancourt, 2017). Mas, apenas Zhang et al. (2020) identificaram relações bidirecionais significativas em um único estudo. Esse resultado é coerente com o modelo transacional em que perpetração/perpetração vitimização e depressão se predizem mutuamente (Kaltiala-Heino et al., 2010; Krygsman & Vaillancourt, 2017).
Outros dados relevantes são apontados nos estudos. He et al. (2022) identificou a perpetração como preditora de menores níveis de depressão e maior qualidade de sono. Isso pode ser explicado por um status positivo associado a perpetração (Palomares-Ruiz et al., 2019; Wu et al., 2021), que levaria a melhores índices de saúde mental (Valera-Pozo et al., 2021). No que tange aos papeis no bullying, apesar de a literatura distinguir vítimas de perpetradores, alguns autores afirmam que no decorrer do tempo os papéis no bullying tendem a se sobrepor uns aos outros (Demaray et al., 2021; Zych et al., 2020). Nesse sentido, Huang et al. (2021) identificou que a depressão é preditora da transição entre papéis de bullying.
A associação significativa entre perpetração/perpetração-vitimização de bullying e depressão foi identificada (Mansoor & Shahzad, 2020; Wang et al., 2020). Alguns estudos identificaram: maiores níveis de perpetração de cyberbullying associada a maior depressão (Cañas et al., 2019); maiores níveis de depressão em perpetradores quando comparados a não perpetradores (Garaigordobil et al., 2020; Hong et al., 2019); maiores índices de depressão em perpetradores-vítimas (Chou et al., 2020); maior depressão em vítimas quando comparados aos perpetradores (Donato et al., 2021; Estevez et al., 2019). Notadamente, existem pesquisas que evidenciam os efeitos à saúde mental nos indivíduos (Baier et al., 2018) em todos os papeis, quais sejam vítimas, perpetradores, perpetradores-vítimas e testemunhas.
Além disso, foram identificadas relações com outras variáveis: maior depressão em vítimas e perpetradores não heterossexuais quando comparados aos heterossexuais (Garaigordobil & Larrain, 2020); angústia no funcionamento psicossocial como variável mediadora entre perpetração-vitimização e depressão (Naveed et al., 2019); apoio social da família, amigos e professores reduzindo a probabilidade de sintomas depressivos em perpetradores-vítimas e vítimas (Hellfeldt et al., 2020). Esses resultados são corroborados em estudos que indicam relações entre o bullying e aspectos diversos como características familiares, transtornos psicológicos, sexualidade, gênero e dificuldades psicossociais que resultam em implicações diretas à saúde mental de estudantes (Gower et al., 2022; Luo et al., 2022; Nocentini et al., 2019; Ringdal et al., 2020).
Outras pesquisas reportaram níveis altos de perpetração de bullying em adolescentes com depressão. Foram encontrados níveis mais altos de envolvimento com bullying (Benton et al., 2021), vícios em internet e jogos virtuais em adolescentes deprimidos (Uçary et al., 2020). Na literatura, o uso problemático de internet é diretamente relacionado ao cyberbullying (Vessey et al., 2022) e variáveis como o desengajamento moral podem estar relacionadas (Maftei et al., 2022).
Dentre os estudos, incluídos nessa revisão alguns apontaram relações não significativas entre as variáveis de interesse (Boca-Zamfir & Turliuc, 2020; Chicoine et al., 2021; He et al., 2022; Holfeld et al., 2019; Hu et al., 2019; Le et al., 2019; Tian et al., 2018; Turliuc et al., 2020; Walters & Espelage, 2018; Zhang et al., 2020). Esses resultados podem estar relacionados a presença de variáveis intervenientes que podem impactar os desfechos como problemas de sono (He et al., 2022), regulação emocional (Turliuc et al., 2020), apoio social (Chicoine et al., 2021) e vitimização anterior (Walters & Espelage, 2018).
Conclusões
Este estudo, teve como objetivo realizar um estudo exploratório por meio de uma revisão de escopo com o intuito de conhecer a relação entre perpetração de bullying e depressão em crianças e adolescentes no contexto escolar. A pesquisa se mostra relevante pois apesar de haver revisões que abordam saúde mental e bullying (Hamm et al., 2015; Lutrick et al., 2020), nenhuma revisão sobre perpetradores e depressão foi encontrada.
A análise dos estudo revelou que perpetração de bullying e depressão se associam de diferentes maneiras, preditiva e correlacional. Além disso, questões sexuais e de gênero, angústia no funcionamento psicossocial e apoio social se apresentaram como variáveis relacionadas a esse contexto.
Esta revisão fornece informações importantes para profissionais da saúde e educação sobre a relação entre perpetração de bullying e depressão em crianças e adolescentes que podem ajudar a subsidiar estratégias de intervenção. Assim, esse estudo chama a atenção para a presença de processos de adoecimento psicológico no perpetrador de bullying. Nesse sentido, intervenções antibullying para perpetradores devem incluir estratégias para identificação e mitigação de sintomatologia depressiva. Por exemplo, propostas que incentivem o apoio social podem ser incluídas, visto que, a literatura aponta para seu potencial mitigador no envolvimento com bullying (Tzani-Pepelasi et al., 2019; Zych et al., 2021) e na depressão associada a perpetração de bullying (Hellfeldt et al., 2020).
Por fim, apesar das contribuições essa pesquisa não é isenta de limitações. Indica-se que os estudos não foram avaliados quanto a qualidade metodológica. Além disso, os dados não foram avaliados quanto ao impacto de variáveis intervenientes. Por fim, a maioria dos estudos utilizou medidas de autorelato que podem produzir vieses de resposta. Esses aspectos podem alterar a relação entre perpetração e depressão identificada nessa pesquisa. Portanto, esse estudo deve ser compreendido a luz de seu objetivo geral que foi realizar uma revisão exploratória sobre o tema. Nessa linha, sugere-se que outras revisões mais robustas (e.g., revisão sistemática e metanálise) sejam realizadas incluindo análise crítica dos estudos e a identificação de possíveis variáveis mediadoras e moderadoras da relação com vistas a avançar na compreensão do fenômeno.